sexta-feira, 27 de abril de 2012

Domingo, 5 de fevereiro Pt. 2

- Sim. Nunca vi você assim! - Eu estava um pouco assustada.
- Pergunta pro Derick o que aconteceu... Ele deve saber... - Ele falou com repulsa e se levantou.
Parei um pouco pra refletir e me lembrei da idiotice da noite passada. Dominic tinha todos os motivos do mundo para me odiar. Não falei nada. Apenas me levantei, tirei a aliança do dedo, larguei-a no chão e saí.
Meus passos eram lentos e inseguros. Eu sentia que ia me arrepender, mas, pelo que vi, Dominic nunca mais me amaria. Me enganei.
Ele correu até mim, tão rápido que nem o vi. Me abraçou por trás, estendeu a mão diante dos meus olhos, me mostrando a aliança, e sussurrou ao meu ouvido:
- Esqueceu isto. - Ele ainda estava um pouco nervoso.
- Você não tem mais motivos pra me amar. - Eu segurei meu choro.
- Claro que tenho, minha Emy. Você é o que dá sentido à minha vida, como eu não vou amar você? - Ele continuou abraçado em mim.
- Eu errei.
- Todos nós erramos e a culpa não foi sua, eu sei. - Ele beijou meu pescoço.
Fiquei arrepiada da cabeça aos pés.
- Vou voltar pra Transilvânia. Quer vir comigo? - Eu sussurrei.
Andrews vinha da cozinha, continuava lindo e perfeito como sempre fora.
- Estão pensando em voltar pra Transilvânia? - Ele disse rindo um pouco.
- Eu sim... - Olhei pra Dominic.
- Vou onde você for. - Ele sussurrou.
Eu ri baixo. Aquela tristeza não mais me afligia. Sorri um riso largo e feliz. Estar com Dominic era a melhor parte da minha vida. Mesmo que ele ainda estivesse zangado - o que eu sabia por que senti seu aperto forte nos meus braços - eu sabia que ele realmente me amava.
Ele me soltou e segurou minha mão fortemente. Meu braço ainda estava doendo. Puxei um pedaço da blusa até o ombro, de onde eu pude ver um hematoma, não muito marcado, mas já estava roxo.
- Desculpe. - Ele sussurrou, engolindo seco.
- Não... imagina. - Eu sorri, meio sem jeito.
- Eu te machuquei e estou pedindo desculpas. Você me perdoa? - Ele não olhou pra mim.
Eu sabia que, pelo tom de voz e pelo fato de não olhar para mim, ele queria meu sincero perdão.
- Eu te perdoo. - Eu disse sinceramente, mas com um pouco de pesar, por que a culpa não era dele.
Ele não sorriu, só me virou para ele e me beijou delicadamente.
- Ah, que lindo isso, gente. - Ângela riu.
Enquanto Dom me beijava, não resisti e ri. Ele riu também. Foi uma cena hilária. Quando notei, já estavam todos rindo.
- Obrigado, Andy. - Dominic encarou a irmã, sorrindo, que retribuiu a ironia com um beijo soprado.
- Ângela, eu ia te perguntar antes, mas me esqueci. - Eu me aproximei dela, correndo.
- Pergunte. - Ela sorriu.
- Como está... - Fui interrompida pela porta que se abriu.
- Alex! - Ela deu um pulo e correu em direção a ele.
- ... o Alex. - Eu continuei minha pergunta, rindo.
- Minha doce Andy. - Ele a beijou e a abraçou.
- Oi Alex. - Dominic o cumprimentou sério.
- Dominic. - Ele acenou positivamente com a cabeça uma vez só, também sério.
Estranhei a seriedade de ambos. Alexander soltou Andy, andou a passos lentos até Dominic e parou diante dele, sério. Comecei a ficar assustada e me aproximei de Andy, que escondia um sorriso no canto dos lábios.
- Ah, dá um abraço aqui, irmão! - Alex abraçou Dominic, que riu alegremente.
Suspirei, aliviada.
- Eles quase me mataram do coração. - Sussurrei quase inaudível para Ângela.
- Eles fazem isso quase sempre. - Ela sorriu.
- Meninos... - Eu sussurrei.
Andy riu e voltou pra perto do namorado.
- Oi Emy. - Alex sorriu e acenou para mim.
Acenei para ele. Dominic se aproximou de mim, passou uma mão por minha cintura e falou todo imponente:
- Essa aqui é minha noiva, não é mais a Emily. - Ele riu.
- Como assim?! - Alex escandalizou. - Ninguém me conta nada!
Eu ri do modo como ele falou.
- Vou casar com a mulher mais perfeita do mundo! - Ele gritou, mas não tão alto. - Olha a minha sorte!
Eu ri, tímida e corada. Ele virou meu rosto, suavemente, e me beijou os lábios. Eu os senti frios e amorosos sobre os meus. Perdi meu norte, perdi meu chão, perdi meu ar e quase perdi minha consciência.
- Dominic, se você casar com a mulher mais perfeita do mundo, vai cometer incesto. - Alex comentou, sério.
Dominic olhou para Alex, sério.
- Não sabe o que diz. - Ele continuou sério. - Não há nada mais perfeito do que essa deusa, que em breve chamarei de minha esposa. - Ele me olhou afetuosamente e acarinhou meu rosto com as mãos geladas.
- Bom... Se eu disser que Emily é a menina mais perfeita do mundo, vou acabar morrendo de qualquer maneira. - Ele riu.
- Entendi. - Andy deu o ar de sua graça. - Ou eu, ou Dominic mata você. Entendi. - Ela ficou séria.
Desviei o assunto rapidamente.
- Quando iremos? - Ele sabia do que eu estava falando.
- Você é quem sabe. - Ele me fitou docemente com seus olhos negros e sombrios.
- Hoje? - Sugeri.
- Se for sua vontade, sim. - Ele sussurrou.
Eu ri baixo.
- Vão pra onde? - Ângela disse com sua voz doce.
- Transilvânia. - Respondi. - Outra vez. - Complementei.
- Peguei trauma daquele lugar... depois de certas coisas. - Ela murmurou baixo.
- Coisas...? - Incentivei-a a prosseguir.
- Coisas. - Entendi que ela quis deixar por aquilo mesmo.
- Ok. - Me interrompi.
O silêncio tomou conta da sala até ser interrompido por Rose Mary fazendo escândalo quando me viu.
- Emily! - Ela me abraçou forte. - Como você cresceu!
- Pois é... eu cresci. - Eu disse desanimada.
Ela me largou rapidamente.
- Ei. você cresceu! - Ela se espantou, do mesmo jeito que a filha quando me viu. - Como isso é possível?!
- Perdi a transformação. Em parte. - Expliquei o que eu achava que estivesse acontecendo.
- Grande parte, então. - Ela falou suave. - Seu DNA é muito predominante.
- Nem parece que eu fui transformada. E se eu for mordida outra vez, provavelmente não vai durar muito tempo, fora a dor que eu vou sentir. - Eu agarrei meus braços.
Dominic começou a ficar incomodado; pude notar pela força com que cerrava os punhos.
- Vamos... mudar de assunto? - Ele sugeriu, falando baixo, os olhos apertados.
- Sugiro que, se vamos hoje pra Romênia, tenho que arrumar minhas coisas. - Eu murmurei.
- Eu levo você lá, você arruma suas coisas e vamos pro aeroporto. - Ele continuava sério, mas seu olhar era doce.
Assenti com a cabeça rapidamente. Nos despedimos dos que estavam ali e voltamos pra minha casa.
- Dominic... - Eu ia fazer uma pergunta boba, mas desisti.
- Por que eu te amo. - Ele respondeu; provavelmente lera meus pensamentos.
- Como é possível você me amar tanto assim à ponto de não desistir de mim? - Eu murmurei, abrindo a porta de minha casa.
- Você é a moça mais perfeita, adorável, majestosa e meiga que já existiu em todo o mundo. - Ele me interrompeu quando eu abri a porta.
Ele segurou suavemente as minhas mãos, olhou bem no fundo dos meus olhos e aproximou seu rosto do meu. Senti seu respirar sobre minhas pele. Ele riu baixo, entrelaçou os dedos sob meus cabelos, na nuca, e beijou minha testa.
- Eu te amo, Emily. - Ele murmurou.
- Eu te amo, Dominic. - Respondi abrindo lentamente os olhos.
Eu ri baixo e adentrei minha casa. Dominic me seguiu e se sentou no sofá.
- Me espera aqui. - Eu o encarei maliciosamente.
- Não conte com isso... - Ele me olhou; o sorriso nos seus lábios era tão malicioso quanto o meu.
- Por que? - Eu voltei e me sentei sobre suas pernas, mantendo meu tom malicioso.
- Por que? - Ele riu. - Por que eu não posso ficar aqui embaixo, sendo que tem um anjo me esperando lá em cima. - Ele sussurrou beijando meu pescoço bem lentamente.
Minha vontade era me entregar, mas ainda não estava na hora, e eu sabia disso.
- Emy... - Ele se interrompeu, afastando-se devagar. - Suba. Vá arrumar suas coisas. - Ele baixou os olhos.
Mordi o lábio inferior e baixei meu olhar. Dominic segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou intensamente. Me inclinei pra trás, acidentalmente, e caí. Ele caiu por cima de mim. Eu ri.
- Me desculpe. - Dominic estava sem jeito.
Ele me ajudou a levantar; subi as escadas e arrumei minhas coisas. Minhas malas totalizaram duas, nada muito exagerado.


Continua...

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Domingo, 5 de fevereiro

Sentei-me na cama logo que abri os olhos ao acordar. Minha vontade de voltar aos dezessete era incontrolável. Resolvi viajar por conta à Transilvânia. Precisava resgatar aqueles tempos maravilhosos. Me levantei da cama num salto, andei saltitante até o banheiro, lavei meu rosto, penteei os cabelos, escovei os dentes. Desci pra cozinha, tomei meu café da manhã. Meu celular tocou. Corri para atendê-lo.
- Alô? - Eu estava animada.
- Bom dia, minha princesa. - Minha mãe estava feliz.
- Mamãe! Como você está? - Eu comecei, alegre.
Continuamos a conversar enquanto eu me trocava - Deixei o celular no alto-falante; assim eu a ouvia de longe.
Terminei de me vestir, minha mãe desligou o celular, eu também.
Peguei o telefone e liguei para Dominic, mas caía na caixa postal. Achei estranho e tentei outra vez. A mesma coisa aconteceu. Larguei o telefone, peguei minha bolsa e saí. Meu destino era a casa dos D'mitri. Sim, eu ia mesmo chegar sem avisar.
Praticamente invadi a propriedade deles, sem avisar ninguém.
- Emy. É bom ver você, mas o que faz aqui? - Ângela estava perto da porta e me encarou abismada.
- Onde está seu irmão? - Eu estava começando a me chatear.
- Tá lá em cima, mas... - Eu nem a deixei terminar.
Subi as escadas correndo, ouvi umas batidas fortes, que sentia na caixa torácica. Segui um barulho e entrei numa espécie de sala de ginástica. Dominic estava com os olhos negros, socando um saco de pancada. Provavelmente reforçado.
- Dominic... - Eu murmurei.
Ele não pareceu me ouvir, continuou irritado, descontando a ira nos punhos. Ele estava vestindo uma regata, que deixava à mostra as veias dos braços salientes. Seu maxilar estava travado em uma mordida brutal, seus olhos choravam raiva.
- Dominic! - Eu gritei.
Ele olhou pra mim, com raiva nos olhos negros, e voltou a socar o saco.
Ângela chegou correndo.
- Emy, acho melhor você ir embora. - Ela me encarou com os olhinhos tristes.
- Não, Andy. Não vou sair daqui sem falar com ele. - Me aproximei dele.
Eu respirei profundamente, tentando me acalmar. Toquei seu ombro, ele parou. Se ajoelhou no chão e começou a chorar.
- Vai embora daqui! - Ele murmurou.
- Desculpa, mas não vou. - Eu me agachei ao seu lado.
Ele escondeu o rosto.
- O que está acontecendo? - Eu o fitei.
- Ainda pergunta...? - Ele estava mesmo irritado.




Talvez Continua...



Dedicado à Ágata, a menina que me ajuda a postar isso aqui... Te amo, amiga! ♥

terça-feira, 17 de abril de 2012

Sábado, 4 de fevereiro Pt. 5

Me levantei do balcão, peguei o prato e o larguei na pia. Senti aquele abraço apertado e aquela respiração no pescoço que me deixava maluca.
- Você é a moça mais perfeita do mundo. - Ele substituiu os espaços entre as palavras por beijos e mordidas sobre minha pele.
Meus braços se arrepiaram, ele riu.
- Você ainda me fará perder o controle... - Eu murmurei.
- Achei que você já o tinha perdido hoje. - Ele riu.
- E agradeço por encontrá-lo novamente. - Eu me virei para ele e o abracei.
Ele riu baixinho, beijou minha bochecha e me soltou.

Depois de alguns longos segundos trocando olhares, ele se aproximou cada vez mais da minha boca; aquele sorriso malicioso me hipnotizava. Quando estávamos prestes a nós beijar, Ângela apareceu.
 - Oi! Atrapalho vocês? – Ela disse me abraçando.
Andy continuava linda como eu lembrava dela, depois de tanto tempo que não nos víamos.
- Claro que não. - Eu ri. - Não estávamos fazendo nada não é Dominic ? – Eu disse olhando em seus olhos.
 - Sim, é verdade. Estávamos só... conversando. - Ele fixou seus olhos nos meus.
Andy deu um leve riso, perfeita, como ela sempre foi.
- Me diz, Emily. Como você está? Há que tempos não nos falamos. - Ela me soltou.
- Eu estou bem, Ângela. - Eu sorri. - Daqui há alguns tempos farei parte oficial de sua família. - Eu olhei para Dominic e voltei a olhar para ela.
- Como... - Ela escancarou a boca e por fim entendeu.
Ela deu um grito histérico e me abraçou forte.
- Minha nova irmãzinha! - Ela falou, sua voz era perfeita e doce.
Eu ri alegremente. Encarei o relógio: eram 11:45. O tempo passava, eu nem sequer notava.
- Não vou mais estorvar vocês. - Ângela sorriu discretamente.
- Vou com você, Andy. Já está na minha hora. - Ele baixou os olhos.
- Tudo bem. - Suspirei.
Ele segurou carinhosamente minhas mãos e me olhou nos olhos.
- Assim que pensar, estarei aqui. - Ele beijou minha testa e, depois, meus lábios.
Sorri ao sentir seus lábios frios sobre minha pele.
- Eu te amo. - Ele sussurrou lentamente sobre meu pescoço.
Suspirei, tímida. Ele se afastou de mim e saiu, acompanhando a irmã. Esperei até que eles se fossem. Depois subi as escadas até meu quarto, abri meu roupeiro e comecei a revirá-lo. Encontrei uma das minhas memórias dentro de uma caixa. Meu caderno de desenhos estava intacto, os traços do lápis estavam um pouco mais apagados, mas ainda se via os desenhos.
Sentei-me no chão e comecei a folhar o caderno. Havia alguns desenhos do Transilvânia Hotel, o lugar onde minha vida realmente começou. Eu comecei a olhar para os desenhos onde eu aparecia. Meus traços ainda eram infantis. Eu realmente havia crescido.
O telefone tocou na cozinha. Levantei-me rapidamente, com o caderno na mão, e desci as escadas. Atendi o telefone.
- Alô?
- Emy! Como você está, minha bela? - Era meu pai.
- Papai! Que saudades! Eu estou bem e você, como está? - Fiquei muito feliz em ouvir a voz do meu pai.
- Ah, eu estou bem, obrigado. E como andam as coisas por aí? - Ele estava meio rouco.
- Ótimas. - Eu respondi alegre. - Ah, pai, a mamãe está aí? - Eu estava ansiosa pra contas as novidades.
- Sim, ela está. Quer falar com ela?
- Por favor. - Me animei.
Esperei alguns instantes até que a ligação fosse passada a mamãe.
- Emy? - Ela disse baixinho.
- Mamãe! - Eu quase chorei. - Tenho uma coisa pra te contar! - Eu estava quase infartando.
- Pois diga, minha Emy! - Ela também estava ansiosa.
- Dominic me pediu em noivado! - Eu segurei um grito na garganta.
- Oh meu Deus! - Minha mãe ficou espantada. - E você disse que sim? - Ela queria saber de tudo.
- Sim! Eu disse sim! - Comecei a pular feito uma criança.
Ficamos mais um bom tempo conversando, até que o pôr-do-sol chegou. Me despedi da minha mãe, desliguei o telefone e resolvi ficar bonita pra mim - e pra Dominic, caso ele resolvesse voltar.
Tomei um banho relaxante, com a água bem quente. Arrumei meus cabelos e pus uma roupa bonita. Fiz uma maquiagem que combinasse com minha roupa e eu estava pronta.
Quando terminei de me arrumar, eram 20:22.
Deitei-me na minha cama e um vulto pulou minha janela.
- Pensei que viria mais tarde, Dominic. - Eu disse, de olhos fechados e deitada.
Senti um respirar perto dos lábios e abri os olhos para admirar àquela perfeição. Fui surpreendida por um beijo de alguém que eu, realmente, não esperava.
Me levantei rapidamente da cama e me escorei na parede, tentando me manter o mais longe possível de Derick.
- O que você está fazendo aqui?! - Eu estava apavorada.
- Não resisti à esse rosto perfeito e esses lábios doces. - Ele, num movimento invisível, me prendeu entre seu corpo e a parede.
Ele segurou meu rosto e me beijou novamente. De súbito, ele sumiu da minha frente. Dominic o estava segurando fortemente contra o chão, que estava a ponto de se quebrar. Derick ficou enfurecido, se levantou e chocou Dominic contra a parede. Ele caiu no chão e ficou meio zonzo.
- Desgraçado! Vai embora daqui antes que eu acabe com a sua existência! - Dominic agarrou Derick pelo pescoço e o chocou contra uma parede, mas sem soltá-lo.
Fez isso por três vezes até que Derick o chutou, obrigando-o a soltá-lo.
- Se me der licença, tenho que ir. O que eu tinha pra fazer, eu já fiz. - Derick estava muito cansado, mas continuava agressivo.
Dominic continuava atirado no chão, totalmente derrotado. Derick sumiu no breu.
Corri até Dominic, me ajoelhei diante dele; seus olhos estavam fixos no chão, cheios de lágrimas. Nunca o tinha visto daquele jeito.
- Você está bem? - Eu sussurrei.
Ele me encarou, sério, choroso, levantou-se vagarosamente e sumiu, sem dizer uma única palavra. Estava começando a ser derrotada pelo sono. Me sentei na cama e ouvi em minha mente: "durma". Dito e feito. Dormi.

domingo, 8 de abril de 2012

Sábado, 4 de fevereiro Pt. 4

Me levantei da cama, sem conseguir esconder meu aparente descontentamento. Ele notou.
- Sei o quanto está chateada, mas preciso que me entenda. – Ele se levantou e me seguiu escada a baixo.
- Imagina... Já entendi. Não precisa perder tempo se justificando. – Eu fui frígida. – Não vou fazer isso outra vez. – Baixei a cabeça e peguei um sanduíche de dentro da geladeira.
Sentei-me no balcão da cozinha, fui comendo devagar. Ele me encarava, como quem me avalia.
- Me desculpe. – Ele fixou os olhos em mim.
- Não precisa fazer isso, Dominic. Sabe que a culpa foi minha. Quando me disse que iria junto, deveria ter te levado comigo. Quem sabe Derick desistiria. – Murmurei.
- Odeio te ver chateada. Principalmente quando o motivo de sua chateação sou eu! – Ele escorou os braços ao lado das minhas pernas, no mármore escuro do balcão.
Olhei-o fundo nos olhos, ele sorriu aquele riso maravilhoso; eu não conseguia resistir.
- Você é impossível... – Murmurei e beijei seu rosto.
- É? E você é perfeita. – Ele sorriu novamente.
- Estou longe de ser perfeita. – Larguei o prato ao meu lado.
- Pelo menos, a meu ver, você não tem mais o que fazer pra ser perfeita, a não ser... – Ele sorriu de leve e ficou sério de súbito.
- A não ser...? – Incentivei-o a prosseguir.
- A não ser aceitar proposta que… eu lhe fiz. – Ele ficou sem jeito.
- Ahm... – Eu murmurei, ainda mais embaraçada que ele.
- Não preciso que diga que sim. Só quero ouvir com sinceridade sua resposta. – Ele me fitou nos olhos.
Eu o encarei fixamente, tentando desvendar o mistério que ele ocultava no olhar, o que me deixava simplesmente sem reação ou pensamento.
Ele baixou o olhar ao ver que o luar em seus olhos influenciaria em minha resposta.
- Responda, por favor. – Ele manteve os olhos fechados e a cabeça baixa.
Ergui seu rosto delicadamente e beijei sua testa.
- Eu acho que ainda sou nova demais pra casar. Se você aceitar esperar, eu caso com você, mas mais tarde. O que você acha? – Propus.
Ele não disse nada; apenas sorriu e me surpreendeu com um beijo rápido e leve sobre os lábios. Eu ri e o abracei.
- Ok. Vou reformular minha proposta, já que você quer que eu espere. – Ele sorriu torto.
- Hum. – Eu o encarei sorrindo discretamente.
- Emily Diana Anders, você me daria à honra de se tornar minha noiva? – Ele tirou do bolso uma caixinha azul de veludo. – Esperarei o tempo que for pra ver você ao meu lado, vestida de branco e dizendo aceito. – Ele riu baixo.
- Sim, Dominic, aceito ser sua noiva. – Eu sorri. – Mas deixe-me corrigir: a honra de ser sua noiva é toda e completamente minha.
Ele riu e me beijou.
- Me desculpe pela crise de ciúmes que eu dei. Fui um completo idiota. – Ele estava realmente arrependido.
- Não, Dominic. A culpa foi minha. Nem deveria ter aceitado ir à lugar algum com aquele garoto. – Eu murmurei.

Continua...

sábado, 7 de abril de 2012

Sábado, 4 de fevereiro Pt. 3

O sol brilhava forte quando encontrei o caminho até minha casa. Fui andando devagar, comecei a ficar cansada, minha pressão baixou. Sentei-me em um banco, na sombra e esperei passar a tontura. Em alguns minutos já estava melhor. Suspirei profundamente e segui meu caminho. Continuei caminhando pelo sol, observando a paisagem. Não demorou muito para que eu ficasse tonta novamente.
- Droga... - Eu me escorei em uma parede.
Uma moça passou por mim, segurando uma sombrinha.
- Você está bem, senhorita? - Ela me encarou inexpressivamente.
- Eu... eu estou bem... - Murmurei tonta.
- Não, você não está. - Ela me segurou pela mão e me levou até um bar.
Me sentei em um banco e escondi o rosto entre os braços.
- Como é seu nome, mocinha? - Ela tinha a voz doce.
- Emily. - Eu balbuciei. - E o seu?
- Elena. - Ela disse friamente.
- Nome bonito. - Levantei a cabeça e a fitei, ela estava séria.
Ela assentiu com um sorriso forçado nos lábios.
- Você quer alguma coisa? - Ela fechou a sombrinha que trazia consigo.
- Não. Só quero ir pra  minha casa. O sol está fazendo minha pressão cair muito rápido. - Eu escorei minha cabeça em minha mão.
- Pegue isso e vá. - Ela me entregou a sombrinha delicada.
- Não posso... Você vai ficar sem. - Devolvi para ela.
- Fique. Por favor. - Ela me lançou um olhar doce e amável.
Fiquei sem jeito.
- Tudo bem. - Sorri timidamente.
Peguei a sombrinha, me despedi da moça doce e saí. Abri a sombrinha e segui até minha casa. Cheguei, larguei a sombrinha fechada em um canto da sala e me sentei no sofá. Dominic vinha descendo as escadas devagar.
- Dominic! - Me levantei e corri até ele.
Ele não disse nada; só subiu as escadas, sério. Aquela cena me partiu o coração. Eu o segui até meu quarto.
- Dominic, o que houve? - Eu me aproximei dele.
- O que você estava fazendo com ele? - Ele não olhou para mim.
- Ele queria conquistar minha confiança. - Revirei os olhos.
- Não duvido que você já tenha confiado nele. - Ele continuava bravo.
- Não, Dominic! - Eu me alterei. - Eu nunca confiei nele! Ele é um... deles! - Eu murmurei sem jeito.
Eu estava começando a gostar de Derick e isso não era nada bom.
- Você gosta dele, Emy! Isso não me agrada! - Ele estava rígido.
- Derick é... simpático... mas não merece minha confiança. - Eu me encolhi.
- Emily, eu te imploro! Fique longe do Stiletto. - Ele disse com repulsa.
Eu o abracei. Ele pareceu ficar com nojo de mim.
- Você... - Eu me encolhi.
- Não. Não ouse pensar isso outra vez, Emily. - Ele levantou meu rosto.
Ele me beijou de leve, e outra vez, e outra vez. Beijou meu pescoço, me arrepiei toda. Atei meus punhos ao seu pescoço e o derrubei sobre a cama. Eu fixei meus olhos nele e o beijei intensamente.
- Emily... - Ele murmurou; nem liguei.
- Shh... Quero provar que eu realmente te amo! - Eu murmurei rouca.
- Não precisa fazer isso, Emy. - Ele segurou firmemente a minha cintura.
- Você quer, eu sei... - Eu sussurrei.
- E você? Quer mesmo isso? - Ele murmurou em meu pescoço.
- Se você quiser, eu quero. - Eu estava fora de mim.
- Então eu não quero. - Ele continuou deitado e agarrado na minha cintura.
- Por que? - Eu sussurrei em seu ouvido.
- Por que eu te amo. Amo você assim, pura como você está. - Ele sussurrou sobre meus lábios e me beijou de leve.


Continua....

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sábado, 4 de fevereiro Pt. 2

Me pus de pé, ajudada por Derick.
- Você está bem? - Eu me preocupei.
- Sim. - Sua voz era rouca. - E você? - Ele me fitou nos olhos.
- Estou bem. - Eu estava tensa, na verdade. - Só estou preocupada com Dominic.
- Ele deve estar destruindo alguma coisa, por aí. - Derick caçoou.
- Derick, para! Estou falando sério. - Eu bati em seu braço.
- Me desculpe. - Ele ficou sério.
Me afastei da árvore onde Derick fora arremessado; ela estava totalmente destruída. Sentei-me no sol e fechei os olhos.
- Emily. - Derick me chamou, ainda no mesmo lugar. - Não tenho fortitude. - Ele me olhou de lado.
- O que é que tem? - Continuei de olhos fechados.
- Se não se importar, quero ficar perto de você. - Ele murmurou, mas pude ouvi-lo.
Olhei para ele, séria.
- É melhor você ficar por aí, mesmo. - Permaneci sentada.
Ele mordeu o canto do lábio inferior, sério e, do nada, sumiu. De repente eu estava na sombra, ele à frente dos meus olhos...
- Não te trouxe aqui por nada. - Ele murmurou sério. - Quero mesmo que você confie em mim.
- Desculpa... não dá. - Andei de costas em direção ao sol.
Dei uns dois passos e meio e esbarrei em alguma coisa.
- Por favor. - Ele insistiu.
Virei-me para trás.
- Com licença. - Eu disse séria e corri até a trilha na mata.

Continua...

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sábado, 4 de fevereiro

No outro dia acordei e Dominic estava lá lindo como sempre...
- Bom dia, meu amor – Ele disse sentado sobre a janela.
- Bom dia – Eu sussurrei baixinho.
Ele se levantou, sentou-se ao meu lado e beijou minha testa, depois eu me levantei desci as escadas e fui em direção a cozinha. Quando me virei, Derick estava atrás de mim. Para que eu não gritasse, ele segurou minha boca e sussurrou baixinho:
- Silêncio. Não grite. Só quero falar com você, Emily – Ele soltou minha boca, deixando-a livre para que eu gritasse, mas não consegui.
- Diga, Derick. O que você quer comigo? – Eu disse olhando-o fixamente.
- Nada de mais. Só queria conversar com você sem a presença de Dominic – Eu, desconfiada, o olhei torto.
Subi as escadas e disse a Dominic :
- Dominic, eu preciso dar uma volta. – Cheguei perto dele e lhe deu um beijo de leve. 
Ele me olhou e segurou minha mão.
- Então vamos, Emy... – Ele sussurrou. 
Eu o encarei.
- Mas sozinha, Dominic, por favor. – Eu o olhei com um olhar de tristeza  e o deixei. 
Só vi a hora que ele pulou a janela e sumiu entre as arvores ...
Desci as escadas rapidamente e Derick estava me esperando sentando nó sofá .
- Vamos Emily ? – Ele estendeu a mão ma minha direção. 
Passei reto e peguei o casaco.
- Vamos, mas não espere que eu segure a sua mão não é, Derick ?
Ele abaixou a cabeça e saiu andando e eu  o segui. Chegamos em um lugar repleto de arvores.
- Você precisa confiar em mim Emy. – Ele me olhou, fitando meus olhos com os seus.
- Depois do que você fez? – Eu continuei encarando-o.
- Sim... me perdoe? – Ele segurou minha mão e eu senti sinceridade em sua voz. 
Eu o abracei, mas Dominic apareceu, justo naquela hora.
Eu podia o ver apertando seus dentes e seu maxilar truncando, e ele cerrando os punhos com toda força. Me afastei de Derick e olhei para Dominic, fazendo um sinal de que nada estava acontecendo, mas ele não deu a mínima e voou para cima de Derick. Eu tentei parar a briga, mas não deu certo. Era tudo muito rápido. Me lembrei que podia conversar com Dominic por pensamentos, então lhe disse: “Dominic, por favor, pare! você pode o machucá-lo!”.
Vi que sua expressão havia mudado, ele lançou Derick em uma árvore , seus olhos ficaram negros de repente aquele prateado lunar havia sumido, deixando-se tomar pela obscuridade da ira. Percebi que ele não estava em si... Nunca o vi tão furioso como ele estava naquele momento.
Ele me encarou ferozmente e sumiu como poeira soprada ao vento. Derick reclamou baixo, à tal ponto que eu não conseguir escutar o que ele dizia.
- Derick! - Corri até ele. - Você está bem? - Eu me ajoelhei ao seu lado.
- Sim... Só um pouco dolorido. - Ele examinou os braços.
- Me desculpe por isso... Não sei o que deu nele... - Eu murmurei envergonhada.
- Você está comigo. Não precisa de mais nada pra que ele se enfureça. - Ele se levantou e me estendeu a mão.
Agarrei firme em sua mão e me levantei.



Continua...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sexta-feira, 3 de fevereiro Pt. 4

Dominic o levou para minha casa e o deitou no sofá, ainda inconsciente.
- Você vai ter que fazer isso. - Ele estava sério.
- Não! Eu não posso! - Cobri a boca. - Não vou conseguir parar. - Sussurrei.
Ele silenciou, fixou os olhos no chão.
- É seu... - Ele se levantou e saiu.
Sentei-me ao lado do garoto, morto, eu imagino. Levantei-me novamente, andei de um lado para o outro, suspirei.
- Tudo bem... Emy, fica calma. Você consegue. - Eu murmurei para mim mesma.
Sentei-me novamente ao lado do garoto, peguei seu pulso e o mordi. Seu sangue era doce; quanto mais eu o bebia, mais vontade tinha de beber. Senti um toque leve em meu ombro. Soltei o braço do menino e escondi a face.
- O que foi que eu fiz... - Eu murmurei em meio às lágrimas.
- Seguiu seu instinto. - Ele falou baixo.
Olhei para minhas mãos ensanguentadas, corri até o banheiro e me lavei. Me sentei no chão do banheiro e me escorei na parede. Dominic subiu e se sentou ao meu lado.
- O que está acontecendo? - Ele falou doce, porém sério.
- Eu não sei. - Eu o abracei forte.
Ele me afastou dele, olhou bem no fundo dos meus olhos e disse:
- Não posso mais confiar em você. - E sumiu no vento.

Acordei atordoada, deitada no gramado verde novamente. Me levantei e procurei Dominic. Ele estava escorado em uma árvore, na sombra, me observando.
- Você demorou pra acordar, Emy. - Ele sorriu gentilmente
- Que horas são? - Eu murmurei.
Ele olhou para o relógio no pulso.
- Dezoito horas, trinta e sete minutos e três segundos. - Ele sorriu escancaradamente.
- Minha nossa... - Pus a mão na cabeça. - Tive outro pesadelo. Mas esse foi... tão real.
- Pense nele outra vez, vou ver o que aconteceu.
Me aproximei dele e revi a cada pedaço do meu sonho ruim. Dominic estava concentrado. De vez em quando arregalava os olhos, espantado.
- Nossa... Isso nunca aconteceria! Eu jamais te abandonaria numa hora dessas! Esse seria o momento em que você mais precisaria de mim! - Ele Me abraçou forte.
- Dominic, me ajuda! Eu estou me sentindo um monstro! Por favor, não deixa eu ser assim! - Eu chorei.
- Fique calma, minha Emy. - Ele me segurou fortemente em seus braços.
Esperamos o sol se por por completo para voltarmos pra casa. A lua não deu seu brilho aquela noite, o céu estava coberto de cinza. Íamos andando vagarosamente, ouvindo os trovões que estremeciam o chão e observando os raios que cortavam o céu escuro revelando a densa camada de nuvens.
Na metade do caminho, a chuva deu o ar de sua graça. Caia sobre nós como agulhinhas bem fininhas, mas sem machucar. O vento começava a ficar cada vez mais frio. Dominic me cedeu seu casaco, por que só o meu não era suficiente.
Chegamos diante da minha casa, escura.
- Tem alguém aí... - Dominic sussurrou e passou um braço ao redor de minha cintura.
- Derick? - Supus.
- Exato. - Ele me apertou mais ainda contra seu corpo.
- Pode ficar calmo. Ele não fará nada que possa me ferir. - Eu sorri de leve para ele.
Ele me soltou e eu abri a porta, que já estava destrancada.
- Emily? - Eu escutei a voz familiar de Derick.
- Derick? - Perguntei pra confirmar.
- Emy! - Ele veio até mim e me abraçou forte. - Como você cresceu! Está... tão linda. - Ele fixou seus olhos, agora alaranjados, nos meus.
- Olá, Derick. - Dominic enfatizou sua presença.
- Dominic. - Derick o cumprimentou friamente.
- Pois é... - Eu disse meio sem jeito. - Eu cresci. - Corei de leve.
- Espera. Tem algo errado aqui. Você realmente cresceu. O que aconteceu? Pensei que Roney tinha transformado você! - Ele estava espantando.
- Mesticismo. Sou metade vampira, metade humana. Ainda resta uma Emily aqui. - Eu ri baixo.
- Que bom. É dessa Emily que eu senti falta. - Ele me olhou docemente e sorriu.
Sorri de volta para ele. Dominic puxou-me pelo braço.
- Derick, será que você poderia, por favor, sair daqui? - Dominic estava nervoso. - Eu realmente não queria ser chato, mas não aguento conviver com você em um mesmo lugar.
- Quer que eu vá, Emy? - Derick me olhou com aqueles olhos persuasivos que ele sempre teve, desde que o vi.
- Tira esses olhos dela, Derick! Deixe-a pensar por si! - Dominic brigou com ele.
A luz se apagou. Um momento inoportuno para uma queda de luz.
- Acho melhor eu ir mesmo. - Derick saiu pela porta e sumiu.
Fiquei tentando entender aquela cena, mas desisti quando vi que nada fazia sentido.
- Emily, me desculpe. Eu... - Ele tentou se explicar.
- Tudo bem. Na verdade, nem sei o que ele estava fazendo aqui. - Eu ri baixo.
Ele sorriu. Acarinhou de leve o meu rosto, beijou minha testa, depois meus lábios e, em seguida, meu pescoço. Me arrepiei toda. Beijei-o também, ele se encolheu e riu baixo. Me pegou nos braços com muita facilidade e me levou até meu quarto. Me pôs suavemente sobre a cama e se sentou ao meu lado.
- Você é perfeita. - Ele me fitou com aqueles olhos doces de sempre.
- Obrigada. - Eu beijei seu rosto delicadamente.
Ele fechou os olhos e suspirou. Deitei-me na cama, encarando o teto. Ele se deitou ao meu lado.
- Emy... - Ele me chamou.
Eu me virei para ele e ele me beijou delicadamente. Aquela era a primeira vez que estar perto dele me deu calor. Tirei o casaco e joguei em um canto do quarto. Ele roçou o nariz em meu pescoço.
- Eu te amo... - Ele sussurrou.
Eu ri baixo e o beijei. Ele se sentou na cama e me prendeu entre os braços e minha cama. Aproximou vagarosamente seu rosto do meu e me beijou intensamente. Levantei-me um pouco e puxei seu casaco. Atirei-o junto ao meu. Ele se afastou rapidamente de mim e riu baixo.
- Me desculpe. - Ele murmurou.
- Imagina... - Eu ri.
- Quer comer alguma coisa? - Ele murmurou, deitando-se ao meu lado novamente.
- Não. Tudo o que eu quero está aqui. - Eu murmurei.

Ficamos conversando por toda a noite; até que eu dormi.
Naquela noite, Dominic estava deitado ao meu lado. nenhum pesadelo se arriscava a se aproximar de nós.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Sexta-feira, 3 de fevereiro Pt. 3

Abri meus olhos, estava no meu quarto, iluminado pela luz mortiça do sol poente. Minha cabeça doía muito. Me sentei na cama e fiquei um pouco tonta. Suspirei profundamente e continuei sentada.
- Emily? - Escutei minha voz favorita.
- Oi... - Eu murmurei roucamente.
- O que houve? Não se sente bem? - Ele se ajoelhou diante de mim.
- Não... - Eu continuava rouca. - Estou tonta, me sinto fraca, minha cabeça dói... - Eu sibilei.
Ele não disse nada; apenas me fitou profundamente nos olhos.
- Não sei o que você tem. Não consigo te sondar direito. Tem algo errado. - Ele murmurou.
- Estou com sede. - Escondi a face entre as mãos.
- Quer caçar? - Ele acariciou minhas mãos.
- Me leve pro centro da cidade? Preciso tomar um ar, só isso. - Eu me levantei.
Dominic levantou-se rapidamente e desceu as escadas. Eu o segui; passei diante do espelho e observei que meus olhos estavam escuros.
Desci as escadas correndo e saí de casa. Dominic me esperava à sombra de uma árvore. Eu o olhei rapidamente, mas ele notou o breu nos meus olhos.
- Você precisa caçar, Emy. - Ele segurou minha mão.
Puxei minha mão rapidamente.
- Eu estou bem! - Eu disse lenta e rispidamente.
Ele fixou os olhos em mim com certo ar de raiva; seu maxilar estava travado, seus olhos eram inexpressivos. Não baixei minha guarda. Continuei andando, passando tranquilamente entre os trechos iluminados pelo sol, enquanto Dominic andava pela sobra, fugindo dele.
Um garoto de aproximadamente catorze ou quinze anos passou  por mim, me encarou e riu. Creio que ele não deveria ter feito isso.
Parei bruscamente, virei-me para trás e o chamei.
- Ei, garoto!- Eu gritei. - Qual é o seu problema?
Ele se virou vagarosamente para trás.
- Eu? - Ele me olhou com um olhar desafiador.
- Sim, você. - Andei até ele.
- Não tenho nenhum problema, moça. - Ele me encarava sério; os olhinhos puxados fixos nos meus.
- Não gosto que riam de mim, sabe... - Eu murmurei.
- Hum... - Ele deu ares desinteressados.
Agarrei-o pelo pescoço num reflexo rápido. O garoto simplesmente desmaiou.
- Emily! - Dominic gritou.
Meus olhos voaram para ele; ele estava apavorado. Olhei para o que segurava em minhas mãos e fiquei ainda mais apavorada que ele. Soltei o garoto rapidamente. Ele estava inconsciente. Me ajoelhei ao lado do menino e encostei meu ouvido em seu peito. Ele não respirava, seu coração não batia.
- Dominic. - Eu olhei para ele, meus olhos negros estavam apavorados.
Ele engoliu seco e se aproximou de mim. Pegou o garoto nos braços e Encarou-o fixamente.
- Ele ainda tem chance de viver. - Ele me olhou nos olhos, parecendo bravo. - Mas você sabe como.
Eu realmente sabia. Ele tinha que ser transformado. Sem opções.

Continua...

Sexta-feira, 3 de fevereiro Pt. 2

Deitamos os dois no gramado macio e verde. Ele virou-se para mim e eu para ele.
- Você fica mais linda a cada dia que passa... - Ele me fitou nos olhos, sereno, doce.
Eu sorri timidamente.
- Como você faz isso? - Eu murmurei.
- Isso o que? - Ele disse inocente.
- Me deixar feito uma idiota... Completamente sem reação. - Expliquei vidrada em seus olhos iluminados pela lua que já se punha.
- Imagina... Só digo verdades, Emily. - Ele acariciou meu rosto.
Comecei a ficar sonolenta, provavelmente obra de Dominic.
- Não brigue com o sono, Emy. Durma logo. - Ele sussurrou e sorriu.
- Não. Quero ficar com você... - Eu balbuciei de olhos fechados.
- Quer ficar comigo, é? - Ele continuava sussurrando. - Tudo bem. Casa comigo então? - Ele sussurrou perto do meu ouvido.
Não consegui responder; estava muito cansada. Ele riu baixinho e sussurrou:
- Durma...
Simplesmente apaguei.

Sexta-feira, 3 de fevereiro Pt. 1

- Não dormi bem essa noite. - Eu estava tensa; os olhos dele me encaravam atentos.
- O que houve? - Ele se sentou ao meu lado, na cama.
- Tive pesadelos a noite toda. - Reclamei murmurando.
Eu estava acordada fazia três horas; eram quatro e meia da madrugada. Dominic saíra para uma caçada enquanto eu tentei dormir depois de um dia exaustivo de faculdade.
- E o que sonhou? - Dominic me sondava; queria visualizar meu pesadelo.
- Eu estava andando por um corredor do que parecia ser um castelo. Ângela correu até mim, me abraçou, disse que sentia minha falta. Eu a ataquei... eu a matei! - Me encolhi.
- Nossa. E o que mais? - Ele disse suave.
- Bem... - Continuei um pouco temerosa e apreensiva. - Você chegou correndo... chamando Ângela. Quando você a viu estirada no chão... - Eu parei.
Ele emudeceu. Imagino que estivesse lendo meus pensamentos pela cara que fez.
- Nunca faria isso com você. Mesmo que você... fosse realmente assim. E eu sei que você não é. - Ele sussurrou.
Eu o abracei forte e suspirei profundamente. Senti seu cheiro, enlouqueci. Nunca estive tão certa de que não amaria mais ninguém a não ser ele.
- O que você acha de darmos uma volta, pra ver se você esquece esse pesadelo ruim. - Ele se levantou e me puxou para junto de seu corpo perfeito, beijando minha testa de leve.
Assenti, calada.
Descemos as escadas e saímos pela porta, o que ele sempre fazia quando estava comigo - diferente de quando estava sozinho.
Fomos caminhando por entre algumas árvores até chegarmos em um campo aberto, de onde se via, ainda, a lua, esperando que o sol nascesse. 


Continua...

Passam-se os Anos...

Bom.. Resumindo os fatos atuais...
Eu me formei há três anos.
Eu e Dominic continuamos juntos, firmes e fortes; meus instintos vampíricos se acalmaram aos poucos. Três aniversários meus - dos muitos que eu ainda viveria - se passaram. Ele estava comigo nesses anos que se passaram, ele está comigo hoje. Tenho vinte anos... Ainda não sei bem o que é ser adulta.
Toda noite Dominic vem me visitar, sempre belo, sempre perfeito. Ele me espera dormir, ele me espera acordar, continua saltando a janela - e eu ainda acho graça.
De tempos em tempos vamos visitar meus pais à noite e voltamos pela madrugada, quase voando.

O restante dos sombrios nunca mais apareceu; Derick não mais me procurou, nunca mais ouvi falar de Joseph, Ella ou Nancy - e não reclamo por isso.
Veremos como se seguirão nossas vidas.

Perfeitas...

Eternas...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Terça-Feira, 30 de abril

Descemos, pegamos minhas coisas e seguimos para a saída do aeroporto, sempre atentos ao nosso redor. Nancy estava à espreita; Ella também. Ambas ocultas na escuridão da noite. Meus passos eram vacilantes e velozes por entre as pessoas que chegavam e saiam do lugar.
- Dominic, como ficam nossas aulas? - Eu resolvi criar qualquer assunto pra me livrar da quela tensão horrorosa.
- Está cansada? Se estiver não precisa ir. - Ele não olhou para mim ao perguntar.
- Não, não estou... - Eu disse desanimada.
- Quando chegarmos na sua casa, você descansa, come alguma coisa. Preciso caçar. - Ele olhou para mim; os olhos negros como a noite.
Desviei os olhos; o medo me fazia ignorante.
Entramos em um táxi, Dominic deu o endereço da minha casa e o motorista acelerou. Enquanto seguíamos para minha casa, me escorei no ombro de Dominic. O sono estava querendo falar intimamente comigo, mas estando ao lado dele não me deixaria levar pelo cansaço.
Depois de alguns minutos de silêncio, chegamos a minha casa. Eu estava de olhos fechados, mas ainda estava acordada.
- Emy? - Dominic me chamou carinhosamente.
- Estou acordada. - Eu sorri de leve.
- Que bom. Já chegamos. - Ele acarinhou minha face.
Abri os olhos e o encarei. Ele ficou sério olhando para mim.
- Seus olhos estão escuros. - Ele murmurou.
Acenei negativamente com a cabeça. Ele riu baixo. Saímos do carro, peguei minha bolsa no pota malas e tentei pagar o motorista. Digo tentei por que minha mão travou dentro da bolsa.
- Deixa que eu pago. - Dominic manteve-se sério.
Nem consegui dizer nada. Só revirei os olhos e suspirei.
O taxista se foi, enfim minha boca destravou.
- Pedi pra você pagar? - Eu disse rispidamente.
- Eu dei alguma opção pra você? - Ele respondeu no mesmo nível.
Senti uma pontada de raiva em sua voz, então resolvi me calar. Me encolhi e abri a porta rapidamente.
Tudo estava em ordem, como havia deixado.
Me sentei no sofá e larguei a bolsa ao lado dele. Fiquei quietinha, sem falar uma só palavra. Dominic entrou alguns segundos depois.
- Emily... - Ele murmurou e se sentou ao meu lado.
Não respondi, só olhei para ele, meio chateada.
- Me desculpe, meu amor. Não quis falar daquele jeito com você. - Ele parecia realmente arrependido.
- Eu é que peço desculpas. Acho que estou mesmo cansada. Nem pretendo ir pra aula hoje. - Murmurei desanimada.
- Você merece descansar. - Ele continuava sério, seus olhos me fitavam, negros.
- E você precisa caçar. - Me levantei e subi as escadas.
Me sentei na cama, suspirei profundamente. Dominic apareceu diante dos meus olhos, sequer o vi chegar. Ele  não falou nada. Simplesmente se aproximou de mim, me obrigando a me inclinar para trás. Ele me beijou violentamente. Murmurei seu nome, mas ele não ligou. Continuou me beijando, até que eu estivesse deitada.
- Dominic, por favor, para! - Eu me exaltei um pouco.
Ele se afastou bruscamente de mim. Seus olhos continuavam escuros. Ele se jogou no chão e escondeu o rosto.
- Me desculpe! - Ouvi sua voz desesperada e abafada pelos braços.
Corri até ele e o abracei.
- Dominic, por favor, vá caçar antes que você morra! - Eu sibilei.
- Só morro se não tiver você. - Ele sussurrou e me beijou novamente.
- Vai, vai rápido! - Me levantei e o ajudei a levantar.
Ele correu e saltou através da janela. Me joguei sobre a cama. Suspirei profundamente. Me levantei outra vez, desci até a cozinha e preparei qualquer coisa pra comer. Comi, mas só aquilo não me supriu. Fiquei com medo de que só sangue resolvesse minha fome. Me apoiei no balcão e resolvi comer mais, porém o resultado foi o mesmo. Eu continuava com fome.
- Argh! Droga! - Praguejei alto.
Subi pro quarto novamente, me atirei na cama outra vez.
- Não, não, por favor! - Cobri o rosto e comecei a murmurar desesperada.
Dominic Saltou a janela. Ainda não tinha caçado, pela cor de seus olhos.
- O que faz aqui? Não pedi pra ir caçar? - Eu me levantei rapidamente.
- Ouvi seus pensamentos. Você quer ir comigo? - Ele parecia um pouco mais calmo.
Hesitei um pouco.
- Tudo bem. - Fiquei nauseada.
Saímos da minha casa e nos embrenhamos na floresta. Minha fome era tanta que meu instinto caçador já sabia o que fazer para caçar sem falhas. Me escondi entre as samambaias altas e as árvores envelhecidas. Um filhotinho de veado pastava tranquilamente. Suspirei silenciosamente e saltei sobre o animal. O bichinho me viu e correu. Corri atrás dele, o que não foi difícil. Arremessei-me sobre o animalzinho e o agarrei pelas patas traseiras. Ele caiu e se agitou um pouco. Agarrei-o pelo pescoço e torci sua cabeça. Ele morreu logo depois que seu pescoço estalou. Comecei a chorar, me senti mal por ter matado aquele animalzinho, mas antes um veado do que um humano.
Dominic chegou correndo, muito silencioso.
- Emily. Está tudo bem? - Ele se agachou ao meu lado.
- Me sinto culpada. Mas é preciso. - Fechei os olhos e mordi o pescoço do veadinho.
Quando engoli o sangue do animal, senti algo estranho. Um enjoo, mas minha fome passava aos poucos. Abri os olhos vagarosamente, fitei minhas mãos, ensanguentadas; minha boca estava toda suja de sangue.
- Vamos pra casa. Não aguento mais isso. - Eu estava trêmula.
Dominic passou um braço por minha cintura e me guiou para fora da mata densa. Estava amanhecendo quando chegamos diante da minha casa.
- Fica comigo, por favor. - Eu encarei seus olhos, agora docemente prateados novamente.
- Sempre, minha Emy. - Ele afagou minha face apavorada e manchada de sangue.
Abracei-o forte fazendo-o tropeçar nos pés e cair de costas no asfalto umedecido pelo sereno. Ele me fitou no mais profundo do meu olhar. Levantei-me rapidamente, meio cambaleante.
- Tudo bem? - Ele  murmurou em meu ouvido.
- Aham. - Assenti, meio tonta. - Só fiquei... - Me encolhi.
Ele riu e entramos em minha casa.
- Tome um banho, relaxe, descanse. - Ele beijou o alto da minha testa.
Sorri para ele, subimos as escadas juntos, ele se sentou em uma cadeira no meu quarto. Selecionei minhas roupas, peguei minha toalha e entrei no banheiro.
Me despi vagarosamente, amontoei minhas roupas - sujas de sangue - em um canto do banheiro e liguei o chuveiro. Chequei a temperatura da água; estava boa. Me meti embaixo do chuveiro e observei a água avermelhada escorrendo pelo piso branco do box. Fechei os olhos e prossegui com o banho. Terminei; estava, finalmente, limpa. Me enxuguei rapidamente, me vesti e saí do quarto enxugando os cabelos. Dominic estava deitado na cama, encarando o teto, sério.
Eu ri baixinho e me atirei por cima dele. Ouvi a cama estalar.
- Nossa. Como eu sou gorda. - Eu ri.
- Não fale assim de você. Você é perfeita. A garota mais linda do mundo. É única, amável, gentil... - Ele acarinhou meu rosto e fixou seus olhos nos meus.
- Vou ficar mal acostumada desse jeito. - Eu ri.
Ele riu baixinho.
- Vai dormir? - Ele murmurou; sua voz fazia meus olhos se fecharem aos poucos.
- Se você continuar falando assim comigo eu vou. - Me deitei ao seu lado e fechei os olhos.
Ele começou a cantarolar bem baixinho no meu ouvido. Eu ri. Mesmo que fosse engraçado, aquilo me dava sono. Dormi.
Quando acordei, eu estava coberta, Dominic não estava ali, eram dezoito horas. Sentei-me na cama, ainda sonolenta. Pensei comigo: "Coisa estranha. Acabei de caçar e dormi.".
Como ainda estava cansada, me deitei novamente. Fiquei encarando o teto, pensando na minha vida, ou seja, pensando em Dominic.
- Ela acordou... - Ele cantarolou.
- Mas já está pensando em dormir outra vez... - Cantarolei em resposta a ele.
Ele riu e apareceu sentado na minha cama. Se deitou do meu lado e virou para mim.
- Você é tão perfeita... Me considero a pessoa mais sortuda do mundo. - Ele sussurrou; senti seu hálito fresco em meus lábios.
- Eu não sou perfeita. Sou completa, isso sim. - Afirmei. - Tenho você. - Sorri.
Ele sorriu de volta pra mim. Sorriu aquele riso magnífico que só ele tinha.
- Vou "dormir" com você hoje, o que acha? - Ele sussurrava.
- Perfeito... - balbuciei.
Ele riu baixo. Estava muito cansada, então acabei dormindo outra vez.

domingo, 1 de abril de 2012

... Dom + Emy ...


Eu Te Amo...

Segunda-feira, 29 de abril

Quando novamente despertei, eu estava em meu quarto, deitada em minha cama, olhando pra o teto. Tudo não passou de um sonho. Me levantei. Dominic estava sentado ao lado da minha cama, tenso, sério.
— Oi. – Cumprimentei docemente.
— Emily! – Ele se sentou ao meu lado, me abraçou forte e me beijou docemente os lábios.
Senti algo estranho em seu toque. Era como se ele fosse um humano, já não era mais gelado como antes.
— Dominic… tem alguma coisa errada aqui. – Eu me afastei devagar.
Ele se calou, seu olhar era triste. Ele me guiou pelo ombro até o espelho. Olhei meu reflexo, não vi nada de diferente.
— Olha que coisa linda... – Ele murmurou sorrindo.
Sorri também. Ele Ficou olhando meu reflexo no espelho. Olhei pra o reflexo e meu sorriso se desfez e foi substituído por um surto de pavor.
— O que… é isso? – Eu observei no lugar de dentes, presas em minha boca.
— Emily, você foi transformada. – Ele murmurou desanimado.
Deslizei minha mão sobre meu peito, não senti meu coração bater. Minha pele estava branca, meus olhos tomados de azul escuro.
Suspirei e sorri. Virei-me para Dominic.
— Posso ser só sua agora. – Sussurrei sobre seus lábios.
Ele sorriu meio forçado e me beijou. Passou dos lábios ao meu pescoço e travou.
— O que foi? – Sussurrei.
Ele virou-me para meu reflexo no espelho e deslizou a gola da minha blusa até meu braço, bem devagar. Fechei os olhos e suspirei. Abri os olhos e vi a marca da mordida no meu ombro.
Entendi o motivo pelo qual Dominic travou ao se aproximar da marca. Eu servia de lembrança do pior pesadelo dele. Ele não queria que eu fosse um monstro, por que ele se achava um monstro.
— Dominic... – Deslizei minha mão sobre seu rosto, agora não tão frio quanto antes.
Ele olhou pra mim, triste, abalado.
— Eu te amo. Não me importo de ser o que sou, desde que esteja com você. – Sorri amavelmente.
Ele sorriu bem de leve, entrelaçou os dedos em meus cabelos e me beijou. Beijou-me como nunca antes, algo muito intenso e vivo! Saltei sobre ele e entrelacei meus tornozelos em seu tronco. Ele me segurou e deu alguns passos pra trás até bater em uma parede. Soltei minhas pernas do corpo dele e me afastei um pouco.
— Quantos segundos? – Dominic estava… ousado, digamos assim.
— Acho que passou dos cinco de sempre. – Eu ri baixo.
— Ótimo. – Ele grunhiu e saltou sobre mim, me empurrando pra cima da cama.
 A cena era essa: Eu deitada na cama, agora uma imortal vampira, louca de sede; sobre mim, um imortal vampiro, lindo e perfeito, louco por mim. Agarrei-me ao seu pescoço e o beijei intensamente.
Ele se levantou rapidamente, suspirou, sentou-se na cama, sorriu torto.
— O que está aprontando? – Me levantei ajeitando os cabelos.
— Nada. Só me lembrei do seu corpo irresistível aos meus olhos. – Ele murmurou, um sorriso sedutor nos lábios.
Mordi o canto do lábio inferior e o olhei de canto de olho. Ele se virou para mim e me puxou pra perto dele.
— Eu te amo. – Ele sussurrou sobre meus lábios.
— Eu também. – Murmurei e o beijei novamente.
Abri o zíper do seu casaco até embaixo, ele abriu o meu. Passeei minha mão sobre suas costas, sob a camiseta branca de mangas longas. Ele parou de me beijar, se afastou um pouco de mim, me abraçou forte.
— O que aconteceu? – Sussurrei.
— Não é por que agora somos iguais que podemos dar um passo a mais. – Ele murmurou convicto.
— Me desculpe, mas essa sede incontrolável me faz te querer tanto... – Expliquei.
— Você precisa caçar. – Ele se afastou de mim. — Mas antes, posso tentar uma coisa?
— Sim.
— Me dá um soco. – Ele ficou os olhos no chão, sério.
— O que?! Não! Você ficou doido? – Me espantei.
— Anda logo, Emily. – Ele continuou sério.
Suspirei e fiz o que ele pediu. Ele foi arremessado contra a parede, que se partiu.
— Desculpa! – Cobri a boca com ambas as mãos.
— Potência. – Ele murmurou.
— O que? – Me levantei e o ajudei a levantar.
— Tenho quase certeza que você possui potência como centro das habilidades. – Ele segurou minha mão e se levantou.
— E por que tem tanta certeza? – Fiquei curiosa.
— Olha. – Ele apontou pra parede rachada.
— Ah. Entendi. – Fiquei meio sem entender.
— Você transformou Roney em pó. Precisa de mais alguma prova? – Ele disse em tom de obviedade.
Fiquei quieta e acenei negativamente com a cabeça.
— O que mais eu devo ter? – Pensei.
— Presença. – Ele riu.
— Acho que não. Não consigo te manipular. – Fiquei brava e cruzei os braços.
Ele riu e me abraçou.
— Você fica mais bonita sorrindo. E comigo sua presença funciona. – Ele continuava rindo.
Sorri pra ele e beijei sua face de leve. Andy saltou a janela.
— E aí, como ela está? – Ela estava atordoada.
— Olá, Ângela. Eu estou bem. – Eu disse desanimada.
Ela viu meu desânimo aparente e me abraçou forte. Sua força já não era tão brutal como antes.
— Sente algo de diferente em você? – Ela murmurou.
— Tem algo arranhando na minha garganta. – Pigarreei.
— Ela ainda não caçou. Temos que levá-la pra floresta. - Dominic se manifestou.
Ângela assentiu e se sentou sobre a janela.
— Encontrei. – Ela disse séria depois de alguns segundos.
— Vamos. – Dominic me pegou nos braços e saltou a janela.
Nos embrenhamos silenciosamente dentro de uma floresta.
— Você agora vai ter que aprender a arte da caça pra sobreviver. – Ele sussurrava. — Primeiro localize sua presa.
Tentei procurar com os olhos, mas não encontrei.
— Ouça. – Ele sibilou bem baixinho. — Sinta o cheiro, capte os movimentos. – Ele começou a caminhar agachado como um leão.
Fiquei imóvel no mesmo lugar para não causar problemas ou assustar a vítima. A única coisa que consegui ver foi um raio negro arremessando-se contra um veado solitário. Me apavorei e dei alguns passos pra frente quando não mais vi Dominic. Quando finalmente o enxerguei, ele estava com os olhos fixos no animalzinho, que tentava se libertar do aperto violento dele.
Quando o bichinho finalmente aquietou-se para a morte, Dominic o pegou nos braços e o trouxe para mim.
— Não é difícil. Sei que não é nada agradável, mas é necessário. – Ele permanecia sussurrando.
Quando olhei para o animalzinho que ainda mantinha os olhinhos abertos, fiquei nauseada. Uma coisa subiu por minha garganta e desceu novamente.
— Não consigo. – Murmurei.
— Você precisa disso! – Ele insistiu.
— Não posso tentar comer o que eu comia antes? – Sugeri. — Se eu não conseguir, prometo que… faço isso.
— Tudo bem. – Ele largou o bichinho no chão.
Voltamos para minha casa. Abri a geladeira e preparei um sanduíche de queijo. Encarei o alimento, com medo de não gostar e ter que beber o sangue de um veadinho inocente. Mordi um pedaço. Adorei! E me senti aliviada por isso. Continuei comendo normalmente.
— Consigo sobreviver só com comida humana. – Eu larguei o prato no balcão.
— Isso é muito estranho. – Dominic alisou o queixo.
— Por quê? Eu tenho que gostar de sangue animal ou humano? – Fiquei curiosa.
— Era pra você estar enlouquecida sem isso. – Ele murmurou me fitando nos olhos.
Cocei a cabeça, em dúvida. Será que eu era só uma vampira temporária? Será que eu era anormal? Minha testa estava com uma interrogação desenhada.
— Precisamos falar com Andrews. – Ele suspirou, confuso.
Assenti uma só vez com a cabeça. Fomos até a casa dos D’mitri. Entrei pela porta. Andrews, de longe já vinha com uma expressão séria.
— Emily, se sente bem? – Ele deu ares de preocupação.
— Sim, eu estou. – Respondi séria.
— Que bom. – Ele sorriu.
Dominic aproximou-se de nós dois, atordoado e confuso ainda.
— Andrews, preciso que você faça uns testes com ela. Ela é diferente de tudo que eu já vi antes! – Ele se atordoou.
— Tudo bem, Dominic. Acalme-se. – Ele tocou o ombro do filho.
Dominic suspirou e se afastou de nós.
— Pode ver comigo, por favor, Emily? – Andrews foi gentil.
Sorri e o acompanhei até uma sala escura, de carpete vermelho, uma mesa linda de madeira antiga a envernizada, quadros de paisagens, livros antigos e enormes.
— Sente-se. – Ele se sentou em uma cadeira diante de um divã de couro.
Sentei-me no divã e me ajeitei.
— Só vou lhe fazer algumas perguntas, tudo bem? – Ele mantinha-se sério.
— Sim.
Ele pigarreou antes de começar a falar.
— Soube que você mesma matou Roney com suas mãos. – Ele me fitou sério.
— Não gosto de pensar assim, mas é verdade. Eu… eu o vi correndo na minha direção e ele me mordeu… foi horrível.
— O que te fez… cometer esse ato?
— Eu não suportei o ouvir rir daquele jeito. Ele estava caçoando da minha fraqueza. – Cerrei os punhos.
— Entendo. O que aconteceu antes?
— Minha mordida não doeu, mas eu pude sentir uma corrente elétrica passar por dentro de mim. Era muito forte. E quando eu gritei com a dor, os vidros se quebraram. – Expliquei as cenas que eu pude ver. — Depois não vi mais nada.
Ele anotou algo em um caderno azul.
— Quanto à sua caçada. O que me diz? – Ele mantinha os olhos fixos no caderno.
Andrews já sabia onde eu tinha ido, isso não me espantava nem um pouco. Ele era dono de autos auspícios.
— Não precisei caçar. Um sanduíche de queijo me supriu. – Eu ri.
Ele não riu. Ficou olhando espantado para mim. Voltou os olhos para o caderno e anotou nervosamente alguma coisa. Olhou para mim novamente, voltou a fitar o caderno, folhou, folhou, folhou e voltou a olhar pra mim.
— E agora, o que você sente? – Ele me fitou sério.
— Hum... Eu me sinto… acordada, sem fome, não estou cansada; estou até meio agitada. – Sorri.
— Incrível. – Ele se levantou.
Fiquei no mesmo lugar onde eu estava. Andrews abriu uma cortina. A luz do pôr-do-sol me cegou por alguns segundos, mas logo me acostumei.
Ele se sentou ao meu lado.
— A luz incomoda você? – Ele sorriu.
— Não. – Sorri para ele também.
Ele voltou a se sentar no mesmo lugar e anotar mais alguma coisa no tal caderninho.
— Emily, você é realmente muito difícil de desvendar. – Ele mantinha-se sério.
— Nossa… sério? – Me espantei.
— Sim. Eu achei que você fosse uma vampira comum, dotada de potência e qualquer outro talento, mas não é bem assim. – Ele alisou o queixo como Dominic fazia quando estava tomando uma decisão. — A luz não te incomoda, você não se sente mal por estar em uma sala com claridade. Isso não me espanta muito. Mas mesmo assim, você é diferente.
— Mas isso… é ruim? – Torci para que ele dissesse “não”.
— Para nós, seus aliados, não é tão bom. Mas isso nos dá uma vantagem contra nossos inimigos. Eles não reconhecerão seus talentos. E creio que até já sei o que você é exatamente. – Ele sorriu enquanto analisava a situação.
— No que eu me transformei?! – Eu estava afoita.
— Você é uma híbrida, mas tem grande chance de se transformar em uma vampira poderosa. Sua potência é muito forte; Nancy precisa se esforçar pra chegar ao nível vocálico que alcança. Você nem faz esforço! – Ele se admirou.
— Híbrida, do tipo… mestiça… é isso? – Eu ainda tinha lá minhas dúvidas.
— Sim. Ao que me parece, ainda resta DNA humano no seu organismo. Isso pode ou não se transformar. – Ele explicou.
— E como é que eu vou saber de todos os meus dons?
— Você vai descobrindo aos poucos. Eu demorei em média um mês pra descobrir todas as minhas disciplinas. A primeira foi os auspícios.
— O que facilita o aprendizado das outras. – Eu ri.
— Dominic está afoito pra saber que conclusões nós tiramos. – Ele se levantou e abriu a porta para mim. — Vamos lá.
Eu o segui. Dominic estava realmente afoito, andando de um lado pra outro, nervoso.
— E então? Descobriram? – Ele se aproximou de nós antes que chegássemos a ele.
— Sou uma híbrida. Misto de vampiro e humano. – Expliquei, ainda confusa.
— Híbrida?! Mas como? – Ele se espantou.
— Na verdade isso é um mistério até pra mim, Dominic. – Andrews respondeu.
— Desde o começo suspeitei que essa garota não era comum. – Ele beijou minha testa e sorriu.
— É… notei que eu sou anormal. – Eu ri.
Ele riu e beijou meu rosto. Sentamos no sofá da sala enorme. Andrews subiu as escadas ainda fixo nas anotações do caderno.
— Andrews já determinou suas habilidades? – Ele inclinou-se para frente e se escorou sobre os joelhos.
— Ele disse que, com certeza, eu possuo potência. Quando estourei os vidros atingi uma potência vocal tão alta quanto a de Nancy. – Expliquei o que Andrews me disse.
— Eu notei. – Ele estendeu a mão com um pequeno corte.
— Desculpa. – Eu disse timidamente.
— Uma coisa que eu notei na sua genética humana: você tem uma cicatrização muito rápida. – Ele alisou o queixo como seu pai fazia quando estava pensando.
— Eu achei isso muito… estranho. Mas é bom, se for ver pelo lado legal das coisas. – Pensei um pouco.
Ele fixou os olhos no meu ombro, onde eu tinha sido mordida.
— Você deve ter o dom da cura. Ou alguma coisa assim. – Ele pensou.
— Será? – Puxei minha gola até o ombro pra enxergar a marca.
Estava realmente débil. Quase não aparecia.
“Tenho quase certeza.”, pude ouvir em meus pensamentos.
— Mas como tem tanta certeza assim? – Me virei para ele.
— Que foi? Eu não disse nada! – Ele me olhou com uma cara estranha.
— Claro que disse! Eu ouvi! – Insisti.
Ele ficou me encarando, estático. Em seguida, sua boca se abriu. Ele aprecia apavorado.
— O que foi? – Eu me assustei.
“Pode me ouvir, não pode?”, pude ouvir em meus pensamentos, mas não vi sua boca se mexer. Arregalei os olhos e saltei pra trás.
— Tenho leitura mental! – Berrei.
— Isso não pode ser possível! – Ele estava neurótico.
— Com certeza eu devo ter as mesmas habilidades da Andy. – Pensei.
— Mas com o dobro de força que ela tem em cada disciplina. – Ele me fitou sério.
— Ei! Espera! A Andy não tem leitura mental! – Concluí depois de pensar por alguns segundos.
— O surgimento das habilidades não se explica por genética. E o que se adquire geneticamente vem em baixo nível. – Ele analisou a situação.
— As habilidades genéticas são adquiridas de acordo com o vampiro que transformou, não é? – Eu estava querendo entender.
— Sim. E algumas são adquiridas… por si mesmo. – Ele procurou palavras.
— Já sei o que houve. – Concluí. — Roney me transformou, o que me faz possuir um pouco de cada disciplina que ele tem. Os auspícios não pertencem a ele, então recebi de mim.
— A leitura mental só é adquirida geneticamente ou com um alto nível de auspícios. Então esse deve ser seu extra.
— Trabalhamos bem juntos. – Eu ri.
— Com certeza. – Ele sorriu e me abraçou.
Andrews desceu as escadas, com o caderno nas mãos e ainda fixo nas anotações.
— Concluí uma coisa impressionante a respeito dessa menina. – Ele se sentou ao meu lado.
— O que concluiu? – Eu estava ansiosa.
— Você é uma “vampira de disciplinas”. – Ele disse tranquilamente enquanto escrevia mais alguma coisa no caderno.
— Como assim?
Ele segurou minha mão e olhou-me nos olhos. “Sei que pode ouvir meus pensamentos e posso ouvir os seus”, ouvi na minha cabeça. “Sim, eu posso te ouvir.”, respondi. Ele sorriu. “Sai dos meus pensamentos, Dominic!”, pensei e olhei para ele.
— Desculpe, eu estava curioso. – Ele se retraiu.
Eu ri, Andrews também.
— Acho que no momento que você tocou em cada um de nós, que possui uma habilidade, você “sugou”, por assim dizer – Ele demonstrou aspas com as mãos. — o poder de cada um de nós, ou parte dele.
— Eu tenho praticamente todas as habilidades que conheci até agora! Todo mudo encostou em mim! – Eu ergui as mãos.
— É verdade. Você tem um grande poder em mãos! – Dominic murmurou baixo.
— Tenho que começar a estudar cada um dos meus adversários. – Analisei delicadamente a situação.
— Com certeza. Estamos, agora, muito mais forte do que eles. – Andrews sorriu imponente.
Peguei o caderno de Andrews e arranquei a última folha. Peguei a caneta e comecei a anotar as habilidades que eu me lembrava:

Presença, Quimerismo, Potência, Fortitude, Rapidez, Metamorfose, Auspícios...

Parei de anotar por que não me lembrei de mais nenhum.
— Deixa isso pra lá, Emily. Depois eu te entrego os nomes deles com cada habilidade que eles têm. – Dominic tirou o caderno das minhas mãos.
— Tudo bem. – Eu bocejei e esfreguei os olhos.
— Está com sono? – Ele passou o braço por cima dos meus ombros.
— Acho que sim. Minha parte humana ainda resiste. – Eu me aconcheguei em seu corpo.
— Vamos fazer um teste enquanto vamos para sua casa, pode ser? – Ele se levantou devagar.
— Sim, pode. – Me levantei também.
Andamos até fora da casa.
— Você só vai me acompanhar, ok? – Ele segurou minha mão.
— Tudo bem. – Eu estava um pouco temerosa.
Começamos a correr, o que não foi difícil pra mim. Ou Dominic estava correndo devagar, ou eu estava correndo muito rápido, o que era mais provável. Olhei pra o meu lado, a paisagem era distorcida pela velocidade.
Em segundos já estávamos diante da minha casa.
— Você é ainda mais rápida que eu. Dei tudo de mim pra correr do seu lado. – Ele sorriu e me abraçou.
— Ah! Você está falando isso só pra me agradar. – Eu o abracei também.
— Não! É sério! Estou até cansado. – Ele riu.
Eu ri também. Entramos pra dentro de casa, ele sentou no sofá. Me sentei ao seu lado e me deitei sobre suas pernas. Ele me fitou delicadamente, se inclinou um pouco e beijou minha testa. Ficou afagando meus cabelos.
— Você é linda. – Ele sorriu.
— E você é cego! – Eu ri.
— Eu? Cego? – Ele riu. — Posso te ver tão bem que enxergo que seus olhos estão olhando pra minha boca nesse momento. – Ele sorriu.
Ele acertara meu ponto de visão, desviei os olhos.
— E agora desviou os olhos para meus olhos, por que ficou com vergonha e continua rosinha. – Ele riu.
Eu ri e pensei “para com isso!”.
— Gosto de ver você rubra. – Eu o ouvi pensar.
— Você é terrível! – Me levantei.
— Não. Sou só um bobo apaixonado por uma garota incrível. – Ele sorriu e escondeu uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
Fiquei tímida e muda. Ele tinha essa capacidade: me fazer calar a boca.
— Você deve pensar que eu estou brincando, mas você está mais linda a cada dia que passa. Você se torna mais irresistível a cada momento. – Ele falou sério enquanto fitava meus olhos.
Ele prendia facilmente minha atenção nos olhos dele. Me ganhava tranquilamente só com um olhar.
— Descobri mais uma coisa sobre minhas habilidades. – Eu o encarei.
— E o que é? – Ele me abraçou vagarosamente.
— Não sou imune a sua presença. – Eu disse séria.
— E eu não sou à sua. Então estamos quites. – Ele sorriu e beijou minha testa.
— Eu não devo ter presença. Não consigo manipular você! Você não faz nada que eu peço. – Referi-me a minha transformação.
— Eu não resisto a você, tendo você presença ou não. – Ele me fitou nos olhos, me deixando sem palavras.
Sacudi a cabeça pra me desfazer daquela prisão encantadora.
— Viu isso?! Não consigo raciocinar! – Eu me exaltei.
— Eu não sou imune, mas posso te ensinar a tentar resistir. – Ele sorriu torto.
— Me ensine, então. Você nem parece que nota quanto eu faço alguma coisa. – Eu reclamei baixinho.
Ele fixou os olhos nos meus, manteve-se sério e concentrado. Comecei a ficar boba com aqueles olhos maravilhosos olhando para mim.
— Concentre-se. – Ele sussurrou.
Seu hálito frio me fez tontear. Fechei os olhos e suspirei. Abri-os novamente e fixei meus olhos nos dele. Concentrei-me apenas nas íris prateadas, sem notar o complemento maravilhoso que me admirava seriamente.
— Está se saindo bem. – Ele sussurrou e aproximou-se mais de mim.
Fechei os olhos e tentei beijá-lo, mas ele se afastou.
— Eu disse para se concentrar. – Ele murmurou.
— Então pare de me provocar! – Sussurrei.
— Os possuidores de presença vão fazer de tudo pra te seduzir. De qualquer jeito. Você não pode deixar que eles enrolem você. – Ele estava ainda sério.
— Tudo bem. – Suspirei e voltei a me concentrar.
Encarei-o profundamente nos olhos tentando agora seduzi-lo como ele fazia comigo. Ele riu baixo.
— Já pensei em me entregar pra esse azul, mas acho melhor não. – Ele fitou meus olhos.
— Concentre-se. – Repeti suas palavras.
Ele sorriu torto e fechou os olhos.
— Abra os olhos. – Sussurrei bem perto de sua face.
Ele abriu vagarosamente os olhos e me fitou.
— Agora me beije. – Sorri torto.
Ele ficou sem ação, suspirou e beijou minha testa. Em seguida, se afastou um pouco e sorriu.
— Incrível. Não consegui ouvir meus próprios pensamentos agora. – Ele fixou os olhos no chão.
— Tenho que tentar com outras pessoas. Você é suspeito em se entregar. – Eu ri.
— Não confia em mim? – Ele me encarou nos olhos.
Inclinei a cabeça para o lado e ri baixo.
— Confio, mas prefiro você quando não está tentando me seduzir, por que eu não me sinto tão indefesa. – Eu murmurei.
— Você é esperta. Vai saber se safar dessa. – Ele sorriu.
— Pelo que entendi, se eu combater presença com presença, vou ter mais força pra resistir à presença. É isso? – Eu queria esclarecimentos.
       — Depende. – Ele fitou o vazio. — Pra encarar presença, eu tento usar a minha, o que faz eu me concentrar em derrubar outra pessoa, fazendo com que eu não me concentre no meu oponente. Entende? – Ele me explicou gesticulando com as mãos.
— Perfeitamente. – Sorri. — Vamos brincar mais disso. Gostei desse joguinho de encarar. – Eu ri.
— Eu também adorei. – Ele sorriu e se aproximou de mim.
Me afastei dele devagar.
— Concentre-se. – Sussurrei e ri baixo.
— Depois o terrível da história sou eu. – Ele murmurou.
Eu ri e o beijei de leve.
— Eu amo você! – Ele sussurrou sobre meus lábios.
— Não tanto quanto eu. – Murmurei.
Abracei-o forte. Ele me ajeitou entre suas pernas e eu me escorei em seu tórax. Ele se embalava de um lado pra o outro. Aquilo me deixou com sono; eu até parecia uma criança.
— Você está me fazendo ficar com sono? – Murmurei de olhos fechados.
— Não. Está com sono? – Ele sussurrou em meu ouvido.
— Com você me embalando assim eu fico com sono. – Eu ri baixo.
— Ah, minha criancinha. – Ele riu e beijou meu pescoço.
— Criancinha? Ah para! – Eu ri.
— Sabe que eu estou brincando. Você não é uma criança. Você é uma mulher; madura e muito inteligente, resumindo em uma palavra: Perfeita, em todos os sentidos. – Ele sorriu.
Sorri e me virei de frente pra ele. Fiquei ajoelhada, sentada sobre meus calcanhares, entre suas pernas longas, com os braços estendidos sobre seus ombros. Ele me fitou nos olhos, sorriu novamente e beijou minha testa.
— Dominic... – Chamei suspirando.
— Sim, Emily? – Ele murmurou.
— Quando vou poder ver minha mãe? – Olhei para o relógio que marcava 18:37.
— Se quiser podemos ir agora. Topa? – Ele sorriu.
— Sim. – Me alegrei.
Me levantei rapidamente da cama, ele me seguiu. Peguei uma muda de roupa, vesti um casaco um pouco mais grosso e atei ao meu pescoço uma manta vermelha.
— Por que tudo isso? – Ele riu baixo ao me ver vestida “pra guerra”.
— Em Ohio é frio. Ainda mais no inverno. – Justifiquei.
— Olha... – Ele falou em tom agudo com um pouco de ironia. — Acho que você não vai mais sentir nada. Nem frio e nem calor. Nunca mais! – Ele riu.
— Será que eu não vou sentir no meu DNA humano? – Abotoei o casaco.
— Pode sentir, mas eu não sinto. – Ele sorriu torto, imponente.
Dei de ombros, peguei minha bolsa onde eu pus minhas roupas e saí. Tranquei a casa e suspirei.
— Espero que fique tudo bem aqui. – Parei diante da porta.
— Vai ficar. – Ele me abraçou pela cintura.
Sorri ao ver sua tentativa perfeita de me alegrar e me acalmar.
— Como quer ir pra lá? De avião, de táxi, correndo mesmo, quer que eu te leve nas costas? – Ele riu.
— Acredito que preciso treinar minhas habilidades, então, vamos pela floresta, onde não se tem muita visibilidade. Se eu precisar derrubar alguma coisa, eu derrubo e ninguém nota.
— Bem pensando. – Ele sorriu. — Vamos lá.
Ele me pegou pela mão e corremos até a floresta. Corremos sobre as árvores mais alguns quilômetros pra dentro da mata. Depois de alguns metros andados, me sentei em um galho grosso de uma árvore.
— Está tudo bem? – Dominic parou de pé ao meu lado.
— Acho melhor pegarmos um avião. – Eu estava cansada.
Incrível como meu DNA humano era predominante em mim!
— Tudo bem. – Ele me pôs nas costas e saímos da mata.
Por coincidência estávamos bem perto de uma base da força aérea que guardava a fronteia contra estrangeiros clandestinos.
— Hora de testar sua presença. – Ele murmurou.
— Como assim? – Sussurrei.
— Peça para que um dos pilotos nos leve em um helicóptero até Ohio. E que nos escolte até chegarmos lá. – Ele sorriu; seu riso era tenebrosamente encantador.
Meus pés tocaram o solo e eu já começava a me preparar pra “seduzir” os homens da força aérea. Chegamos em frente ao portão, dois homens enormes guardavam-no com armas pesadas e carrancas bizarras.
— Com licença. – Murmurei para um deles.
O homem me encarou descaradamente.
— Sim? – Sua voz me fez estremecer.
Suspirei e prossegui.
— Pode nos deixar entrar para que possamos falar com seu superior? – Eu o fitei nos olhos.
O Homem riu alto, o que demonstrou que meu truque não funcionou.
— Vão embora daqui! Vocês não têm permissão para entrar no quartel general. – Ele disse com sua voz rouca e assustadora.
Me encolhi e me agarrei a Dominic.
— Por favor, nos deixe entrar. – Dominic encarou o moço.
O homem continuou sério e falou alguma coisa no radiofone pedindo autorização para abrir o portão. A permissão foi concedida e abriram o portão para nós. Encarei Dominic.
— Por que não funcionou comigo? – Eu sussurrei.
— Está desatenta. Precisa se concentrar mais. – Ele murmurou com os olhos fixos no moço a nossa frente.
— Hum. – Murmurei frustrada.
 Entramos em uma sala onde um senhor estava concentrado em mapas e desenhava neles com um compasso.
— Senhor, esses jovens desejam falar com o senhor. – O homem bateu continência.
— Obrigado, sargento. Dispensado. – O senhor se levantou.
O Homem saiu de cabeça erguida, rígido.
— Quem são vocês? – O senhor tinha uma voz rouca e muito sinistra.
Dominic me empurrou de leve como quem diz: É sua vez.
— Eu me chamo Emily Anders e esse é Dominic D’mitri, senhor. Precisamos que um dos seus pilotos nos leve até Ohio. – Me aproximei dele e o fitei nos olhos.
— Deixem-me fazer alguns comentários. Primeiro: vocês nem deveriam estar aqui, afinal isso aqui não é um playground! E segundo – Ele parou de falar.
Virei-me para trás, Dominic o fitava com olhos intensos. Mais um manipulado por ele. Placar: Dominic, um ponto; eu, zero! Eu sabia que alguém nos levaria até lá, por que ninguém escapava dele.
— Venham comigo. – O general se levantou; sua aparente desatenção demonstrava claramente que Dominic o estava controlando.
Segui o velho, revoltada. Cruzei os braços e fixei os olhos no chão. Dominic passou os braços por cima do meu ombro.
— Você está bem? – Ele murmurou.
— Não. – Sussurrei.
Notei que o velho parou e pareceu despertar de um transe.
— Dominic! O general! – Sussurrei.
Ele voltou a olhar para ele. Seus olhos eram um raio prateado.
— Essa foi por pouco. Desconcentrei quando olhei pra você. – Ele sussurrou e segurou firme minha mão.
Revirei os olhos. Já estava começando a achar que essa coisa de concentração não passava de um mero clichê. Chegamos a um helicóptero todo malhado de vários tons de verde, coisa do exército.
— Piloto! – O general bateu continência.
— Sim, senhor! – Ele se pôs em posição de sentido.
— Leve esses dois jovens até Ohio e faça-os chegar com segurança lá. Imediatamente! – O velho foi firme.
— Mas… senhor. – O piloto ficou desconfiado.
— Imediatamente! – O general repetiu berrando.
— Sim, senhor. – O piloto murmurou submisso.
O general se retirou, de cabeça erguida, marchando. O piloto nos encarou, sério.
— Entrem. – Ele subiu a bordo e colocou os fones de ouvido enormes.
Entramos no helicóptero e nos posicionamos nos devidos lugares. Ajustamos os itens de segurança.
— Pra que precisam de segurança? – O Piloto disse imponente.
— Por que podemos morrer aqui. – Eu disse em tom de obviedade.
— Você talvez, mas e ele? – O moço se virou pra trás.
Ficamos ambos sem palavras, sem entender o que o piloto queria dizer.
— Um caçador. – Dominic disse sério.
— Você eu notei na hora que é vampiro, mas e a mocinha? Presa sua? – Ele voltou a olhar pra frente.
Dominic se atirou pra cima do moço, mas foi contido pelo cinto de segurança.
— Pelo que notei não. – O piloto disse, frio.
— Ela não é presa minha! – Ele respondeu com repulsa. — Ela é minha namorada. – Ele murmurou.
— Sua namorada? – Ele virou pra trás.
Dominic rosnou baixo.
— É… até que ela é bonitinha. – O moço riu ironicamente.
Bufei e revirei os olhos.
— Quer, por favor, nos respeitar? – Eu pedi delicadamente.
— Tudo bem, mas só por que você pediu, minha gracinha. – Ele disse; havia malicia em sua voz.
O moço foi fazendo gracinhas até pousarmos em Ohio, mas preferi ficar quieta. Dominic não se continha e ficava rosnando baixo quase o tempo todo.
Agradecemos o piloto estranho e ele se foi. Peguei meu celular nas mãos, trêmulas com o frio. Dominic me viu tremer e me abraçou. Pude sentir seu corpo frio.
— Dominic, por que estou sentindo você tão frio? – Eu murmurei.
— Sua genética humana deve estar predominante. – Ele explicou tranquilo.
— Mas eu sentia você menos frio do que agora, mesmo antes de ser transformada. – Me arrepiei com o frio.
— Deve ser por causa do frio daqui. – Ele observou a cidade ao redor.
Torci a face e vesti o casaco grosso. Me encolhi toda, meti as mãos nos bolsos. Não havia jeito de me aquecer! Eu tremia e tremia. Dominic me abraçou, mas só diminuía mais minha temperatura corpórea.
— Dominic… eu… estou a b-beira de uma hip-hipotermia! – Meus dentes batiam de frio.
— Ai, Emily! – Ele se preocupou. — Não sei mais o que fazer por você!
Chegamos no ponto de ônibus, me sentei no banco e abri minha bolsa. Procurei mais alguma coisa que eu pudesse vestir, mas não encontrei. Eu olhei pras pessoas e notei que só eu estava cheia de roupas grossas e pesadas. As pessoas vestiam camisas de mangas compridas e calças jeans, nada de muito pesado. No máximo um casaco de malha leve.
— Emy, não é possível que você esteja sentindo tanto frio! – Dominic se sentou ao meu lado.
— Mas estou! Sinto na pele dez graus negativos! – Eu tremia.
Dominic olhou para um lado e me cutucou. Olhei para onde ele estava olhando, um termômetro que marcava quinze graus.
— Acho melhor nos hospedarmos em algum hotel aqui. – Ele olhou ao redor, procurando alguma coisa.
— Não, Dominic! Eu tenho que ver minha mãe e meu pai! – Eu insisti.
— Sabe onde fica a casa da sua mãe? – Ele murmurou.
— Não. – Murmurei timidamente.
— E como é que você me traz em um lugar onde você nem sabe onde fica?! – Ele sussurrou nervosamente.
— Vou ligar pra ela. – Peguei o celular.
Digitei o telefone da minha mãe e esperei o tom de chamada. Depois de duas tentativas, minha mãe atendeu.
— Mãe! Finalmente você atendeu. – Eu escandalizei.
— Filha! Que bom falar com você! – Ela estava feliz. — Desculpe a demora. Estava arrumando umas coisas aqui.
— Mãe, escuta. Eu e Dominic estamos aqui, em Ohio, mas não fazemos nem ideia de onde estamos! Pode vir nos buscar? – Eu fixei os olhos em um restaurante à minha frente.
Minha mãe falou alguma coisa, mas não consegui prestar atenção. Estava distraída observando um moço que era muito parecido com meu pai.
— Mãe, o papai está em casa? – Continuei olhando pra o moço.
— Não, ele saiu. Está no centro da cidade. – Ela respondeu.
— Acho que o achei aqui. – Eu ri.
Andei mais alguns passos à frente e reconheci meu pai de longe.
— Pai! – Chamei.
Ele se virou para mim e pareceu não acreditar no que estava vendo.
— Emy? – Ele andou até mim.
— Pai! Que saudades! – Abracei-o forte.
— Emily! Você cresceu tanto! – Ele me abraçou bem forte.
Eu ainda tremia de frio.
— Você está bem, filha? – Ele se afastou de mim.
Dominic se aproximou de nós.
— Ela está à beira de uma hipotermia. – Ele riu e me abraçou.
— Vamos pra casa. Você precisa se aquecer. – Meu pai praticamente me arrancou do abraço de Dominic.
Olhei meu pai de canto de olho, ele estava sério. Entramos em um carro preto, meu pai nos levou até a casa dele, que podia se chamar de minha. Chegamos diante de uma casinha pequena, de dois andares, toda branca.
Entrei na casa, Dominic veio atrás de mim e meu pai foi estacionar o carro.
— Emily! – Minha mãe correu até mim e me abraçou.
— Mãe! Senti tanto a sua falta! – Eu a abracei forte.
— Ah, minha Emy! Você está tão diferente! – Ela mexeu no meu cabelo.
— Mesmo? – Eu não notava diferença em mim.
— Mas continua linda como sempre foi. – Ela afagou meu rosto.
— Olá, senhora Anders! – Dominic cumprimentou minha mãe.
— Olá, Dominic. – Ela sorriu.
Sentei-me no sofá da sala, Dominic sentou-se ao meu lado. Meu pai entrou e Dominic soltou a mão que me segurava.
— Já venho com um casaco pra você, filha. – Ele encarou Dominic e sorriu pra mim.
Ele subiu as escadas; notei que Dominic estava tenso, por que não conseguia parar quieto com as pernas.
— Calma. Ele ainda não acostumou, mas se você conseguiu derreter o coração da minha mãe, fará o mesmo com meu pai. – Sorri para ele.
— Pega, Emily. – Meu pai tocou o casaco pra mim.
Levantei-me rapidamente e tentei pegar o casaco, mas alguém pegou antes de mim.
— O que está acontecendo com você? – Dominic murmurou.
— Eu também não sei. – Peguei o casaco das mãos dele.
Vesti o casaco preto da minha mãe e meti as mãos nos bolsos. Elas não aqueciam de jeito nenhum! Mesmo depois de muito tempo tentando aquecer as mãos elas permaneciam frias.
— Filha, você se sente bem? – Minha mãe se sentou ao meu lado.
— Sim, mãe. Só estou com muito frio. – Olhei para o termômetro na parede, que marcava cinco graus.
— O tempo varia muito aqui, principalmente no inverno. – Ela passou um braço sobre meus ombros.
— É… eu notei. – Dei de ombros.
— Vou fazer um chocolate quente pra você. – Ela se levantou. — Quer também, Dominic?
— Não, obrigado, senhora Anders. – Ele sorriu.
Minha mãe sorriu e foi pra cozinha. Meu pai se sentou no pequeno espaço que havia entre mim e Dominic; por pouco não se sentou no meu colo!
— Mas e então, Emily. O que me conta de novo? Como anda a Pensilvânia? – Ele bateu as palmas das mãos, fazendo um ruído ensurdecedor.
Me encolhi quando ele bateu as mãos.
— Nada de novo, tudo na mesma, sem novidades. – Respondi enfadada.
— Ah. – Ele desfez o sorriso que levava nos lábios.
O silêncio pairou entre nós. Até que minha mãe o rompeu.
— Seu chocolate, filha. Cuidado. – Ela me entregou nas mãos. — Está quente.
Peguei cautelosamente a caneca nas mãos. Dei, cuidadosamente, o primeiro gole, sempre cuidando pra não queimar a boca. Notei algo estranho: o chocolate nem estava tão quente. Estava morno. Continuei tomando normalmente, até que terminei alguns segundos depois.
Minha mãe ainda tomava o dela, estava recém na metade. Eu ri baixo.
— Já acabou? – Ela me olhou com surpresa.
Eu ri baixo. Subi as escadas pra explorar a casa. Parei no meio dos degraus e me virei para trás. Dominic permanecia sentado no sofá, fitando-me com seus olhos amáveis e ferventes. Com um pensamento convidei-o a me seguir. De imediato ele se levantou e me seguiu escada a cima.
Creio que no andar de cima estava mais quente; minhas mãos começavam a se aquecer aos poucos, nada muito satisfatório. Dominic caminhava ao meu lado, me observando com os cantos dos olhos, sério.
Bastou que eu me distraísse por um segundo, olhando para uma foto da minha infância, e ele me prensou contra a parede, trancando minha passagem com seus braços fortes, cobertos por um casaco preto.
Encarei-o apavorada, sem reação.
— Tem que ficar mais atenta. – Ele aproximou seu rosto do meu pescoço e sussurrou.
Assenti nervosamente com a cabeça, emudecida de medo. Me acalmei rapidamente ao encarar aqueles olhos brandos, leves e prateados penetrando os meus olhos. Continuei enrijecida, encostada na parede, presa pelo corpo dele. Ele aproximou seu rosto do meu e tentou me beijar, mas meu pai o interrompeu com um pigarro óbvio.
Dominic se afastou rapidamente de mim e baixou a cabeça, tentando esconder um pouco de vergonha.
— Pretendem ficar? – Meu pai encarou as costas de Dominic, que ainda tentava se reconstruir depois do susto que tomou.
— Não, pai. Voltamos ainda hoje. – Respondi convicta.
— Tudo bem, acho melhor serem rápidos. – Meu pai encarou o relógio de pulso. — O próximo voo sai daqui à uma hora. Até chegar ao aeroporto, comprar as passagens e pegar o avião vai demorar um pouco. – Ele continuava sério.
— Tudo bem, pai. Vou me despedir da mamãe e já saímos daqui. Pode ser? – Lancei um olhar doce para ele.
Ele assentiu com a cabeça uma só vez e entrou em um dos quartos do corredor. Puxei Dominic pela mão e desci as escadas.
— Mãe, nós temos que ir. – Eu gritei para ela.
— Mas já? – Ela choramingou. — Fiquei mais um pouquinho.
— Não dá, mãe. Está tarde. – Eu sorri para ela.
— Tudo bem, mas eu faço questão de ir com vocês até o aeroporto. – Ela sorriu.
— Tudo bem! – Eu ri baixo.
Meu pai desceu as escadas e passou por nós.
— Vamos lá. Vocês não podem perder o voo. – Ele continuava carrancudo.
Dominic enrolou seu braço na minha cintura.
— Acho que eu não deveria ter entrado. – Ele sussurrou.
— Claro que deveria, Dominic. Não seja bobo. Minha mãe começou a gostar de você. – Murmurei para ele.
— Ok, mas não posso conviver bem com a sua família se não me dou bem com o líder dela. – Ele continuava sibilando, quase inaudível.
Ouvi buzinas vindas da rua; meu pai estava quase morrendo de pressa. Minha mãe correu pra rua com passinhos ligeiros. Puxei Dominic pela mão, atrás da minha mãe.
Minha mãe trancou a casa e entrou no carro. Entramos eu e Dominic no banco de trás. Meu pai ligou o carro e acelerou ao máximo, os pneus cantaram alto!
— Querido! Pra quê tanta pressa? – Ela murmurou.
— Pai, calma, por favor. O voo pode esperar. Nunca sai na hora prevista.
— Desculpem-me estou um pouco nervoso. – Ele falou baixo.
Dominic cruzou seus dedos nos meus e me olhou fundo nos olhos, como quem diz algo. Eu sorri, entendendo o que ele faria. Ele fechou os olhos e os abriu vagarosamente, focado no vazio, com os olhos baixos. Meu pai aos poucos se acalmava. Dominic era expert no que fazia.
Chegamos ao aeroporto, descemos do carro; papai e Dominic ajudaram com as malas. Compramos as passagens e esperamos o avião chegar. Não demorou muito para que nosso voo chegasse. Embarcamos primeiro as bagagens e, depois, entramos no avião logo que nos despedimos dos meus pais.
Sentamos ao lado da janela; eu junto a ela e Dominic ao lado do corredor.
— Seu pai tem medo de perder a garotinha dele. – Ele murmurou enquanto acariciava minha mão esquerda.
— Ah, ótimo! – Bufei. — Vou ter que convencer meu pai agora. Como se minha mãe já não bastasse. – Revirei os olhos.
Ele riu baixo. Encarei-o de um modo grotesco. Ele continuou rindo.
— Dominic, por que você ri?! Isso não tem graça! É difícil, sabia? – Reclamei.
— Me desculpe, Emily. – Ele continuava sorrindo, mas já não ria como antes.
Me rendi e sorri para ele. Do nada, seu sorriso se desfez e uma expressão pavorosa tomou seu rosto.
— Dominic, o que houve? – Murmurei.
Ele não disse nada. Só olhou ao redor e me abraçou forte.
— Elas estão perto. – Ele sussurrou. — Posso ouvir os pensamentos delas. – Ele continuou apavorado.
— Quem? – Sussurrei.
— Nancy e Ella. – Ele sibilou tão baixo que mal pude escutar.
Quando ouvi o nome da loira e o da ruiva, meu corpo estremeceu e eu me senti gelada. Abracei-me fortemente a Dominic e fechei os olhos, temendo o pior.
— Fique calma, eu estou com você. – Ele beijou minha testa.
— Tenho medo de perder você. – Murmurei quase chorando.
Ele ergueu meu rosto e beijou de leve meus lábios. Quando seus lábios tocaram os meus, vi em minha mente um rápido flash embaçado de Nancy. Me afastei rapidamente e o encarei apavorada.
— Conseguiu entender o que era? – Ele murmurou.
— Não deu pra ver… estava muito embaçado. – Espremi os olhos tentando reconhecer a imagem.
Ele baixou os olhos e sorriu timidamente. Eu sorri, meio sem jeito. Ele ergueu os olhos e me beijou rápida e intensamente.  Tive um pouco de dificuldade de me concentrar na imagem que vi, mas, pelo que consegui ver, ela estava me esperando em um dos portões do aeroporto.
Soltei Dominic rapidamente e tranquei a respiração, dominada pelo temor. Minhas lágrimas não demoraram a verter. Ele me abraçou novamente, forte como antes.
— Não vou deixar que ela encoste em um só fiozinho do seu cabelo, Emily.  – Ele sussurrou enquanto me abraçava forte.
— Eu não quero morrer, Dominic. – Eu disse baixo.
— Você não vai! – Ele se alterou.
— Dominic, nós vimos Nancy, mas… e Ella? – Sequei minhas lágrimas com as mangas do casaco.
— Está aqui. Não vai demorar muito pra aparecer. São muitos pensamentos pra ler… Ella possui o dom da metamorfose. Pode estar transformada em qualquer pessoa. – Ele explicou.
Não consegui dizer nada. Só continuei abraçada nele. A comissária de bordo estacionou o carrinho ao nosso lado.
— Olá. Desejam alguma coisa? – A moça mulata esboçava um sorriso encantador.
— Não, obrigada. – Respondi.
— Emy, você precisa comer. – Dominic murmurou.
Fiz uma careta e sacudi a cabeça.
— Um saquinho de amendoins, que seja. – A moça insistiu.
Olhei para ela; ela parecia ansiosa para que eu pegasse os amendoins, então os peguei. Sorri de um modo forçado. A moça sorriu e se retirou para o fundo do avião.
Fiquei brincando com os amendoins. Derramei o saco no chão quando o avião se agitou e algo caiu na sala da comissária de bordo.
— Atenção, senhores passageiros. Tivemos uma turbulência inesperada. Está tudo sob controle. Sintam-se a vontade e tenham uma boa viagem. – O piloto informou pelo rádio.
A comissária andou até nós novamente, com um sorriso forçado.
— Está tudo bem? – Ela nos fitou com olhos profundos e negros.
Dominic arreganhou os dentes e se lançou contra ela. Eu o segurei.
— Dominic! – Ralhei com ele.
— Eu sabia que você ia aparecer, ruiva! – Ele disse em tom ameaçador, alarmando a todos dentro do avião.
— Senhor, por favor, mantenha-se calmo. – Ela o fitou com olhos inexpressivos.
Dominic enrijeceu-se, fitando-a de um modo absurdo. Ele se recostou na poltrona, ainda fitando a comissária de bordo.
Ela o encarou estranhamente e se retirou. Dominic estava arfante, meio desesperado. Nunca o tinha visto assim, a não ser quando eu corri algum risco.
— Era ela. Tenho certeza. Aqueles pensamentos não me enganam. – Ele continuava tenso, mas já estava mais calmo.
— Acalme-se Dominic. – Eu tentei. — Você pode ter ouvido os pensamentos dela quando ela estava perto da aeromoça.
— Eu ouvi… era ela, sim! – Ele insistiu.
— Olhe para mim. – Eu disse docemente.
Ele, feito criança, recusou-se a direcionar os olhos infinitos para mim.
— Dominic. – Eu o chamei novamente.
Ele olhou com os cantos dos olhos para mim.
— Se você está dizendo, eu acredito em você. – Eu sibilei. — Se acalme. – Eu sorri e segurei seu rosto com ambas as mãos.
Ele pareceu acalmar-se. Ficou mais tranquilo, suspirou e desarmou a postura rígida. Ele me abraçou forte.
— Quando se trata de sua proteção, todos são suspeitos para mim. – Ele sussurrou em meu pescoço, fazendo-me arrepiar.
— Fique calmo. Sei que estou segura com você. – Eu murmurei.
Durante o voo o sono me tomou, acabei adormecendo, mas apenas por alguns minutos. Isso se sucedeu por algumas vezes até chegarmos, pela madrugada, ao aeroporto.