sábado, 31 de março de 2012

Quinta-feira, 18 de abril

Quando acordei, pela manhã, Dominic estava sentado em uma poltrona escorado em uma mão, fitando o vazio.
— Dominic… Pensei que tinha ido embora. – Minha voz já melhorara.
— Eu sei… Você gritou meu nome, cinco vezes seguidas… – Ele sorriu ao olhar para mim.
Fiquei rubra e cobri minha cara com as cobertas.
— Ai, que vergonha! – Eu disse. Minha voz saiu abafada pelo som dos cobertores. — Você ficou aqui o tempo todo? – Eu descobri apenas os olhos.
Ele assentiu.
— Onde estão meus pais?! – Eu me levantei rapidamente da cama, até fiquei um pouco tonta.
— Senta aí! – Dominic pegou minha cintura e, suavemente, me sentou na cama. — Eles dormiram no quarto dos meus pais. Ângela também estava aqui, mas só entrou quando você dormiu.
— Onde ela está agora? – Eu a procurei pelo quarto.
— Foi buscar seu desjejum. – Ele voltou a assentar-se na poltrona.
— Por que não a impediu?! – Eu me levantei novamente.
— Emily… – Ele agarrou com firmeza meus braços descobertos e olhou profundamente em meus olhos. Seus olhos estavam negros, muito estranhos.
Fiquei com certo receio de contradizê-lo e sentei-me novamente.
— Não aguento mais ficar aqui! – Reclamei. — Quero ver o sol… – Fitei a janela coberta por persianas.
Ele se sentou na minha cama, bem pertinho de mim.
— Entendo que queira sair daqui e acho bom que não se sinta mal, mas tem que ficar de repouso. – Ele encarou minha feição cansada, com olheiras profundas de quem recém acordou de um sono reparador.
Ângela entrou no quarto.
— Trouxe isso aqui, acha que ela vai… – Ela se interrompeu ao ver-me acordada. — Acordou! Gosta de leite quente? Trouxe um pouco pra você! – Ela me entregou uma xícara, em seguida pegou do lado de fora, uma cesta de pães.
— Ângela, não precisava de tudo isso… – Eu sorri olhando pra o que ela trouxe. — Mas obrigada! – Eu sorri para ela, quando notei que ela havia baixado a cabeça.
Eu peguei um pedaço de pão e tentei beber o leite, porém fui interrompida pela intimidação visual de Ângela que me olhava curiosa.
— Querem? – Eu ofereci, sem jeito.
— Não obrigada, só queria saber se gostou! – Ângela sorriu um riso lindo.
Dominic não respondeu. Olhei para ele e ele acenou negativamente com a cabeça. Meus pais entraram pela porta do quarto.
— Querida! Já acordou! Que bom! Como se sente? – Meu pai sentou-se aos pés da minha cama.
— Estou ótima, pai. Obrigada.
— É bom que esteja acordada, meu bem! Eu estive tão preocupada! Mal dormi essa noite! – Minha mãe se aproximou de mim.
Depois que tomei meu café, Ângela deu um salto para perto de mim com mais uma caixa misteriosa.
— Uma coisinha! – Ela exibiu seus dentes brilhantes e brancos.
— Nossa! É meu aniversário e eu não sabia? – Eu ri e ironizei.
— Vai! Abre! – Dominic sorriu delicadamente.
Abri a caixa preta com um laço dourado em cima. Arregalei os olhos. Era um lindo vestido quadriculado com cores diversas dentre elas vermelho, cinza, laranja e preto. Parece não fazer sentido, mas as cores na roupa ficaram muito harmoniosas. Quando tirei o vestido da caixa, mais um pacotinho caiu. Dominic juntou-o para mim e me entregou. Abri; era um par de brincos prateados, com uns coraçõezinhos, era um mimo! Abracei Ângela.
— Obrigada amiga! – Agradeci.
— Agradeça a mim apenas pelos brincos. O vestido foi Dominic quem comprou! – Ela sorriu.
— Ia esquecer de você? Nunca! Se Ângela pode te presentear, por que eu não poderia? – Ele se levantou e se aproximou de mim.
Abracei-o também.
— Perdão por me esquecer de você. – Sussurrei.
— Se depender de mim você nunca me esquecerá… – Ele murmurou para baixo.
— Disse algo? – Eu inclinei minha cabeça para o lado.
— Não… Apenas impressão sua. – Ele sorriu.
Ângela puxou minha mão.
— Eu e você vamos ao parque de diversões hoje à noite! Você vai usar esse vestido! – Ela estava empolgadíssima.
— Mas, mas… – Mal tive oportunidade de falar; Ângela já expulsara todo mundo do quarto. — O que você está fazendo? – Eu ri.
— Vai lá! Experimenta! Quero ver como fica em você! – Ela se virou de costas para mim.
— Mas… Ângela… – Tentei protestar.
— Shh! Experimenta! – Ela apontou o dedo pra caixinha.
Revirei os olhos e abri a caixa. Peguei o vestido e o coloquei delicadamente sobre a cama. Meio tímida, me despi rapidamente, ficando somente de roupa íntima. Vesti o vestido. Realmente ficara lindo em mim! Dominic tinha uma boa noção “espacial” e bom gosto também!
— Deu… Pode olhar agora. – Eu disse, meio sem jeito.
Ângela arregalou os olhos e escancarou a boca, surpresa.
— Ficou DI-VI-NO! – Ela separou as sílabas.
Eu ri e dei um giro de trezentos e sessenta graus pra esquerda.
— Gostou mesmo? – Eu me olhei no espelho da parede.
— Eu adorei! Agora você vai mostrar como ficou em você! – Ela abriu a porta e puxou todo mundo de volta.
Fiquei rubra e muda. Apenas cobri o rosto de vergonha.
— Ficou lindo, meu anjo! – Minha mãe observava cada detalhe do vestido.
— Nossa… – Dominic estava vidrado em mim, mas acho que ele não estava olhando para o vestido.
— Gostaram? – Eu estava tímida.
— Acertou na mosca, filho! – Meu pai deu uma tapa nas costas de Dominic que o fez desviar o olhar para ele, assustado.
— Obrigado, senhor Anders. – Ele gemeu e pôs as mãos nas costas.
Eu ri baixo. Dominic olhou pra mim e assentiu.
— Com mais a clave e os brincos que eu te dei você vai arrasar hoje à noite! Muitos gatinhos vão olhar pra você! – Ângela cutucou minhas costelas.
Eu sorri, mas pude ver que Dominic fechou a cara. Olhei disfarçadamente para Dominic, que notou que olhei para ele e sorriu novamente.
— Dominic… Você pode ir com a gente se quiser! – Eu olhei delicadamente para ele.
Quando ele estava prestes a responder – pelo sorriso ele diria sim – Ângela protestou gritando:
— Ah, não! Noite das garotas! Vamos convidar Rose Mary e Elisabeth também! – Ela olhou para mim, os olhos radiantes.
Vesti novamente minha roupa normal e fomos para o café da manhã, apenas minha família. Os D’mitri iam fazer caminhada.
— Posso ficar? – Dominic sibilou para o pai.
Andrews olhou para minha face distraída com o caminho, em seguida desviou os olhos para o filho e assentiu calado e sorridente.
Dominic correu até o meu lado enquanto via os pais e a irmã andando até o elevador.
— Vou ficar com você! – Ele estava alegre.
— Que bom. – Eu disse hesitante.
Sentamos na mesma mesa que sempre sentávamos, Dominic puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado. Observei que, sobre o piano que havia ali, estavam um papel e um lápis. Vacilante, eu me levantei e andei até lá. Peguei nas mãos o papel e o lápis, em seguida fitei as teclas e me lembrava do doce movimento das mãos de Dominic tocando o piano. A música voltara a minha mente. Sentei-me na banqueta e fiquei viajando longe, sem nenhum tipo de vergonha por estar ali. Peguei o lápis e escorei no papel, sobre o piano. Enquanto a música soava em meus pensamentos eu desenhava perfeitamente a cena que se repetia, mas não prestei muita atenção no que estava fazendo.
Dominic sentou-se ao meu lado e, enquanto eu desenhava, ele tocava uma harmonia que contagiou minha imaginação. Continuei a encher o desenho de detalhes que me lembrava daquele dia. De repente senti algo estranho. Foi quando a imagem do moço moreno mais velho veio a minha mente; estremeci e Dominic sentiu.
— Lhe incomodo? – Ele disse baixo enquanto tocava uma melodia lindíssima.
— Não… É que… lembrei-me do que aconteceu… ontem. – Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Seus olhos quase se fecharam, direcionados para as teclas do piano, que soavam muito mais ferozes e contagiavam o salão inteiro.
— Está tudo bem. – Eu sorri para tentar acalmá-lo.
Funcionou. Ele tocava novamente a harmonia tranquila. Ele parou de tocar e eu, de desenhar. Arregalei os olhos quando vi os desenhos na folha. Era uma cópia perfeita do momento em que eu cantava com Ângela e Dominic e, ao lado, o momento em que eu fui atacada por aquelas estranhas criaturas. Desenhei meu sangue escorrendo por minha face chorosa; fiquei nauseada de medo. Peguei a folha e rasguei a parte que não queria me lembrar nunca mais: o ataque.
Levantei-me cambaleando e voltei para meu lugar. Quando sentei, arremessei meu corpo contra a escora da cadeira, respirando profundamente. Minha pele arrepiou-se só de lembrar aquela cena horrível, eu precisava de uma explicação convincente! Levantei-me, com certa ira nos movimentos, e puxei Dominic pela mão até um canto deserto.
— Preciso saber da verdade… – Eu tremia.
Ele emudeceu.
— Me conta logo! – Eu quase chorei.
— Sabe… a história… que meu pai lhe contou… A da parede e do teto da sala… – Ele baixou a cabeça.
Arregalei os olhos e prendi a respiração, tentando me encontrar em meio ao medo e possibilidades infindas.
— V-vam… – Não consegui dizer.
Dominic assentiu lentamente com a cabeça, com amargura no olhar.
Afastei-me alguns passos, tropeçando para trás e acenando negativamente com a cabeça, incrédula.
— Emily! Calma! É por isso que estou aqui! Fique tranquila… Vai dar tudo certo! – Ele estendeu a mão para me tocar, mas dei mais um passo pra trás.
Corri até qualquer lugar. Não fazia a mínima ideia de onde eu estava indo, afinal eu não explorara o hotel inteiro. Corri até o teatro, que vi de longe. Corri, arfante, até o palco, muito bem iluminado por uma luz forte e branca, que refletia amarela em meu rosto por consequência do chão de madeira clara. Ali eu me senti segura; longe de tudo e todos. O silêncio soava breve em meus ouvidos. Suspirei, aliviada, porém meu alívio terminou quando vi quatro seres se aproximando de mim. Já conhecia suas silhuetas. Meu coração deu um único pulsar e depois não o senti mais no peito. Eu tremi.
— Olá garotinha! Eu peço perdão por àquela hora, a Nancy se irrita fácil, principalmente com a luz. – O moreno jovem se aproximou mais de mim do que os outros.
Eu tremi por um breve momento, meu estômago se revirou e senti algo subir pela garganta. Fiquei calada. Ele sentou-se ao meu lado, enquanto conferia se os parceiros continuavam no mesmo lugar.
— Estamos perdoados? – Ele não olhava para meu rosto entorpecido e apavorado.
— Você sim, eles não… – Sussurrei, na esperança que somente ele ouvisse.
— Tudo bem. Entendo seus motivos. Muito prazer, sou Derick Stiletto.  – Ele me estendeu a mão.
Encarei a mão enorme com um pouco de receio; ele a afastou de mim.
— Na verdade… não gosto muito de fazer o que eles fazem. – Ele baixou a cabeça. — Não é fácil contrariá-los. – Ele me olhou pelo canto dos olhos, relaxado, tranquilo.
— Então… qual é a razão pra estar com eles? – Eu o fitei rapidamente e depois desviei o olhar para o chão.
— Segurança… Eles são muito mais velhos e maiores do que eu, além de muito mais fortes também. Sinto-me seguro perto deles. – Seu rosto fitou o chão sem ver.
— Mas… você parece já ter maturidade suficiente para cuidar de si. Deve ter o que, dezenove, vinte anos? – Eu sugeri.
— Cento e seis… – Ele sorriu.
Desnorteei com a informação e tranquei a respiração, inconscientemente.
— Nós todos temos bem mais que cem anos. A não ser por… algumas exceções. – Ele fitou o teto.
Arregalei os olhos. Como não tinham aspecto de velhos?
— Por que eles me atacaram? Você… você estava lá também! E riu! – Eu sacudi a cabeça, tentando expulsar de mim as lembranças atormentadoras.
— Eu fico fora de mim… em certos momentos… Perdoe-me. – Ele baixou o olhar. — Ella, Nancy e Roney não são… as melhores… criaturas que existem no mundo. – Ele riu.
— Ella, Nancy, Roney… – Hesitei. — Agora posso contar a… – Me calei.
— Pode contar com alguém a respeito? – Ele quase fechou os olhos, me encarando surpreso.
Assenti, mas não deveria ter dito nada.
— Eles têm que ficar sabendo… Então há mais alguém além do Dominic? Eu o odeio! Ele e… o resto da família! A não ser por… – Ele hesitou.
— Ângela? – Eu ri baixo.
— Escute! – Ele puxou meu ombro e sibilou para mim, sério. — Não diga nada a ela! Ou você será uma menina morta! – Ele me soltou e num brusco movimento saltou do meu lado para onde estavam os outros.
Tremi e, novamente, meu estômago se revirou. Eu podia jurar que o ouvi rosnar como um cão.
Suspirei e corri entre eles até a porta do teatro, que se fechou diante de mim, sem interferência manual de ninguém.
— Aonde você vai? Você pensa que viemos pra conversar? Bater um papinho ridículo com uma humaninha mortal? – Virei para trás enquanto Ella ainda falava.
— Por favor… – Eu sussurrei.
Eles riram, Derick manteve-se sério.
— Olha como ela chora bonitinho! – Nancy deu um riso terrivelmente maléfico.
— Será que alguém vai ouvir se eu acabar com você agora? – Roney apareceu do nada, diante de mim.
Eu gritei. Nancy gritou novamente seu grito mortal. Encolhi-me no chão, me contorcendo como uma minhoca. Minha pele começava a criar vergões e abrir-se em cortes finos.
— Seu sangue é uma delícia! – Roney se agachou para me olhar de perto. — Mas ainda assim, prefiro te ver gritar! Chame por seu namoradinho inútil! Chama! O que ele fará?! – Ele se ergueu em frações de segundo e me chutou.
Fui arremessada contra os pés de Derick, que estava pasmo e não se movera desde que a briga começou. Ele arfava desesperado. Roney apareceu diante de nós dois e ergueu a mão, preparando-se para me bater novamente. Derick se jogou por cima de mim e rosnou. Sem fôlego, eu arregalei os olhos.
Ouvi mais dois rugidos e o grito de Nancy. Vi que dois vultos saltaram sobre Derick, que voou para longe de mim e chocou-se contra o palco, que se rachou.
Não pude ver direito o que era, pois se movia tão rápido que parecia uma alma-penada! Quando em fim me atinei a respirar, gritei o máximo que pude! Roney correu pra cima de mim, mas foi empurrado por alguém. Levantei-me rapidamente e já não havia mais ninguém ali! Será que eu tinha apenas sonhado? Tive certeza que não sonhara quando notei que Derick fitava o corpo caído de Roney, estendido sobre uma das poltronas.
— O que houve? – Minha voz saiu falha.
Derick me fitou, seus olhos estavam tomados por um vermelho-rubi, que lampejaram para a porta. Segui seu olhar mais nada havia. Quando voltei a olhar para ele, ele não estava mais lá. Eu arfava como um lobo velho, que acabara de correr atrás de seu jantar, e tremia como vara verde que sustentava folhas mais pesadas do que podia aguentar.
Agachei-me e agarrei meus próprios joelhos. Eu ouvi a porta bater então me arrastei engatinhando para trás de uma das poltronas.
— Emily! – Ouvi duas vozes familiares gritando juntas.
Levantei-me, parecendo bêbada! Corri até Ângela e Dominic que me chamavam. Joguei-me nos braços de Dominic, que olhava ao redor a minha procura.
— Dominic! Ângela! Foi horrível! O Roney, a Ella, a Nancy! Foi horrível! – Eu chorava; meu sangue escorrendo por meus braços, nos rasgões feitos pela voz estridente de Nancy.
Ângela cobriu o rosto com a mão, parecendo sentir algum cheiro desagradável. Senti algo passar pela garganta de Dominic.
— Aconteceu alguma coisa? – Eu me afastei dos dois.
— Nós somos… hemofóbicos… coisa de família. – Ângela fechou os olhos.
Olhei para meus braços que escorriam sem parar.
— Ah, me desculpem! Não sabia disso! – Eu segurei meu braço, pensando que assim poderia conter o sangramento; errado!
— Pegue isso! – Dominic tirou a camiseta de botões de cima da regata preta e me entregou.
Vesti a camisa; quando fui olhar para agradecer, fiquei muda. Impressionei-me com suas formas simétricas e prefeitas. Minha boca se abriu.
— Algo errado? – Ele olhou para si e, em seguida, para mim.
— N-não! Não! – Sacudi a cabeça algumas vezes. — Você… tem… um corpo… bonito… – Fiquei rubra.
Rose Mary e Andrews entram correndo pela porta.
— Emily! – Eles me procuravam também.
— Aqui. – Acenei.
Eles se aproximaram de mim.
— Está ferida. – Dominic disse, a expressão era amarga.
— Vamos cuidar disso. – Rose Mary pegou de leve minha mão. — Sou enfermeira. – Ela sorriu.
Saí da sala do teatro e me sentei em uma cadeira do lado de fora, no meio do corredor.
— Como você fez isso? – Ela olhava atentamente meus cortes.
— Ahm… – Hesitei. — Uns… caras me empurraram e… eu caí… da escada. – Menti mal; nunca fui boa nisso.
— Emily… – Rose percebeu que menti.
— Tudo bem! Um grupo de… – Eu tinha medo só do soar da palavra. — …de seres estranhos… – Rose me interrompeu.
— Vampiros? – Ela sussurrou.
— É… – Confirmei ainda engasgada. — Eles… vieram até mim. Um deles, o Derick, o mais doce deles, veio falar comigo. Estava tudo bem. Até que eu falei sobre… a Ângela… que ele… – Olhei para minha esquerda e tive a impressão de ter visto Derick me olhando com seus olhos vermelho-rubi.
— O que? – Ela quase fechou os olhos por completo.
— Daí ele ficou bravo. – Mudei de assunto rapidamente, prosseguindo com a história. — E rosnou. E eu tentei correr pra porta, mas a porta se fechou do nada! Daí a Nancy gritou! E me cortou! E o grito era alto demais e eu me encolhi no chão e Roney me chutou! Daí o Derick se jogou por cima de mim e um vulto apareceu e empurrou-o pra longe de mim e todo mundo sumiu! – Eu estava sem fôlego de tanto falar.
— Os Sombrios… – Ela sussurrou.
— Ahm? – Não ouvi ao certo o que ela disse.
— Você tem que ficar sempre acompanhada de alguém, Emily. É perigoso que você ande sozinha por aí. O que te deu na cabeça? – Ela enfaixou meu braço depois de examiná-lo mais um pouco.
— Por que, Rose? – Eu queria entender, já que Dominic não me explicara muito bem.
— Estes vampiros estão atrás de você! Se você andar sozinha, vai ser mais fácil que eles te firam ou coisa assim. Você pode até… – Ela parou.
— Morrer? – Eu entalei a voz na garganta.
Ela assentiu com a cabeça, em silêncio. Fechei os olhos, tentando não pensar no pior.
— Seu braço deverá ficar bom assim. – Ela me deu o casaco para vestir.
Eu ainda tremia muito, pelo ocorrido. Mas pude sentir que Derick não queria me machucar, mas não foi capaz de se mexer enquanto eu estava sendo atacada. Levantei-me, como quem não queria nada, e corri até o fim do corredor, onde havia uma sala escura. Era provável que Derick estivesse ali, na escuridão, mas e os outros? Eu estava vacilante até que ouvi a voz que me fez parar.
— Emily? – Dominic estava longe, porém sua voz parecia ser sussurrada em meu pescoço.
— Dominic. – Eu fechei os olhos. — Me pegou! – Ergui os braços e virei-me para ele.
— Você não foi informada que não pode andar sozinha? – Ele manteve seu tom frio.
— Acontece que… com quem eu desejo falar… tenho que se estar sozinha. – Tentei parecer fria, porém a voz de Dominic amolecera o que quer que estivesse duro dentro de mim.
— Sozinha… – Ele riu baixo. — Você não pode andar sozinha por aqui com aqueles caras à solta! – Ele sorriu.
— Derick não é… assim! – Eu protestei.
— Você quer… falar com o Derick… – Ele pareceu incrédulo.
Assenti.
— Se você quer ir, me leve com você, ou nada feito. – Propôs.
— Tudo bem. Eu não vou, mas você não pode me segurar para sempre, Dominic. – Eu fui rígida.
O riso de Dominic me fez desabar. Andamos até meu quarto, Dominic e Rose Mary foram comigo, enquanto Ângela e Andrews faziam outra coisa.
— Filha! Onde você estava? – Minha mãe pôs a mão bem em cima de um corte que eu tinha no ombro.
Urrei silenciosamente de dor.
— Tudo bem, querida? – Meu pai notou que eu me encolhi.
— Dormi de mau jeito… – Eu novamente menti.
Ele assentiu. Faltavam quinze minutos para o almoço. Eu, meu pai e minha mãe fomos até o salão do almoço. Novamente olhei ao redor, mas desta vez, Andrews estava no bar do hotel, sozinho, fitando com seus olhos lindos, o cardápio.
Andei até ele.
— Andrews, onde estão os outros? – Toquei a pele clara e gélida de sua mão.
— Foram procurar um restaurante vegetariano. – Ele sorriu alegremente. Seu sorriso ofuscava qualquer outro brilho que houvesse por perto; as colheres polidas não eram nada comparadas a ele.
Sorri, tentando me comparar a ele, mas sem sucesso, e voltei para meu lugar. Escolhemos o que queríamos para o almoço, comemos, escovei meus dentes depois disso. Fui pro meu quarto e me deitei na cama. Em fim, estava sozinha.
Ouvi algumas batidas na janela, o vento corria forte na rua e levantava tudo que fosse leve. Fechei os olhos. Apaguei por alguns instantes, mas acordei logo ouvindo alguém bater na porta três vezes.
Abri a porta.
— Fiquei sabendo que você queria falar comigo… – Derick leu minha mente! Não podia ser possível que alguém acertasse algo assim!
— Está sozinho? – Sussurrei.
Ele assentiu.
— E você?
— Entra. Também estou. – Murmurei.
Ele entrou, revisou o quarto inteiro com o olhar para, só então, se sentar na poltrona ao lado da minha cama.
— Então… – Eu me sentei na cama.
Ele lampejou os olhos pra mim.
— Onde estão os outros? – Inventei qualquer assunto, porém importante.
— Caçando, devorando as pessoas. É o que fazem. Quando não estão atrás de você ou de outros vampiros. – Ele se escorou na encosta da poltrona, parecendo tranquilo, enquanto eu tremia.
— Hmm. – Tentei parecer tranquila.
— E os seus? Onde estão? – Ele me olhou com os olhos que pareciam rubis reluzentes.
— Por aí… – Eu dei de ombros, tentando parecer tão relaxada quanto ele.
Ele ergueu as sobrancelhas e baixou-as rapidamente, enquanto assentia com a cabeça.
— Eu acho bom que você não tenha aberto sua boquinha. – Ele fixou algo em cima do meu criado mudo.
Levantou-se e pegou a clave de dentro do porta-joias.
— Gosta de música? – Ele fitou-a nas mãos.
— Sim. E você? – Tentei seguir a conversa.
— Quem te deu? – Ele não respondeu.
— Uma amiga. – Escondi; senti uma pontada no peito por conta do medo.
— Tem a carinha dela mesmo! – Ele sorriu e largou a joia no pequeno baú sobre a mesinha-de-cabeceira.
Arregalei os olhos. “Ele sabe!”, pensei.
— Já… está tarde! – Eu me levantei.
Ele se aproximou de mim.
— Conversar comigo não é tão fácil quanto parece. – Ele sussurrou. — Não é?
— Vai embora! – Eu sibilei e o empurrei, porém ele não se moveu um milímetro.
Ele se virou e saltou da janela. Corri para ver, pois me assustara com aquela cena bizarra, mas não vi nada além das árvores que dançavam ao vento, iluminadas pela luz do sol poente.
Suspirei e me sentei na cama novamente. Dominic entrou quase voando pela porta, sem bater na antes. Pus-me de pé em um salto novamente.
— O que ele estava fazendo aqui?! – Ele grunhiu.
— Quem? – Me fiz de boba.
— Emily! Derick estava aqui! Não se faça de desentendida!
Sacudi a cabeça e fiz uma careta estranha.
— Por favor… – Ele suspirou. — Não faça isso. Não confie neles! Não são… as melhores pessoas em quem confiar! – Ele praticamente clamou!
Sacudi a cabeça algumas vezes, tentando entender o que se passava, sem nem ao menos saber se algo se passava ali!
— Tudo bem. Tenho que confessar que foi um erro… conversar com Derick! – Assumi, ainda tentando pensar. — Mas não precisa ser tão hostil! Ele não… é não tão ruim quanto Ella, Nancy ou Roney! – Esclareci minhas opiniões.
— Não é tão ruim… – Dominic repetiu com desprezo em sua voz doce e delicada, virando-se para a janela.
— Não! Ele é meu amigo! – Soltei essa sem pensar.
Ele se virou pra mim e me encarou sério.
— Se eu pudesse te provar que não, você me seria eternamente grata! – Ele sussurrou oponente por entre os dentes arregaçados em um rosnado.
Estremeci e encarei seus olhos negros como a noite – mas podia jurar que eles eram claros! Depois de um longo período de silêncio, saí a passos largos do quarto até a metade do caminho do corredor, mas parei ao ver que Dominic estava parado diante de mim.
— Me perdoe! – Ele pegou minha mão.
Minha respiração estava completamente desregulada! Como ele podia estar em um lugar onde antes não estava?! – ou algo assim?!
— Tá… – Assenti incrédula.
Eram por volta de seis horas da tarde quando resolvi fazer algo que prestasse. Voltei para meu quarto e atei ao meu pescoço o colar com o pingente de clave de sol que ganhara de Ângela. Peguei um caderno e um estojo com alguns lápis e canetas e borrachas, coisas do tipo, e segui para o Transilvânia I. Andei até a porta, esperando que ninguém me visse, mas Ângela me pegou.
— Vai ao Trans I? – Ela saltou pro meu lado.
— É… – Eu assenti sem graça. — Já que não tenho câmera, tenho que desenhar os lugares por onde passei! – Eu sorri mostrando o caderno. — Já fiz aula de desenho pra isso também! – Continuei caminhando.
Ângela me acompanhava, claramente feliz.
— Você desenha?! Nossa! Que incrível! – Ela bateu as palmas das mãos, sorrindo.
Assenti. Entramos no hotel, estava como sempre: empoeirado, o piano ao fundo, os vidros cobertos de um manto de pó, a escada velha, porém intacta. Cada coisa em seu devido lugar.
Logo da porta, comecei a desenhar, mas algo estava errado. Faltava alguma coisa.
— Por que está sendo tão difícil me concentrar? Os detalhes… São impossíveis de desenhar! – Eu reclamei amassando um papel, uma tentativa frustrada de copiar com perfeição o cenário a minha frente.
Joguei a buchinha de papel por sobre o ombro, mas não a ouvi cair no chão.
— Pensei que estivesse sozinha! Já ia brigar com você. – Dominic pegara o papel que eu joguei.
— Eu sei ouvir. – Eu disse séria.
Ele andou até o piano e começou a tocar uma música muito linda. Minha cabeça viajou pelas notas da canção e minha criatividade foi atiçada! Praticamente me joguei no chão, coloquei o caderno no colo e comecei a desenhar tudo o que via e sentia com aquela música. Comecei por onde estava mais próximo de mim: o balcão, empoeirado, vazio, detalhado. Desenhei a cada detalhe perfeitamente no caderno. Em seguida, meus olhos voaram para o piano, que Dominic tocava harmoniosamente. Desenhei o piano – com Dominic e tudo! Desenhei também as paredes, as teias de aranha nos cantos, as poltronas intactas de couro bege, a escada até onde o teto permitia que eu fitasse.
Ângela olhou no relógio de pulso, reluzente e prateado.
— Vamos Emily? – Ela me chamou carinhosamente.
— Vamos? Vamos aonde? – Eu parei de desenhar e me ergui do chão, do degrau onde estava sentada.
— Não disse que iria sair comigo hoje? – Ela pegou minha mão e sorriu docemente.
— Ah! Claro! Como eu pude me esquecer?! – O pior de tudo isso é que eu não me lembrava disso!
Ela me arrastou até a saída do hotel.
— Calma! Ainda não sei o que vou fazer com meu cabelo! – Eu disse, enquanto era puxada por Ângela.
— Deixe comigo, que eu resolvo isso! – Ela sorriu espontaneamente.
Subimos até o quarto, vesti o vestido que ganhara de Dominic e coloquei os brincos que ganhara de Ângela.
— Ok, o que você tem em mente? – Eu apontei para meu cabelo.
— Hmm – Ela fechou um olho e alisou o queixo. — Já sei! – Ela ergueu um indicador, quase desesperada.
Sentei-me em uma cadeira, ela soltou meu cabelo. Era fácil manuseá-lo, pois era fino e liso, com leves ondas nas pontas. Ela fez diversos penteados em questão de minutos! Já deveria estar acostumada com os longos e negros cabelos.
Até que, depois de instantes, ela chegou a um veredicto.
— É esse! Perfeito! – Ela correu, pegou o espelho e me mostrou como havia ficado.
Arregalei os olhos; estava lindíssimo! Combinava muito com minha roupa e deixava a mostra meu colar e meus brincos.
— Ficou incrível, Ângela! – Eu continuava fixa no espelho, admirando meu novo penteado.
— Também achei! Acentuou muito seu rosto! Ah, como eu ia me esquecer! – Ela correu até onde minha vista não alcançava e voltou com um estojo de maquiagens em mãos.
Em segundos ela fez a maquiagem completa em meu rosto e estávamos prontas para sair. Se dependesse apenas de mim demoraríamos por volta de meia hora para tomar rumo, mas com ela dois minutos bastavam! Calcei minhas sandálias pretas e, junto com Ângela, fomos atrás de Rose Mary e Elisabeth. Batemos na porta do quarto dos D’mitri, minha mãe estava realmente lá, mas tanto Elisabeth quanto Rose Mary não estavam prontas.
— Prontas? – Ângela já foi entrando.
Entrei logo atrás dela. Minha mãe estava sentada na cama, com um pote de pipocas sobre as pernas e vidrada na tela da televisão que mostrava uma novela dramática.
— Mãe! – Eu chamei sua atenção e ela me olhou rapidamente, enquanto continuava comendo pipoca. — Vai se arrumar! Vamos sair com a Ângela! Não lembra?! – Eu me exaltei.
— Quando isso? Eu não fiquei sabendo! – Ela tentou revidar.
— Hoje pela manhã, quando a Ângela me entregou o pacote com o vestido! – Disse como se fosse óbvio.
Quando me virei, Rose Mary já estava pronta, portando consigo uma bolsa pequena e vestindo uma roupa bem básica.
— Corra, Lisa! Ou vai se atrasar! – Rose Mary sorriu.
Minha mãe largou o vidro de pipocas na mesa no canto do quarto e saiu correndo porta a fora.
— O que deu nela? – Eu perguntei incrédula, indicando a direção que minha mãe correra com o polegar.
Ângela e Rose Mary deram de ombros, no mesmo instante e do mesmo modo. Sorri e quando saí da porta, minha mãe esbarrara em mim.
— Ui! Estou pronta! – Ela ajeitou o cabelo curto.
Saímos do hotel e pegamos um táxi até um parque de diversões, no centro da cidade, repleta de luzes e música. Descemos do carro, Rose Mary pagou o valor devido ao motorista e entramos no parque.
Minha mãe comprou minha pulseira-passaporte, o que me dava direito a andar em todos os brinquedos quantas vezes eu quisesse, e a dela; Rose Mary comprou a dela e a de Ângela.
— Vem! Vamos andar na montanha-russa! – Ângela me deu um puxão, minha mãe e Rose ficaram para trás.
Entramos na fila; notei que Ângela dera um sorriso torto como se tivesse com um plano maligno para destruir a Terra!
— Olha só… – Ela sussurrou e virou-se para um rapaz na nossa frente.
Ela cutucou o ombro do moço, que virou para trás.
— Moço… – Ela olhou-o com olhos doces que nem eu resistiria. — Você pode nos deixar passar a sua frente? Por favor! – Ela fez um biquinho e seus olhos pareciam mais brilhantes do que o comum.
Seu queixo desabou e ele se afastou. Ela andou para frente e me puxou. Fez isso com todas as pessoas que pôde – dez pessoas de trinta que estavam na fila.
Até que chegou nossa vez. Eu estava trêmula, meu estômago se revirava toda a vez que eu olhava para o looping que o carrinho faria. Sentamos no meio da fileira de carrinhos. Eu ainda tremia. Ângela estava emocionada, seus olhos reluziam, ofuscavam. Agarrei-me a sua mão gélida. O brinquedo já estava em movimento; era tarde para pensar em desistir, então tentei me entregar. Soltei as mãos e as ergui. Bastou sentir o vento nas palmas das mãos suadas e frias para soltar um grito extasiado de alegria. O looping se aproximava cada vez mais e eu, aos poucos, fui voltando a ficar apavorada. Eram dois seguidos. Encarei os dois de frente, nem pude ver nada, mas achei que minha cabeça ficara no lado oposto ao topo do looping! Depois de mais duas voltas no brinquedo radical, desci, tonta, cambaleando até o banco mais próximo. Parecia ser posto ali de propósito, ao lado de uma lixeira. Quando me sentei, permaneci muda.
— Está tudo bem? – Ângela atentou-se a me observar.
Assenti com a cabeça, algo subia e desci por minha garganta constantemente.
— Só estou… tonta – Pendi pra um lado.
Fechei os olhos e tudo girava dentro da minha cabeça. Respirei fundo e senti cheiro de comida!
— Em qual vamos agora? Que tal no trem-fantasma? Ou no barco viking?! Ou quem sabe… – Tive de interrompê-la antes que ela sugerisse outro brinquedo.
— Preciso por a cabeça no lugar, Ângela! Vamos… comer primeiro? – Propus.
— Tudo bem! O que você quer comer? – Ela me puxou pra um corredor cheio de opções.
— Ahm… Pode escolher! – Eu sorri timidamente.
— Que tal… Ai! Não sei! – Ela riu.
— Cachorro quente? – Eu sugeri.
— Ótimo! – Ela sorriu.
Fizemos nossos pedidos. Peguei meu cachorro-quente, meus olhos brilharam ao ver a delícia em minhas mãos! Olhei para Ângela que fitava curiosamente, de todos os ângulos, a comida.
— Algum problema? – Eu sibilei antes de morder o pão.
— Não! É que eu acho curioso como esse negócio é montado! – Ela riu.
— Realmente! Se for parar para pensar, a comida não faz nenhum sentido no jeito como é montada! – Eu sorri.
Ela riu e abocanhou o pão de leve, comi o meu rapidamente. Mesmo depois de ter dado seis ou mais loopings na montanha russa, eu estava faminta! Olhei uma vez mais para Ângela e o cachorro-quente que ela segurava já estava pela metade!
— Nossa! Você é rápida! – Eu me impressionei.
— Quando bate a fome… – Ela sorriu de lábios cerrados.
Continuei comendo, Ângela já havia terminado havia uns três minutos.
— Aonde vamos? – Eu estava ansiosa pra andar em mais alguma coisa.
Ângela fitou, apreensiva, o trem-fantasma.
— Trem-fantasma! – Corri pra fila.
— Emily! Eu… tenho medo! Não vou conseguir dormir depois! – Ela se encolheu.
— Ai, Ângela! Vai ser legal! Vamos! Por favor! Eu protejo você! – Minha mãe e Rose Mary se aproximaram de nós.
— Aonde vocês vão agora? – Rose Mary parecia nervosa, mas perfeitamente equilibrada.
— Vamos… no trem-fantasma. – Ângela disse, irrequieta.
Rose Mary e Elisabeth fizeram uma expressão espantada no mesmo instante e se olharam em seguida. Rose Mary olhou no relógio e ergueu as sobrancelhas.
— Garotas… já está tarde. Acho melhor voltarmos. – Ela fitou Ângela, que saltou para seu lado, parecendo aliviada.
— Verdade, filha. Vamos lá. – Minha mãe concordou; não havia nada que ela discordasse de Rose.
Chamamos outro táxi. Eu estava sonolenta, mesmo depois da adrenalina total da montanha-russa. Escorei minha cabeça em uma das mãos e fechei os olhos. O motorista ligou o rádio, músicas clássicas. Sorri na hora, ao me lembrar de Dominic.
— Como será que estão seu irmão e seu pai? – Ouvi Rose murmurar para Ângela.
Ela deu de ombros e acompanhou o ritmo da música com a cabeça. Continuei ouvindo o som doce. Por um segundo apaguei, até sentir um solavanco no carro. Abri os olhos, desesperada, olhando para todos os lados.
— Calma, querida. Chegamos! – Minha mãe me tranquilizou.
Suspirei profundamente e desci do carro, cambaleando de cansaço.
— Ai… quero minha cama! – Eu ri.
Minha mãe envolveu com um braço e me levou até o quarto. Só tomei banho e me joguei na cama. Depois disso, não vi mais nada. Nem me despedira de Ângela e Rose Mary.