segunda-feira, 2 de abril de 2012

Terça-Feira, 30 de abril

Descemos, pegamos minhas coisas e seguimos para a saída do aeroporto, sempre atentos ao nosso redor. Nancy estava à espreita; Ella também. Ambas ocultas na escuridão da noite. Meus passos eram vacilantes e velozes por entre as pessoas que chegavam e saiam do lugar.
- Dominic, como ficam nossas aulas? - Eu resolvi criar qualquer assunto pra me livrar da quela tensão horrorosa.
- Está cansada? Se estiver não precisa ir. - Ele não olhou para mim ao perguntar.
- Não, não estou... - Eu disse desanimada.
- Quando chegarmos na sua casa, você descansa, come alguma coisa. Preciso caçar. - Ele olhou para mim; os olhos negros como a noite.
Desviei os olhos; o medo me fazia ignorante.
Entramos em um táxi, Dominic deu o endereço da minha casa e o motorista acelerou. Enquanto seguíamos para minha casa, me escorei no ombro de Dominic. O sono estava querendo falar intimamente comigo, mas estando ao lado dele não me deixaria levar pelo cansaço.
Depois de alguns minutos de silêncio, chegamos a minha casa. Eu estava de olhos fechados, mas ainda estava acordada.
- Emy? - Dominic me chamou carinhosamente.
- Estou acordada. - Eu sorri de leve.
- Que bom. Já chegamos. - Ele acarinhou minha face.
Abri os olhos e o encarei. Ele ficou sério olhando para mim.
- Seus olhos estão escuros. - Ele murmurou.
Acenei negativamente com a cabeça. Ele riu baixo. Saímos do carro, peguei minha bolsa no pota malas e tentei pagar o motorista. Digo tentei por que minha mão travou dentro da bolsa.
- Deixa que eu pago. - Dominic manteve-se sério.
Nem consegui dizer nada. Só revirei os olhos e suspirei.
O taxista se foi, enfim minha boca destravou.
- Pedi pra você pagar? - Eu disse rispidamente.
- Eu dei alguma opção pra você? - Ele respondeu no mesmo nível.
Senti uma pontada de raiva em sua voz, então resolvi me calar. Me encolhi e abri a porta rapidamente.
Tudo estava em ordem, como havia deixado.
Me sentei no sofá e larguei a bolsa ao lado dele. Fiquei quietinha, sem falar uma só palavra. Dominic entrou alguns segundos depois.
- Emily... - Ele murmurou e se sentou ao meu lado.
Não respondi, só olhei para ele, meio chateada.
- Me desculpe, meu amor. Não quis falar daquele jeito com você. - Ele parecia realmente arrependido.
- Eu é que peço desculpas. Acho que estou mesmo cansada. Nem pretendo ir pra aula hoje. - Murmurei desanimada.
- Você merece descansar. - Ele continuava sério, seus olhos me fitavam, negros.
- E você precisa caçar. - Me levantei e subi as escadas.
Me sentei na cama, suspirei profundamente. Dominic apareceu diante dos meus olhos, sequer o vi chegar. Ele  não falou nada. Simplesmente se aproximou de mim, me obrigando a me inclinar para trás. Ele me beijou violentamente. Murmurei seu nome, mas ele não ligou. Continuou me beijando, até que eu estivesse deitada.
- Dominic, por favor, para! - Eu me exaltei um pouco.
Ele se afastou bruscamente de mim. Seus olhos continuavam escuros. Ele se jogou no chão e escondeu o rosto.
- Me desculpe! - Ouvi sua voz desesperada e abafada pelos braços.
Corri até ele e o abracei.
- Dominic, por favor, vá caçar antes que você morra! - Eu sibilei.
- Só morro se não tiver você. - Ele sussurrou e me beijou novamente.
- Vai, vai rápido! - Me levantei e o ajudei a levantar.
Ele correu e saltou através da janela. Me joguei sobre a cama. Suspirei profundamente. Me levantei outra vez, desci até a cozinha e preparei qualquer coisa pra comer. Comi, mas só aquilo não me supriu. Fiquei com medo de que só sangue resolvesse minha fome. Me apoiei no balcão e resolvi comer mais, porém o resultado foi o mesmo. Eu continuava com fome.
- Argh! Droga! - Praguejei alto.
Subi pro quarto novamente, me atirei na cama outra vez.
- Não, não, por favor! - Cobri o rosto e comecei a murmurar desesperada.
Dominic Saltou a janela. Ainda não tinha caçado, pela cor de seus olhos.
- O que faz aqui? Não pedi pra ir caçar? - Eu me levantei rapidamente.
- Ouvi seus pensamentos. Você quer ir comigo? - Ele parecia um pouco mais calmo.
Hesitei um pouco.
- Tudo bem. - Fiquei nauseada.
Saímos da minha casa e nos embrenhamos na floresta. Minha fome era tanta que meu instinto caçador já sabia o que fazer para caçar sem falhas. Me escondi entre as samambaias altas e as árvores envelhecidas. Um filhotinho de veado pastava tranquilamente. Suspirei silenciosamente e saltei sobre o animal. O bichinho me viu e correu. Corri atrás dele, o que não foi difícil. Arremessei-me sobre o animalzinho e o agarrei pelas patas traseiras. Ele caiu e se agitou um pouco. Agarrei-o pelo pescoço e torci sua cabeça. Ele morreu logo depois que seu pescoço estalou. Comecei a chorar, me senti mal por ter matado aquele animalzinho, mas antes um veado do que um humano.
Dominic chegou correndo, muito silencioso.
- Emily. Está tudo bem? - Ele se agachou ao meu lado.
- Me sinto culpada. Mas é preciso. - Fechei os olhos e mordi o pescoço do veadinho.
Quando engoli o sangue do animal, senti algo estranho. Um enjoo, mas minha fome passava aos poucos. Abri os olhos vagarosamente, fitei minhas mãos, ensanguentadas; minha boca estava toda suja de sangue.
- Vamos pra casa. Não aguento mais isso. - Eu estava trêmula.
Dominic passou um braço por minha cintura e me guiou para fora da mata densa. Estava amanhecendo quando chegamos diante da minha casa.
- Fica comigo, por favor. - Eu encarei seus olhos, agora docemente prateados novamente.
- Sempre, minha Emy. - Ele afagou minha face apavorada e manchada de sangue.
Abracei-o forte fazendo-o tropeçar nos pés e cair de costas no asfalto umedecido pelo sereno. Ele me fitou no mais profundo do meu olhar. Levantei-me rapidamente, meio cambaleante.
- Tudo bem? - Ele  murmurou em meu ouvido.
- Aham. - Assenti, meio tonta. - Só fiquei... - Me encolhi.
Ele riu e entramos em minha casa.
- Tome um banho, relaxe, descanse. - Ele beijou o alto da minha testa.
Sorri para ele, subimos as escadas juntos, ele se sentou em uma cadeira no meu quarto. Selecionei minhas roupas, peguei minha toalha e entrei no banheiro.
Me despi vagarosamente, amontoei minhas roupas - sujas de sangue - em um canto do banheiro e liguei o chuveiro. Chequei a temperatura da água; estava boa. Me meti embaixo do chuveiro e observei a água avermelhada escorrendo pelo piso branco do box. Fechei os olhos e prossegui com o banho. Terminei; estava, finalmente, limpa. Me enxuguei rapidamente, me vesti e saí do quarto enxugando os cabelos. Dominic estava deitado na cama, encarando o teto, sério.
Eu ri baixinho e me atirei por cima dele. Ouvi a cama estalar.
- Nossa. Como eu sou gorda. - Eu ri.
- Não fale assim de você. Você é perfeita. A garota mais linda do mundo. É única, amável, gentil... - Ele acarinhou meu rosto e fixou seus olhos nos meus.
- Vou ficar mal acostumada desse jeito. - Eu ri.
Ele riu baixinho.
- Vai dormir? - Ele murmurou; sua voz fazia meus olhos se fecharem aos poucos.
- Se você continuar falando assim comigo eu vou. - Me deitei ao seu lado e fechei os olhos.
Ele começou a cantarolar bem baixinho no meu ouvido. Eu ri. Mesmo que fosse engraçado, aquilo me dava sono. Dormi.
Quando acordei, eu estava coberta, Dominic não estava ali, eram dezoito horas. Sentei-me na cama, ainda sonolenta. Pensei comigo: "Coisa estranha. Acabei de caçar e dormi.".
Como ainda estava cansada, me deitei novamente. Fiquei encarando o teto, pensando na minha vida, ou seja, pensando em Dominic.
- Ela acordou... - Ele cantarolou.
- Mas já está pensando em dormir outra vez... - Cantarolei em resposta a ele.
Ele riu e apareceu sentado na minha cama. Se deitou do meu lado e virou para mim.
- Você é tão perfeita... Me considero a pessoa mais sortuda do mundo. - Ele sussurrou; senti seu hálito fresco em meus lábios.
- Eu não sou perfeita. Sou completa, isso sim. - Afirmei. - Tenho você. - Sorri.
Ele sorriu de volta pra mim. Sorriu aquele riso magnífico que só ele tinha.
- Vou "dormir" com você hoje, o que acha? - Ele sussurrava.
- Perfeito... - balbuciei.
Ele riu baixo. Estava muito cansada, então acabei dormindo outra vez.

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