sábado, 31 de março de 2012

Terça-Feira, 16 de abril

Depois de uma noite bem dormida, levantamos para o desjejum. A comida era maravilhosa, nada de muito diferente, pois o hotel se especializava em outras culturas, inclusive a nossa. Depois de tomarmos o café, meus pais foram explorar o hotel e planejar um tour pela cidade. Eu, sem nada para fazer, sentei-me em uma poltrona na sala de apresentações do hotel. Na hora lembrei-me do hotel que vi quando cheguei ontem à noite. Como ainda era cedo, resolvi explorá-lo – não queria correr o risco de ver alguma assombração.
Levantei-me da poltrona rapidamente e andei a passos ligeiros até o elevador. Esperei ansiosa até o térreo. Quando a porta se abriu corri até o lado de fora do hotel. A luz do sol forte bateu nos meus olhos cegando-me por alguns segundos. Andei até a frente do hotel e olhei-o de fora. Antes da porta havia uma placa que dizia: “Hotel Transilvânia I; abandonado em 1851. Acredita-se que ele seja mal-assombrado, por isso foi abandonado e quem entrou aqui nunca mais saiu.”
Quando terminei de ler a placa arregalei os olhos, meu pulsar ficou acelerado e minha curiosidade foi atiçada. Meu pensamento queria entrar, mas não meu corpo. Meus olhos fitaram a porta com vidros embaçados pela poeira e cheios de teia de aranha.
Respirei fundo, tomei coragem e entrei. Meus passos eram vacilantes, minha respiração, tomada pelo medo, se desgovernava.
— Olá? – Minha voz saiu falha.
Meu grito ecoou pela sala vazia, com um balcão ao centro e um piano ao fundo, acompanhado de poltronas de tecido intacto. Continuei andando e observando atentamente a cada detalhe, desconfiando até de minha própria sombra e imaginado a movimentação de hóspedes por ali. Ouvi algo cair no andar de cima. Meu coração acelerou, ouvi passos descendo as escadas e corri para trás do piano ao fundo do enorme salão.
— Tem alguém aí? – Uma voz feminina e doce soou pelo salão.
Levantei-me devagar e andei em direção à garota que estava de costas para mim. Toquei no ombro da jovem de cabelos longos e negros e pele lívida. Ela, delicadamente, virou-se para trás e sorriu, não parecendo nem um pouco assustada.
— Olá? – Eu sussurrei temerosa.
— Oi! Pensei ter ouvido uma voz, era você? – Ela era lindíssima. Tinha olhos prateados, seu sorriso era reluzente e sua voz era doce e acolhedora.
— É – Eu disse aliviada. — Era eu. Ei… Você deixou algo cair lá em cima? – Perguntei curiosa.
— É, fui eu sim. Assustei você? – Ela continuava sorrindo.
— Bem… Um pouco… – Tentei disfarçar meu pavor.
— Ah! Desculpe-me! Olha como sou desligada! Esqueci de me apresentar! Sou Ângela D’mitri. Você é? – Ela estava animada.
— Emily. Emily Anders. Muito prazer. – Estendi a mão, tímida.
— Muito prazer! – Ela apertou sua mão fria e suave contra a minha. — Quer vir comigo explorar o hotel? – Ela me propôs.
— Vamos lá! – Eu a segui.
Subimos as escadas, que rangiam sem parar. As escadas levavam a um corredor muito aconchegante com um carpete vermelho estendido até o final dele. Apesar de muito antigo, o hotel era muito bem conservado.
— Como esse lugar pôde resistir ao tempo? – Indaguei, deslizando minha mão sobre a parede a minha direita. — Parece até que foi construído há dois anos… – Comentei.
— Esse lugar é tido como ponto turístico para os visitantes do Hotel Transilvânia II. Ele está aqui desde que… nem pensava em nascer! – Ela pensou um pouco antes de responder.
— A placa da entrada… ela é verídica? – Perguntei curiosa e um pouco assustada.
— Em parte. Que ele foi abandonado em 1851 é verdade, mas que ninguém voltou para contar como é… claro que não! Venho aqui sempre. – Ela deu pulinhos à frente de uma porta.
— E a respeito de… essa coisa de assombração? – Engoli seco e a segui.
Entramos em um dormitório, onde havia uma cama de casal coberta por uma colcha de seda vermelha e levemente grossa. Passei a mão por sobre a colcha; ela era muito macia e estava em perfeito estado.
— Ah, isso eu já não sei. – Ângela respondeu a pergunta anterior, com a face fechada.
Suspirei um pouco assustada. Ângela se assentou suavemente na cama, em seguida deitou-se sobre ela.
— Ah… como é macia! – Ela espreguiçou-se sobre a cama. — Vem! Senta aqui. – Ela levantou-se em um movimento suave e indicou-me o lugar onde eu deveria sentar.
Sentei-me no lugar indicado para mim com toda a calma do mundo, para manter organizada a cama com detalhes dourados.
— É raro ver uma pessoa corajosa por aqui! Meus parabéns! – Ela riu.
Conversamos mais um pouco. Olhei para meu relógio: eram 20h30min. Eu estava bem atrasada!
— Ângela, eu tenho que ir! – Abracei-a como forma de despedida e desci as escadas correndo.
Quando estava em frente à porta, pensei ter ouvido alguém conversando no andar de cima. Era tarde demais para voltar e verificar. Corri até a entrada do Transilvânia II e apertei o botão de chamada do elevador. Apertei-o mais de cinco vezes seguidas, pensando nos meus pais.
— Acalme-se, menina! O elevador já vai chegar! – Uma camareira que parou ao meu lado disse suavemente.
Desisti de esperar o elevador e subi até o quarto andar pelas escadas mesmo. Quando cheguei ao andar desejado, joguei-me sobre uma espreguiçadeira logo ao lado da porta que dava acesso as escadas.
— Ah, estou exausta! – Sussurrei.
— Oi Filha! Aproveitou bastante? Esperamos você para o almoço, mas você não apareceu! – Minha mãe sentou-se em uma poltrona ao meu lado. — Onde você estava?
— Oi, mãe! – Soltei, exausta. — Eu estava naquele hotel ali do lado. – Indiquei com o polegar o lado em que hotel ficava.
— Nossa! Como você tem coragem de ir lá! Dizem que é mal-assombrado! – Minha mãe murmurou.
— Eu não vi nada de mais! – Eu ri. — Fui lá pela manhã e corri pra cá. Nem tive tempo de notar nada. Fiquei conversando com uma garota… Ângela. Ela é bem legal! Tem que conhecê-la. – Eu me levantei.
— Tudo bem, mas só amanhã, estamos atrasadas para o jantar. – Ela pegou na minha mão.
Meu estômago roncou e nós rimos. Descemos as escadas e as mesas estavam sendo servidas pelos garçons ao som de um instrumental de piano.
Andamos até uma mesa perto de uma janela que dava para o lado do Transilvânia I. Sentei-me de frente para a janela e meus pais aos lados. A música soava doce aos meus ouvidos, era uma melodia romântica. Com a música, mal notei que a comida havia chegado a nossa mesa a pedido de meu pai. Só notei que já podia comer quando minha mãe deu um leve cutucão em minha mão que sustentava minha cabeça. Meus olhos estavam fechados, eu só prestava atenção na música.
— Filha! Presta atenção aqui! – Minha mãe estalou os dedos.
Pisquei algumas vezes e comecei a comer. Quando terminamos de comer, notei uma movimentação em torno do piano. A música parou. Na hora “voltei pra Terra”. Olhei ao meu redor e escutei burburinhos como “meus parabéns!” ou “você é muito bom!”.
— Vamos cumprimentar o pianista! – Meu pai, muito interessado em música, levantou-se da cadeira e puxou a mim e minha mãe pelo braço.
Mal pude ver quem era, pois o tal pianista misterioso estava cercado de fãs. Só tive a chance de me aproximar dele quando todos já haviam se dispersado e meus pais o cumprimentaram.
— Meus parabéns, meu rapaz! – Meu pai apertou a mão do jovem pianista. — Você tem um futuro brilhante a sua frente, meu jovem! – Os olhos de meus pais brilhavam enquanto falavam com o rapaz.
— Vai filha! Cumprimente-o! – Minha mãe me empurrou para perto dele.
Olhei bem no fundo dos olhos prateados do rapaz, jovem, de sorriso espetacular!
— Meus parabéns… – Estendi a mão para ele.
Ele curvou sua fronte diante de mim em sinal de respeito.
— Estou apenas fazendo meu trabalho, moça. – Ele tinha uma voz tão linda que me arrepiou!
Sorri timidamente.
— Posso lhe fazer uma pergunta? – Eu tentei conter meu gestual.
— Quantas você quiser. – O garoto disse sorrindo.
— Qual é o seu nome? – Eu estava vidrada nos olhos daquele garoto, que parecia conhecer.
Dominic D’mitri, senhorita. Posso saber o seu? – Ele falava doce.
— Emily… Emily Anders. – Respondi tranquila, sem notar que já havia ouvido aquele sobrenome.
Ele virou-se de costas, querendo se retirar, porém o interrompi.
— E… – Ele virou-se para olhar para mim. — Quantos anos você tem? – Voltei a falar docemente.
Ele hesitou.
— Dezessete, e você?
— Dezessete… – Assenti.
— Interessante… Bom, tenho que ir. Tenham uma boa noite. – Delirei com sua voz magnífica.
— Boa noite…
Eu dava rápidas olhadas para trás, somente para ver para onde Dominic iria, porém ele ficou para organizar os instrumentos. Eu e meus pais voltamos para o quarto, nos arrumamos para dormir e nos deitamos.

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