domingo, 1 de abril de 2012

Sexta-feira, 26 abril

06h30min. Meu despertador – que eu chamaria de amolador – me acordou. Levantei de onde eu estava, toda dolorida, minha tala estava encharcada, por que eu dormi com o braço pra fora em plena chuva.
— Ah, droga! – Sacudi o braço e voou água pra todo o lado.
Tirei as bandagens da mão, meu dedo parecia melhor. Não estava nem inchado e nem doendo. Fechei a mão bem devagar… não doeu. Abri e fechei mais algumas vezes, nada de dor. Olhei bem para minhas duas mãos, pra ver se havia alguma anormalidade. Estavam perfeitas.
Resolvi lavar o rosto logo antes que eu ficasse doida. Atirei água fria no rosto e acordei. Me troquei rapidamente e desci as escadas.
— Bom dia Emily. – Minha mãe já estava acordada.
— Mãe! Olha isso! – Mostrei minha mão pra ela.
Abri e fechei a mãos várias vezes, movimentei-a de diversas maneiras.
— Meu Deus… – Minha mãe ficou apavorada.
— Não é demais?! – Eu estava histérica.
— É, sim. Estranho demais! Antes a janela, seu braço intacto. Agora isso! – Ela estava incrédula. — Como pode se recuperar tão rapidamente, Emily?! – Ela deu as costas e continuou fazendo meu café da manhã.
Logo que terminou de fazer, eu comi. Terminei de comer em pouquíssimos instantes. Corri pro banheiro, escovei os dentes, subi as escadas até meu quarto e peguei minha mochila. Desci as escadas correndo.
— Quer que eu leve você, filha? – Mamãe veio secando as mãos em um pano de prato.
— Se pudesse seria melhor. – Não quis atrapalhar.
— Não, não. Estou desocupada.
— Tudo bem então.
Entramos no carro, minha mãe me levou até a escola. Cheguei com folga de tempo. Sentei nas escadas que levavam até minha sala da primeira aula. Ainda não havia visto Dominic, então fiquei olhando pra todos os lados, procurando e procurando.
O sinal tocou e não o vi. Entrei na sala e me sentei no meu lugar. Desanimada, comecei a escrever o que a professora passava no quadro. Alguém bateu na porta, a professora atendeu.
— Está atrasado senhor D’mitri. Entre e se sente. – Ela apontou seu lugar.
Minha mudança de humor foi aparente, mas ele ainda parecia nervoso do acontecido da madrugada do dia de hoje. Sentou-se longe de mim e ficou concentrado no que fazia, a aula inteira, sem sequer dar uma olhadinha pro lado, nem mudar de expressão.
Estranhei seu comportamento e fui descobrir o porquê daquilo na hora do intervalo.
— Dominic! – Eu o chamei, enquanto ele parecia fugir de mim.
Ele parou e baixou a cabeça.
— Sim. – Ele se virou pra mim.
— Por que… está diferente hoje? – Eu estava ofegante, de tanto correr atrás dele.
— Não estou diferente, só estou querendo salvar sua pele. Não quero que sofra quando eu morrer. – Ele se virou para sair da minha frente, porém o agarrei e o virei para mim.
— Fala como se estivesse condenado! – Me apavorei. — Por que pensa tanto em morrer?
— Por que… não sei se vou conseguir ficar vivo enquanto te protejo deles… – Ele respondeu baixo.
— Dominic, por favor, para com isso. Não sabe o quanto isso me faz mal! Não gosto que fique longe de mim e não gosto de ficar longe de você. Você sabe disso! – Eu o abracei.
Ele ficou quieto, só me abraçou forte.
— Me prometeu que nunca me deixaria sozinha. – Eu o lembrei.
— Sim, Emy. Eu prometi e vou cumprir isso, nem que isso custe minha vida! – Ele me abraçou mais forte.
Ele me soltou devagar e entrelaçou os dedos nos meus. Voltamos juntos pra sala de aula, atraindo olhares curiosos por onde passávamos, mas não ligamos.
Prosseguimos na aula até que ela terminou. Como de costume, Dominic me levou em casa, mas desta vez andávamos como… namorados, digamos assim. Andávamos de mãos dadas com os dedos entrelaçados, mas… bem descontraídos. Paramos na frente da minha casa e ficamos conversando. Eu não tinha visto, mas minha mãe estava saindo pela porta pra fazer compras.
— Emily! O que você está fazendo?! – Ela deu um grito.
Soltei a mão dele rapidamente.
— Nada mãe! Só… conversando com… o Dominic. – Quando concluí a frase notei qual era o problema maior.
Minha mãe até apoiava que eu namorasse, mas não apoiava que eu namorasse Dominic! Nem sei por que ela o odiava tanto!
— É melhor eu ir, não é… – Ele murmurou.
— É, é melhor sim. – Minha mãe se intrometeu.
Ele se aproximou do meu rosto pra beijar minha bochecha, mas se afastou rapidamente ao ver o olhar furioso de minha mãe para nós. Logo ele sumiu.
— Entra. – Ela abriu a porta e encarou o chão.
Entrei correndo dentro de casa e me joguei no sofá, lá vinha sermão.
— Emily… o que eu já disse sobre você com esse rapaz? – Ela se pôs de pé na minha frente.
— Que não quer me ver com ele. Eu sei, mãe! A gente só estava conversando! Só isso! Nada de mais! – Tentei explicar.
— Emily, não me interessa! Não quero ver você com esse garoto! Nem que eu tenha que te mudar de escola! – Ela gritou.
Me levantei e a encarei.
— Quer dizer que, por causa de um único garoto, você quer me trocar de escola? – Eu disse pausadamente, contendo minha ira.
— Se for preciso, é isso que eu vou fazer. – Ela me encarou.
Não falei mais nada, meus argumentos tinham acabado.
— Emily. Você sabe que eu apoio que você namore e tudo mais…– Eu a interrompi.
— Mãe! Eu e Dominic não estamos namorando! Você não entende?! – Eu gritei e subi as escadas correndo.
Me joguei em cima da cama e fiquei atirada lá por algumas horas, pensando no que eu faria se tivesse que trocar de escola, se minha mãe ia ou não dar um tiro na cabeça dele, como ela disse que ia fazer. A minha sorte é que eu ainda podia vê-lo à noite, depois que ela dormisse. Mal podia esperar que chegasse a noite para que eu pudesse vê-lo, pudesse abraçá-lo.
Estava tão desanimada que nem quis almoçar. Fiquei no meu quarto, olhando pra rua através da janela. As nuvens estavam densas, mais chuva estava por vir.
Me deitei na cama e esperei a chuva cair pra sair de casa. Estava com vontade de tomar banho de chuva. Ouvi pinguinhos na minha janela e me levantei da cama. Olhei pra fora, estava chovendo.
Desci as escadas e passei por minha mãe.
— Mãe, eu vou sair. – Já ia saindo.
— Mas está chovendo, não é melhor levar um guarda-chuva? – Ela estava sentada no sofá, fazendo tricô.
— Está chovendo… Quem vai pra chuva é pra se molhar. – Eu sorri e saí.
Saí de casa, a chuva caía sobre minha pele como agulhinhas finas e geladas. Uma sensação maravilhosa. Fechei os olhos e suspirei fundo.
Caminhei no meio das poças de água até a praça central. Sentei-me em um banco, no meio da praça, e fiquei olhando a chuva cair forte, as pessoas correndo desesperadas, com o que tinham na mão sobre a cabeça, tentando se proteger da chuva.
— Não sabia que gostava de chuva. – Ele realmente cumpriria a promessa dele enquanto pudesse.
— Pois é… eu gosto… É bom pra esfriar a cabeça. – Joguei a cabeça para trás e deixei a chuva cair sobre meu pescoço.
— Hmm. Sua mãe brigou muito com você? – Ele murmurou, os olhos fixados a sua frente.
— Muito não… Só o básico. – Eu ri, meio sem vontade.
— Desculpe-me. Não queria que sua mãe brigasse com você por minha causa. – Ele continuava com os olhos fixos a sua frente.
— Imagina… – Baixei a cabeça.
Por fim ele olhou pra mim.
— Ainda bem que baixou a cabeça. Estava a ponto de sair correndo daqui. – Ele riu.
— Correr por quê? – Não entendi.
Ele riu, mordeu o lábio inferior e deslizou o indicador sobre a pele do meu pescoço.
— Ah, entendi. – Engoli seco.
— Pode ficar calma. Já… me alimentei… mais cedo. Justamente por isso. Pra poder me conter à noite e ficar um pouco mais com você. – Ele disse sem jeito.
— Isso… é sério? – Eu o fitei nos olhos.
— Muito. Não aguento mais ficar tão pouco tempo… perto de você. Preciso de mais tempo pra… poder te sentir. – Ele murmurou e desviou os olhos.
Eu ri baixo e me levantei. Me pus na frente dele e o puxei pela mão.
— Vamos ver se você me pega! – Dei um tapa no braço dele e corri.
Foi meio inútil, por que todo o lugar que eu pensava em ir ele chegava antes. Corri pro meio das árvores, que serviam de bancos naturais no meio da praça. Não o vi mais, cheguei a pensar que o havia despistado, mas quando me virei, lá estava ele.
— Não pode fugir de mim. – Ele sorriu torto e me agarrou pela cintura.
— É, eu vi. – Eu ri e o abracei forte.
Ele olhou ao redor, não havia ninguém. Me pôs nas costas e saltou. Agarrou-se a um galho e me ajudou a me ajeitar, sentada. Quando consegui me ajeitar, ele se sentou ao meu lado.
A vista dali era linda. Eu podia ver minha casa daquele lugar.
— Gosta? – Ele olhou para mim.
— É lindo… mas… – Pensei em dizer, mas achei melhor não falar nada.
— Diga, por favor. Gostaria muito de ouvir isso de você. – Ele afagou meu cabelo.
— Ok, mas antes, me responde uma coisa.
— O que você quiser. – Ele sorriu.
— Você adora me torturar, não é? Gosta de me ver rubra! Sabe o que penso e me obriga a falar. – Eu escondi o rosto.
— É só pra ter certeza… e… você fica linda rubra. – Ele tocou minha testa.
Eu ri baixo.
— Esse lugar… não é tão lindo quanto… a pessoa que me trouxe aqui. – Eu corei, como de costume.
— Eu te torturo e você mente pra mim. Que coisa feia! – Ele espremeu os olhos prateados claríssimos e exibiu os dentes perfeitos em um sorriso magnífico.
— Não estou mentindo. Você sabe disso. – Eu o fitei.
Ele ficou quieto. Ouvia-se apenas o barulho da chuva caindo nas folhas, os raios que riscavam os céus, o som da minha respiração.
— Emily… – Ele tentou me falar algo, mas se interrompeu.
— Sim? – Me aproximei.
— O que… você diria se… – Ele hesitou. — Esqueça. – Ele pareceu desanimado.
— Fala, por favor. Se eu sou obrigada a dizer o que você já sabe… você tem que dizer o que eu ainda não sei. – Eu ri.
— Mas… você já sabe o que eu vou te falar. Nunca escondi isso de você. Desde que nos vimos pela primeira vez. Sempre assumi o que me passava pela mente quando te via. – Ele murmurou, me fitando nos olhos.
— É só pra ter certeza. – Repeti suas palavras.
— O que você diria… – Ele hesitou mais uma vez. — Se… eu te dissesse que… Não consigo. Não posso fazer isso. – Ele se levantou e ficou de pé no galho onde estávamos sentados.
— Por que não? – Me levantei também, mas quase caí.
Ele me segurou firmemente pela cintura, ficando a milímetros do meu rosto.
— Não posso. – Era só o que ele dizia. — Somos diferentes demais. Não devia te atrapalhar desse jeito. Ainda fiz sua mãe brigar com você. – Ele parecia frustrado consigo mesmo.
— Dominic… minha mãe é que é… paranoica! – Tentei convencê-lo.
— Não, Emy. Ela está certa. Plenamente certa. Eu não sou boa companhia pra você! Você não pode andar com um monstro como eu! – Ele me pegou facilmente nos braços e saltou da árvore.
Parecemos aterrissar sobre um colchão de plumas, nem sequer senti impacto.
— Dominic, se você quer ouvir isso pra te convencer tudo bem… eu… – Minha boca travou.
— Não diga isso. – Ele me fitava, seus olhos eram penetrantes.
— Solta minha boca, por favor. – Eu disse, minha boca mal pronunciava as palavras.
— Você não pode me amar! – Ele gritou e desapareceu.
Fiquei simplesmente sem ação, nem reação, nem palavras, nem pensamentos. Resolvi voltar pra casa e esperar pela noite, a noite que, provavelmente, eu tomaria alguma atitude.
Cheguei em casa, encharcada. Minha roupa escorria água pelo chão.
— Emily, espera! – Minha mãe correu na minha direção. — Vou buscar uma toalha. – Ela voltou pra cozinha.
Voltou com uma toalha rosa na mão e a atirou para mim. Peguei a toalha e sequei o excesso de água do meu corpo. Subi pro meu quarto e peguei uma roupa. Corri pro banheiro, com os pés molhados, quase caí.
Tomei um banho quente, relaxei bem o corpo. Me joguei sobre a cama, meu coração estava apertado, o ar não passava direito por meus pulmões. “Você não pode me amar”… essa frase não saía da minha cabeça. Por que não poderia amá-lo?! Eu não conseguia entender. Todos os motivos que ele me deu para que eu não o amasse foram inúteis! Não me importaria de morrer, desde que eu estivesse com ele. Eu só o queria perto de mim, não importasse o tempo, mas, se fosse pra sempre, que fosse pra sempre! Bastava um minuto sem ele para que eu pirasse! Se ele estava longe, só podia contar com as memórias da minha cabeça fraca!
Comecei a achar que dependia muito dele e isso era um erro. Minha mãe sempre me disse pra eu não depender de garoto nenhum, por mais perfeito que ele fosse, o que era impossível encontrar. Considerei a ideia de esquecê-lo, mas meu corpo não gostou. Toda vez que pensava nisso, meu estômago se revirava e vinham pontadas nas costelas. Eu não queria esquecê-lo e essa era a verdade! Eu o amava demais para apagá-lo das minhas memórias, então resolvi apenas tentar. Ele deveria saber das minhas decisões. Se quisesse mesmo que eu o esquecesse, se afastaria de mim… o que era decepcionante!
Resolvi parar de pensar em bobagem e descer as escadas. Cheguei na cozinha, minha mãe estava fazendo bolinhos.
— Passeou bastante? Aproveitou a chuva? – Ela tirou as luvas térmicas e as colocou sobre a mesa.
Só assenti com a cabeça.
— O que foi? Não gostou de alguma coisa? – Ela se sentou na minha frente e afagou meus cabelos úmidos.
— Realmente não gostei, mas você vai até achar bom. – Escorei a cabeça no braço apoiado na mesa.
— Ah… Brigou com Dominic? – Ela tentou adivinhar.
— Não… só não posso mais gostar dele. – Me levantei.
— Ahm… e por quê? – Ela se levantou e me seguiu.
— Quer mesmo saber? – Eu disse em tom de desafio.
Ela se calou; não precisava saber os motivos pela qual eu não podia amá-lo, só bastava que eu não o amasse.
Subi as escadas novamente e me joguei na cama, de onde eu nunca deveria ter saído!
— Ah! Por que você faz isso comigo?! – Eu gritei.
— Por que é preciso… pena que eu não consigo… – Ele estava sentado na janela do meu quarto.
— Você diz que eu não posso amar você, mas me provoca! Por que faz isso?! – Eu me levantei rapidamente e andei até ele, meus passos eram pesados.
— Isso é, infelizmente, de minha natureza! Já não lhe disse que eu sou um monstro?! – Ele se pôs de pé diante de mim.
— E eu já não te disse que… eu não ligo…? – Engoli seco, minhas lágrimas querendo verter. — Não consigo mais ficar longe de você. – Murmurei.
— Nem eu. – Ele me abraçou.
— Então não fique longe de mim! Não importa o que você seja… eu… amo você! – sussurrei, minhas lágrimas verteram.
Ele se distanciou um pouco de mim.
— Não deveria ter dito isso… – Ele baixou a cabeça.
— E por que não? – Me aproximei novamente.
— Nunca mais vai me ver distante depois disso. – Ele envolveu minha cintura com seus braços fortes.
— É bom saber… É ótimo saber disso. – Eu sorri, em meio às lágrimas.
O silêncio dançou no quarto por alguns instantes.
— Eu não queria assumir pra mim mesmo… mas… eu amo você como nunca amei outra pessoa na minha vida inteira! Nunca senti por outra pessoa no mundo o que sinto por você! E nunca vou sentir… – Ele disse baixo, o rosto colado no meu.
Ele me fitou nos olhos, sorriu de leve, só com os cantos dos lábios cerrados. Retribuí o sorriso. Ele aproximou os lábios dos meus, pude sentir sua respiração descompassada sobre minha pele. Ouvi minha porta se abrir, meus olhos voaram na direção da porta, um choque.
— Vai… embora… daqui. – Meu pai entrara sem bater no meu quarto.
Ficamos pasmos, todos os três. Rapidamente Dominic saltou a janela e sumiu.
— O que pensa que estava fazendo?! – Meu pai gritou.
— Não sabe bater?! – Gritei.
— Emily! O que esse garoto fazia aqui?! – Ele andou até mim, seus passos eram pesados como os meus em direção a ele.
— Vá se acostumando, ele vai estar aqui quase todo o dia. – Eu disse pausadamente, num tom desafiador.
— Vim te trazer notícias. – Ele me fitou de modo imponente. — Vamos nos mudar. Amanhã. – Ele disse sério.
Fiquei quieta, não consegui dizer uma só palavra. Minha mãe entrou no quarto.
— Mãe, me diz que isso não é sério. – Eu a encarei friamente.
— Desculpe, Emily, mas é para o seu bem. – Ela se pôs ao lado do meu pai.
Ninguém me tira daqui! Agora saiam! – Eu gritei. — Os dois!
Eles saíram do meu quarto. Me sentei no chão e fiquei remoendo aquelas palavras. Ninguém me tiraria desse lugar. Não, não, não, não e não! Eu não iria sair daqui! Nem que eu tivesse que me virar sozinha, mas eu não sairia daqui. Se quisessem me tirar daqui teria que ser à força!
Depois de um tempo sentada no chão, ouvi um caminhão estacionar na frente da minha casa. Corri pra janela. Era o caminhão da mudança. Eu não tinha escolha! Ouvi meu pai falar para os moços que ajudariam a encaixotar tudo começar pelo meu quarto.
— Droga! Não tenho escolha! – Sentei no chão novamente.
Dominic saltou através da minha janela.
— Você não pode ir embora! – Ele correu pra porta, trancou-a e se sentou na frente dela, pra bloquear a passagem.
— Não tenho escolha! Eles vão me arrastar daqui! Vão encaixotar a metade das coisas e o resto amanhã cedo. – Expliquei. — Não quero ir, Dominic! – Abracei-o.
— Dependendo de onde você for, eu não posso ir. – Ele murmurou.
— Não pode? – Me afastei um pouco.
— De nós todos, só Andrews resiste à luz do sol. Só quem tem fortitude têm resistência suficiente pra não virar poeira. – Ele explicou.
— Que horror… – Murmurei.
Ouvimos alguém tentar abrir a porta do meu quarto.
— Estão querendo entrar… Não posso impedir. Pode destrancar a porta. E acho melhor você ir pra casa. – levantei-me.
— Tudo bem. – Ele suspirou e beijou minha testa. — Boa sorte. – Ele sorriu torto.
— Vou precisar. – Eu ri.
Ele girou a chave e correu pra janela. Um homem e uma mulher entraram e me ajudaram a dobrar as roupas de cama e encaixotar minhas roupas. O homem foi desmontando as coisas e a moça me ajudou a dobrar. Em instantes, meu quarto estava vazio. Sentei bem no meio dele. Não havia notado que ele era tão amplo. Desci as escadas e me atirei no sofá, onde provavelmente eu ia dormir.
— Mãe… já que eu não posso recusar me mudar, posso, ao menos, saber pra onde vamos? – Perguntei desanimada.
— Ohio. Não é muito longe daqui. – Ela disse atarefada encaixotando coisinhas miúdas.
— Ohio. Tudo bem. – Tentei disfarçar um leve alívio.
Subi as escadas até o local onde era meu quarto. Me apoiei na janela, mas logo me afastei. Dominic saltou através dela.
— Vamos pra Ohio. – Eu sorri de leve.
— Ohio?! E… vai aguentar o inverno de lá? – Ele torceu a face.
— Se aguentei você na mesma cama que eu, sim, vou. – Eu ri.
Ele riu baixo e desviou o olhar.
— Já ouvi falar que a temperatura mínima já registrada lá foi de trinta e oito graus negativos, em Milligan. – Ele sentou-se na janela.
— Eu sou forte. – Pisquei um olho só.
Ele riu e me abraçou.
— Eu já vou. Não quero causar mais problemas pra você. – Ele beijou minha testa.
— Tudo bem. Boa noite. – Sorri timidamente.
— Pra você também. Se precisar, me chame. – Ele deu as costas para mim.
— Dominic! – Chamei-o.
Ele se virou para mim.
— Você disse que se eu precisasse de você era só chamar. – Eu ri.
Ele riu e me deu as costas. Saiu pelo mesmo lugar por onde entrou.
Desci as escadas, minha mãe preparava o jantar. Sentei-me no sofá e liguei a televisão. Fiquei assistindo clipes na MTV.
Minha mãe terminou o jantar, comemos e eu subi pro meu – antigo – quarto. Sentei-me na janela, deixando as pernas suspensas pra fora do quarto. Fiquei admirando a lua, olhando os carros e as pessoas passarem por lá. Estava me sentindo muito sozinha, então comecei a cantarolar.
— Fazia tempo que eu não te via cantar. – Minha mãe entrou pela porta.
— Não me sentia sozinha, por isso não cantava. Só canto quando me sinto solitária. – Expliquei, olhando pro céu estrelado.
Minha mãe se sentou na janela ao meu lado.
— Mas você não está sozinha. Tem a mim e seu pai. – Ela seguiu meu olhar.
— Mãe, você sabe do que eu estou falando. – Eu a encarei.
— Aquele garoto não me passa confiança, Emy! E se ele for um cafajeste que só quer te usar? E se ele te fizer mal? – Ela começou a supor bizarrices.
— Mãe, Dominic não é assim. Eu já o conheço bem! Confio nele e gosto dele! – Voltei pra dentro do quarto.
— Emily, só falo isso pra você não… sofrer com… esse tipo de coisa. Não gostaria de ver sua filha sofrendo por um rapaz que a decepcionou, não é? – Ela me seguiu.
— Não, mãe, eu não gostaria. Mas conheço bem o garoto que eu gosto e sei que ele nunca faria isso. – Eu expliquei.
— Tudo bem. – Ela suspirou. — Se Dominic tiver a coragem de vir aqui, falar comigo e com seu pai, e dermos permissão para que ele namore você, você está com sorte. Na verdade, tudo depende de seu pai, por que eu já tenho minha decisão. – Ela disse, séria.
— Do que adianta? Vamos pra Ohio amanhã, esqueceu? – Baixei a cabeça.
— Se ele gostar de verdade de você, ele não te segue até lá? – Ela me fitou séria e saiu do quarto.
Fiquei quieta, pensando na pergunta da minha mãe.
— Acredita mesmo que eu não iria atrás de você quando se mudasse? – Ele entrou pela janela.
— Você iria? – Virei-me para trás, a expressão tensa.
Ele hesitou.
— Claro.
— Você hesitou. Minha mãe não pode estar certa. – Encarei-o.
— E não está! Eu venho aqui amanhã! Ou hoje! É! Vou descer lá agora mesmo. – Ele ia saindo pela porta do quarto.
— Espera! – Segurei-o pelo braço. — Quer que meus pais me matem?! Não podem saber que você voltou! – Murmurei.
— Ah, claro. Vou entrar pela porta então. – Ele sumiu sem que eu pudesse falar nada.
Fiquei só esperando que minha mãe me chamasse pra atender a porta.
— Emily! – Ela me chamou.
Desci as escadas, tensa. Abri a porta.
— Dominic. – Murmurei e sorri torto.
— Emily, como vai? – Ele sorriu.
— Ótima, entra. – Afastei-me da porta, liberando a passagem.
Ele se sentou no sofá.
— Pode chamar seus pais aqui, por favor? – Ele sussurrou sério.
— Tem certeza? – Murmurei também.
— Absoluta. – Ele respondeu convicto.
Andei até a cozinha, onde meus pais conversavam justamente sobre isso.
— Dominic está esperando vocês na sala. – Eu disse tensa.
Minha mãe ergueu uma sobrancelha. Meu pai chegou primeiro à sala, seguido por minha mãe, e, depois, eu.
Meus pais se sentaram à frente dele e o fuzilaram com os olhos. Comecei a estralar os dedos, o que eu sempre fazia quando estava nervosa.
— Senhor e senhora Anders. Emily me disse que a única condição pra que eu e ela possamos nos encontrar descentemente é que eu viesse aqui falar com vocês. Então… eu estou aqui. – Ele disse sério, direcionando o olhar para ambos.
— Prossiga, Dominic. – Minha mãe cruzou as pernas e os braços.
Ele suspirou, hesitou.
— Gostaria de… pedir permissão pra namorar sua filha, oficialmente. Ficaria muito feliz e honrado em receber… sua permissão. Prometo que vou respeitá-la e tratá-la do jeito como uma rainha deve ser tratada. – Ele permaneceu sério, os olhos fixos nos dois.
— Desde que não a faça perder compromissos, como a escola e as tarefas de casa, e, quando saírem, a traga de volta no horário combinado, por mim… tudo bem. – Meu pai o encarou, sério.
— Obrigada senhor Anders. – Ele sorriu.
— Mãe…? – Mordi o canto do lábio, nervosa.
Ela suspirou e baixou os olhos.
— Tudo bem. Se seu pai concorda… – Ela se levantou.
Dominic sorriu alegremente, eu o imitei. Nos levantamos todos.

— Muito obrigado, mesmo, senhor Anders. – Ele apertou a mão de meu pai. — E obrigado também, senhora Anders. Vou cuidar muito bem da Emy. Pode acreditar em mim. – Ele a fitou com aquele olhar, impossível de dizer “não”.
Ela sorriu, meio forçada, mas sorriu.
— Bem, acho bom eu ir. Não quero atrapalhar ninguém. – Ele disse timidamente. — Tenham uma boa noite.
— Eu levo você. – Sorri e saltei pro lado dele.
Andamos até a soleira, na rua.
— Meus parabéns. – Eu sorri.
— Ora, pelo que? – Ele inclinou a cabeça.
— Por conseguir… convencer meu pai a… me deixar namorar com você. – Eu ri.
— É dever de todo o jovem que deseja outra menina, agradar a seus pais, para que eles lhe deem permissão para o que ele tanto deseja. – Ele disse, o sorriso escondido no canto dos lábios.
— Que lindo. – Sorri.
— Não tanto quanto você. – Ele acariciou meu rosto.
Trocamos longos olhares, silenciosos, atentos e desejosos. Ele segurou meu queixo entre o indicador e o polegar e aproximou seus lábios dos meus.
— Emily! Entra, está tarde! – Meu pai berrou de dentro de casa.
Me assustei com o berro dele e saltei pra trás.
— Desculpe. Nos falamos amanhã. – Ele desanimou, aproximou-se de mim e beijou meu rosto rapidamente.
Acenei para ele enquanto o via sumir no breu. Entrei pra dentro de casa, os passos lentos e tortuosos, ainda tentando voltar pro chão. Olhei para minha mãe, ela parecia desolada por perder uma “luta”.
— Mãe… – Aproximei-me dela.
Ela me olhou nos olhos, um sorriso forçado nos lábios.
— Não precisava ter dito que sim. – Murmurei.
— Não era o que você queria? Agora, aproveite. – Ela sorriu.
Abracei-a. Pelo seu abraço, acho que ela estava com dificuldades de aceitar que a garotinha dela estava crescendo. Que em breve não seria mais sua garotinha. Que já não precisava tanto da mamãe.
— Sempre serei sua princesinha, mamãe. – Murmurei.
Ela sorriu e beijou meu rosto.
— Ah, querida. – Ela me tocou no ombro quando já ia saindo.
Virei-me para ela.
— Não precisa ir junto pra Ohio se não quiser. Já tem dezessete anos, sabe se cuidar sozinha. – Ela pareceu um pouco decepcionada.
— Não, mãe! O que é isso! Claro que… eu quero. – Fui forçada a dizer tais palavras.
— Mesmo? – Ela me encarou.
— Ahm… é! – Encenei uma falsa alegria.
— Ah, filha! – Ela me esmagou. — Que bom! Fico tão feliz.
Sorri forçado, tentando disfarçar. Tentei subir as escadas, mas não consegui.
— Mãe, desculpa! Eu não consigo mentir pra você. Não quero ir pra Ohio! Mas não tenho como ficar sozinha aqui! – Me sentei na escada e cobri o rosto.
— Ahm… Não precisa ir se não quiser. Eu já lhe disse isso. Pode… ligar quando precisar e… pedir alguma coisa pra nós que a gente vem voando! – Ela se pôs diante de mim.
— Não quero te magoar, mãe. – Eu a fitei, me levantando.
— Oh, filha. – Ela me abraçou. — Eu vou sentir saudades, mas você não é mais criança, não é? – Ela afagou meu cabelo.
Sorri para ela, ela sorriu para mim. Abracei-a novamente e subi as escadas. Desfiz as caixas das coisas do meu quarto – ou só o que eu consegui.
Sentei-me na janela, fitei as estrelas. Nunca mais me desfaria daquela vista linda à noite.
Voltei a arrumar as coisas do meu quarto.
— Quer ajuda? – Dominic estava atrás de mim enquanto eu desencaixotava as coisas.
— Vai ser útil. – Virei-me para ele.
Ele sorriu e me abraçou.
— Como vai ficar aqui? – Ele me soltou e já foi tirando coisas pesadas de dentro de algumas caixas.
— Ah, eu me viro. Minha mãe vai comprar móveis novos pra casa que compraram lá. Ela já estava querendo se desfazer de tudo, então… eu pego pra mim. – Dei de ombros e sorri.
— Sorte a sua. Mas sabe que, se precisar, pode ficar no quarto da Andy, não sabe? – Ele continuou fuxicando nas caixas.
— Não posso, não! Vou atrapalhar vocês. Fora que… não estou… com muita vontade de fazer estragos. Entende? – Pelos meus pensamentos ele deveria entender.
— Ah, imagina. Somos todos muito bem controlados. – Ele sorriu, exibindo os dentes perfeitos.
— Eu até confio em você, mas… é melhor não provocar seu… instinto. – Procurei as palavras corretas para não aparentar referência a um animal.
— Eu não sou tão… feroz assim. Não sou um leão faminto. Não agora… – Ele sorriu de leve.
— E quando você é? – Aproximei-me mais dele.
— Quando você está a exatamente essa distância de mim. – Ele fechou a cara e se afastou.
— Me desculpe. – Me encolhi. — Não queria te provocar assim. – Voltei a desencaixotar minhas coisas.
— Só o fato de você existir já é um grande desafio a cumprir. – Ele fitou o chão, sério.
— Não quero fazer você passar por isso, Dominic. Você sofre por minha causa! – Larguei as caixas e sentei-me no chão.
Ele se aproximou de mim e se sentou ao meu lado.
— Pare de se culpar pelo monstro que eu sou! – Ele murmurou, encarando o chão. — Você não tem culpa de eu querer… – Ele se calou.
— Claro que tenho… – Eu murmurei. — E é por isso que eu tenho uma proposta a lhe fazer. – Eu o fitei.
— Nem pensar. – Ele se levantou.
— Nem sabe o que vou dizer! – Protestei e me levantei.
— Claro que sei. Esqueceu? – Ele me fitou, ainda sério.
— Por favor! Vai ser melhor pra você! Não vai querer me matar, se você se preocupa tanto com isso. – Tentei fazê-lo mudar de ideia.
— Emily, você não sabe a vida maravilhosa que tem. Crescer, mudar, evoluir… – Ele suspirou. — Nós não crescemos, não mudamos, não evoluímos em sentido algum! – Ele disse, entre os dentes apertados.
— Ok. Me responda uma pergunta, tudo bem? – Eu o fitei.
— Muito, mas não a ponto de transformar você em um monstro sanguinário. – Ele desviou os olhos.
— Essa sua habilidade, às vezes, acaba com as minhas expectativas. – Revirei os olhos.
— Emily, esqueça essa ideia. Não posso fazer isso! Além disso… posso não conseguir… te deixar viva. – Ele murmurou.
— Como assim? – Dei um passo para trás.
— Eu vivo do que corre em suas veias. Pra você ser como eu, preciso te morder. – Ele explicou, sem jeito e direto.
Não falei uma palavra. Só suspirei e baixei a cabeça.
— Não vou desistir tão fácil quanto você pensa. – Andei até a janela.
— Então vou ter que partir pra outra estratégia. – Ele estava atrás de mim, os braços enrolados na minha cintura e o queixo escorado no meu ombro.
— Tenta… – Eu ri de leve.
Ele me virou para ele, docemente, e beijou o alto da minha cabeça. Mesmo que isso não fosse novidade pra mim, ainda me sentia nervosa perto dele. Não sei se ele era quem provocava aquele sentimento em mim ou isso vinha mesmo de mim.
— Por que ainda me sinto nervosa perto de você? – Sussurrei.
— Não sei, mas não sou eu quem faz isso. – Ele riu baixo.
— Amo você. – Eu murmurei, quase inaudível.
— Não tanto quanto eu te amo. – Ele afagou meu cabelo e beijou meu pescoço, o que me deixava ainda mais nervosa, sempre.
Tremi por alguns segundos e me afastei.
— O que houve? – Ele me fitou, os olhos prateados perfurando os meus olhos.
— Tenho medo quando você faz isso. – Mordi o lábio inferior.
— Isso? – Ele sumiu da minha frente, apareceu atrás de mim e beijou novamente meu pescoço.
Senti minha pele arrepiar.
— É… isso. – Sussurrei.
— Desculpe. – Ele se afastou, sério.
— Não precisa pedir desculpas. – Aproximei-me dele novamente.
— Se te causo medo, como não devo pedir desculpas? – Ele me olhou e sorriu.
Encarei-o e ri. Ele me deixava sem palavras; sempre tinha razão, por menos que eu gostasse do proposto.
— Mas então, vai me perdoar? – Ele me fitou nos olhos.
— Ainda pergunta? – Dei ares de obviedade.
— Preciso ouvir de você. Sempre preciso ouvir suas opiniões. – Ele murmurou.
— Claro que perdoo. Mesmo que eu não ache necessário. – Dei de ombros.
Ele rosnou baixo e beijou meu rosto. Eu ri alto.
— Shh. Vai alertar sua mãe. Ela pensa que eu já fui embora, lembra? – Ele escorou a testa na minha e sussurrou.
Senti seu hálito levemente frio sobre minha pele.
— Esqueci disso. Até parece que eu lembro de alguma coisa quando você está aqui. – Eu murmurei.
Rimos baixo e voltamos a arrumar as coisas. Não sei como, mas em instantes meu quarto estava todo montado novamente. Olhei ao meu redor e ri.
— Como fez isso? – Sentei na cama, checando se estava bem montada.
— Decorei seu quarto de um lado a outro, de cima a baixo… – Ele se sentou ao meu lado.
Deitei na cama, que parecia mais confortável, encarei o teto. Dominic se levantou e andou até a janela. Levantei-me rapidamente.
— Já vai?! – Corri até ele.
— Ângela está me procurando. Quer falar com você. – Ele olhava sério pra fora.
Olhei pra fora, mas não havia ninguém. Vi quatro pontos prateados reluzirem no escuro.
— É particular. Tenho que ir. – Ele saltou a janela.
Não pude dizer nada. Me afastei da janela. Katherine e Ângela entraram.
— O que houve? – Eu me preocupei.
— Me conta isso direito! Como você e o Dominic começam a namorar e eu não fico sabendo de imediato?! – Ângela estava histérica.
— Ah! Isso! Pensei que fosse algo mais grave. – Eu suspirei e sorri.
— Ahm… depende do ponto de vista. – Katherine espremeu os olhos e torceu a cara.
— Como assim? – Ergui uma sobrancelha só.
— A segunda notícia pode não ser tão boa. – Ângela me explicou.
Inclinei a cabeça pro lado.
— Derick gosta de mim. – Ângela encarou o vazio. — E você sabia disso. – Ela me fitou. — Por que não me contou? – Ela murmurou afoita.
— Teria te contado se ele não tivesse me ameaçado de morte. – Murmurei. — Dominic e Derick quase se mataram por causa disso. Dominic se enfureceu quando soube do que Derick fez pra eu não te contar nada. – Tremi ao me lembrar daquela cena horrenda.
— Ah… desculpa. Não sabia desse… detalhe. – Ela ficou desconcertada.
— Droga… – Esbravejei.
— O que foi? – Katherine se aproximou de mim.
— Derick vai me matar. Mesmo se você soubesse por mim ou por você mesma. Droga! – Dei uma forte pisada no chão.
— Ah, ele não vai. Vai ter que se ver comigo! – Ângela encarou a janela.
— Não, por favor. Deixa isso pra lá. Eu nem tenho tanta importância assim pra… isso tudo. – Inventei qualquer desculpa.
Ângela me encarou e andou até a janela. Teve a mesma expressão do irmão naquela noite ao vê-lo se aproximar da janela.
— Ângela… o que quer? – Ele estava sem jeito.
— Fiquei sabendo de… algumas coisas interessantes. – Ela estava usando uma persuasão incrível.
Deu alguns passos até ele e o encurralou na janela novamente.
— Gosta de mim? – Ela murmurou.
Ele não respondeu. Olhei para Katherine, ela sorria maldosamente.
— Muito. – Ele baixou a cabeça.
Ângela se afastou. Se pôs de costas para ele, ele me encarou e rosnou.
— Quem te disse, Andy? – Ele continuava olhando pra mim.
— Ninguém. Eu mesma soube. – Ela se virou para ele novamente.
— hmm, sei. Acredito. – Ele murmurou.
Ela voou pra cima dele e o agarrou pelo pescoço.
— Não acredita em mim, Derick? – Ela aproximou o rosto dele.
Ele ficou mudo. Ela o soltou e riu alto. Não sabia desse ladinho mau dela.
— Vamos Katherine. – Ângela saltou a janela.
Katherine encarou Derick por alguns instantes, ele a fitou também. Ela sacudiu a cabeça algumas vezes e seguiu Ângela.
Ele estava pasmo, meio bobo.
— Juro que não disse nada pra ela! – Eu me aproximei.
— E como mais ela saberia?! – Ele me encurralou contra uma parede.
— Eu, eu não… não sei! Derick, por favor! Sério! – Eu murmurei.
Ele me encarou, sério. Aproximou os lábios do meu ouvido.
— Deu sorte hoje… Estou retirando a ameaça agora. Do que vai adiantar te matar, não é… – Ele sussurrava no meu pescoço, fazendo-me arrepiar.
Ele afastou o rosto de mim. Fitei-o nos olhos, sem reação. Era incrível o que a tal da presença podia fazer comigo.
— Olha… descobri um jeito de te fazer ficar quieta. Agindo como ele age. – Ele sorriu maldosamente.
— Vocês nunca serão iguais. – Tentei desviar os olhos, mas não consegui.
— Mas você fica assim quando está com ele não fica? Ah, não. Com certeza. Comigo, você sofre mais. – Ele sorriu e exibiu os dentes brancos e perfeitos.
Suspirei e criei coragem para empurrá-lo pra longe de mim.
— Vai embora! Já acertou suas contas, agora sai. – Não me arrisquei a olhar praqueles olhos outra vez.
Ele se aproximou de mim, ergueu meu rosto, me obrigando a olhar pra ele, e sorriu.
— Estou só brincando com você. – Ele mordeu o lábio inferior. — Mas já te digo: Fique esperta, tudo bem? – Ele assumiu ares mais doces.
Assenti com a cabeça rapidamente. Ele sorriu e beijou minha testa de leve. Fiquei meio tonta, desnorteada.
— Pedi pra você voltar aqui outra vez? – Dominic estava parado, encarando Derick.
— Não, mas sua irmã sim. Tinha contas a acertar com ela e com essa garota maravilhosa aqui. – Derick não tirou os olhos de mim.
Sorri, meio sem jeito. Ouvi Dominic grunhir e correr pra cima do Derick. Derick, por sua vez, sorriu malignamente e se levantou rápido.
— Vai embora daqui! Antes que eu faça alguma bobagem. – Dominic murmurou.
— Dominic, aceite. Você perdeu. – Derick deu ares imponentes.
— Não o escute, Dominic! – Eu gritei. — É mentira!
— Ela só está querendo te enganar. Ela não ama você. – Ele estava sussurrando.
Dominic se afastou de Derick e se escorou em uma parede. Olhou para mim e sumiu.
— O que você fez?! – Eu disse pausadamente.
— Acabei com ele. Não é demais? – Ele riu.
Fiquei sem palavras. Sentei-me no chão e entrelacei os dedos nos meus cabelos.
— Acha que… eu abusei? – Derick pareceu preocupado comigo.
— É pouco. – Eu o encarei.
— Emily, desculpa. Só queria… ver a reação dele. – Ele se ajoelhou na minha frente.
Eu o encarei. Precisava de um refúgio. O único presente era Derick, então não tive outra saída. Joguei-me sobre ele e o abracei. Ele ficou meio rígido, mas logo me abraçou também.
— Me perdoe. – Derick sussurrou no meu ouvido.
Afastei-me dele, ainda com os braços enrolados em seu pescoço. Ele tinha um olhar tentador.
— Vá… Não quero fazer mais bobagem. – Me levantei e me deitei na cama.
Derick apareceu sentado, ao meu lado.
— Tudo bem, mas sabe que, se precisar, eu estou aqui. – Ele afagou meu cabelo e sorriu.
— Sim, eu sei. – Sorri de leve.
Ele aproximou o rosto de mim e beijou minha testa vagarosamente. Fechei os olhos, tentando não me entregar aos encantos dele. Logo ele sumiu. Sentei-me na cama e agarrei meus cabelos.
— Que droga… O que foi que eu fiz… – Meu coração apertou-se no peito.
Corri até a janela, procurei Dominic com os olhos, porém não o encontrei. Por pensamento o chamei, mas ele não apareceu. Caí de joelhos diante da janela e escondi meu rosto.
— Dominic, por favor. Sei que pode me ouvir. Me perdoe! Eu amo você! Só você! Você o conhece, sabe como ele age. Por favor. – Eu murmurei, minhas lágrimas começavam a rolar por minha face até caírem no chão.
Senti um vento vindo da janela e olhei pra cima rapidamente. Dominic me encarava ferozmente, agachado na janela.
— Você o ama? – Ele perguntou sério.
— Não! Eu amo você! Você sabe disso! – Eu me levantei.
Ele me agarrou bruscamente pela cintura e me beijou, meio violentamente, mas pude sentir amor em seus lábios. Abracei-o forte.
— Eu te amo, minha vida. Você é tudo pra mim! – Ele murmurou.
— Eu te amo também! Te amo muito! – Murmurei, chorando.
Ele me pegou nos braços e me pôs na cama, seus movimentos eram leves. Ele se afastou um pouco de mim, mas, naquele momento, não queria vê-lo um milímetro longe de mim. Agarrei-me ao seu pescoço e beijei seu rosto.
— Perdão por duvidar de você. Eu deveria saber que ele tentaria me ferir fazendo isso. – Ele murmurou e beijou meu pescoço.
Mas não foi simplesmente um beijo, foi aquele beijo! Pude sentir seus lábios frios sobre minha pele ardendo quente, mas, além disso, pude sentir um coração batendo dentro dele, mesmo que o dele já não batesse mais. Pude sentir que ele realmente me amava e me desejava para sempre, e eu também o queria pra sempre!
— Dominic, por favor. Quero você pra sempre perto de mim. Me transforme, por favor. – Murmurei.
— Não Emily. Eu te amo assim, quente, viva, doce e meiga como você sempre será… – Ele sibilou.
— Como serei até minha morte. – Completei. — Eu quero ficar pra sempre com você. Por favor! A única coisa que eu quero mais do que você é te ter pra sempre. – Tentei convencê-lo.
— Emily, já disse pra esquecer isso. Eu não posso te transformar! – Ele me fitou nos olhos.
Desisti de tentar argumentar com ele e me acomodei em seu corpo frio novamente. Eu estava aflita demais pra sentir sono, então fiquei bem acordada, escorada em seu peito, sentindo sua respiração. Comecei a cantar, ele se afastou um pouco de mim.
— Se sente sozinha agora? – Ele me fitou nos olhos, preocupado.
— Não, jamais! Com você eu nunca me sinto sozinha. – Eu o encarei nos olhos também.
— Está cantando. Disse pra sua mãe que só canta quando se sente sozinha. – Ele me abraçou.
— Estou feliz por que está aqui, por isso estou cantando. Acho que canto nos extremos. – Eu sorri.
— Ah, pensei que não te fazia feliz. – Ele afagou minha testa com seu rosto frio.
— Você me faz feliz, sim. Sou muito feliz quando estou com você. – Acariciei seu rosto com o meu.
— Que bom. – Ele suspirou.
Ele me fitou nos olhos por alguns instantes.
— Me deixa fazer isso direito. – Ele riu de leve.
Eu ri também. Ele enrolou as pontinhas do meu cabelo enquanto esquadrinhava meu rosto com olhos amáveis. Entrelaçou seus dedos no meu cabelo e aproximou seus lábios dos meus. Fechei os olhos, meio temerosa. Ele tocou, bem de leve, meus lábios com os dele. Soltou meu cabelo e me abraçou pela cintura. Agarrei-me ao seu pescoço.
Ele soltou minha cintura e desatou o nó das minhas mãos atrás de sua nuca, arquejando como se fosse um esportista humano comum.
— O que foi? – Continuei de olhos fechados e me aproximei dele novamente.
Ele encostou a testa na minha, ainda arfando.
— Se eu continuasse, podia matar você. Não quero isso. – Ele parecia agitado.
— Você é forte, aguenta isso. – Eu o beijei delicadamente.
Ele me beijou algumas vezes e desviou o rosto.
— É melhor eu parar… Vou acabar te machucando. – Ele se levantou, rígido.
Encolhi as pernas e as agarrei, sorrindo timidamente. Ele se virou para mim.
— Que bom que está feliz. Posso sentir aqui. – Ele pôs a mão sobre o tórax.
Eu ri delicadamente.
— Está tarde, não é melhor dormir? – Ele voltou pra perto de mim, deitando do meu lado.
— Não consigo ter sono. Não com você aqui. – Eu acariciei seu rosto com as costas da mão.
— Ah, então eu vou embora. – Ele riu.
— Não vai não! – Pulei sobre ele fazendo-o ficar imóvel.
Eu sabia que, no momento em que ele bem entendesse, podia me fazer voar longe só com um movimento, mas ele não queria partir.
— Tudo bem, então eu não vou. – Ele ficou sério.
Mordi o lábio inferior e aproximei meu rosto dele. Ele se levantou um pouco e me beijou rapidamente. Sorri e o beijei delicada e intensamente. Vi que ele começou a se agitar demais e me afastei. Saí de cima dele e me deitei, de costas para ele.
— Boa noite. – Eu disse, sem jeito.
— Você está aprendendo… – Ele suspirou. — Foi por muito pouco… mas foi maravilhoso. – Ele sussurrou sobre meu pescoço e enrolou o braço na minha cintura.
Eu ri baixo e me virei pra ele.
— Eu amo você. – Sussurrei.
— Eu amo você também. – Ele sussurrou sobre meus lábios.
Comecei a ficar sonolenta. Aconcheguei-me junto ao seu corpo e fechei os olhos. Ele acarinhava meu cabelo delicadamente, o que me deixava com mais sono ainda. Não vi mais nada depois daquilo. 

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